Softwares russos solucionam problemas globais

Foto: Kommersant

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Embora as exportações anuais de software da Rússia totalizem atualmente os meros US$ 4 bilhões, vários gigantes globais – incluindo a Apple – contam com a ajuda de programas russos.

“Os russos são há muito tempo conhecidos por sua persistência e abordagem pouco convencionais. Se temos necessidade de resolver um problema, nós o faremos a qualquer custo”, diz Artiom Liuftin, da consultora moscovita Mobile Research Group.

Um exemplo disso é Gueórgui Patchikov,  criador da Parallel Graphics. Em 1999, sua máquina de lavar roupas quebrou. Naquela época, técnicos competentes eram raridade no mercado e, por isso, Patchikov resolveu consertá-la ele mesmo. 

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“Não tinha ideia do que fazer. O manual de instruções era em francês e não havia tradução. Mesmo sendo formado em engenharia, estava completamente perdido”, disse Patchikov à Gazeta Russa. Foi então que teve a ideia de criar manuais animados em três dimensões com ilustrações detalhadas de todas as etapas do processo, traduzidos em diversas línguas. No mesmo ano, fundou a empresa Parallel Graphics. 

Doze anos depois, lançou o Cortona 3D, um programa de computador que converte e produz descrições técnicas de procedimentos no formato de animações tridimensionais.

Em 2001, a Boeing assinou um contrato com a Parallel Graphics para a conversão de seus documentos técnicos. Pilhas de papel foram substituídas por guias interativos que permitiam um estudo detalhado e realista da aeronave em 3D, executavam ações virtualmente e proporcionavam um ambiente visual ajudando os usuários a se familiarizar com os procedimentos de manutenção para diversos componentes dos aviões.

A Parallel Graphics afirma que o método diminui o custo de desenvolvimento dessa papelada em 80% ao reduzir o tempo de aprendizagem e falhas.

“Assim que o contrato com a Boeing expirou, a Airbus estava batendo em nossa porta”, comenta Patchikov.

Outros companhias, como a General Electric, Honda, Siemens e Business Jet, seguiram a mesma tendência. Em 2010, o volume de negócios da Parallel Graphics atingiu a marca dos US$ 5 milhões e mais de 800 funcionários.

Exportando algoritmos

As empresas russas são mundialmente conhecidas por desenvolver soluções complexas empregando algoritmos sofisticados. Nenhum campo ilustra de maneira mais clara esse conhecimento do que os programas antivírus, que devem não só reconhecer com precisão e remover itens nocivos, mas também identificar vírus antes desconhecidos ou polimórficos. As empresas russas Dr. Web e Kaspersky Lab são líderes de mercado nesse setor.

Uma criação diferente de algoritmo é oferecida pela ABBYY, uma companhia russa que desenvolveu o software de reconhecimento óptico de caracteres FineReader. A primeira versão desse produto foi lançada no final de 1993 e gradualmente ganhou aceitação dos usuários de escâneres. Atualmente, o FineReader funciona em cerca de 190 línguas e as receitas anuais da empresa são estimadas em mais de US$ 100 milhões.

Ao desenvolver os algoritmos de reconhecimento, a empresa formulou ainda um subproduto, o popular dicionário ABBYY Lingvo.

Entre as companhias menos conhecidas, porém não menos notáveis, estão CBOSS (sistemas de automação para o setor de telecomunicações), Paragon Software (ferramentas de disco rígido), PROMT (tradução), DocsVision (serviços de documentação eletrônica) e Spirit Dsp (software de voz, vídeo e outros dados).

Matriochka dos softwares

Um mercado onde as empresas de tecnologia russas desfrutam de particular sucesso é o de jogos para computador, antes nas plataformas tradicionais e atualmente na esfera on-line.

Foi o russo Aleksêi Pajitnov que criou em 1985 a primeira versão do Tetris, um dos jogos eletrônicos mais populares de todos os tempos.

A quinta edição do famoso “Heroes of Might and Magic” foi desenvolvida pela empresa russa Nival Interactive em parceria com a francesa Ubisoft. No total, mais de 2 milhões de cópias licenciadas do game foram vendidas no mundo inteiro.

Outro desenvolver russo de jogos eletrônicos, a ZepoLab, também experimentou o sucesso com o “Cut The Rope” em 2010. O aplicativo, extremamente popular entre os usuários de smartphones e tablets, recebeu mais de 100 milhões de downloads e gerou uma receita superior a US$ 85 milhões. Tais índices permitiram que se tornasse o segundo game para celular mais popular do mundo depois de “Angry Birds”.

Só começando

 

Os desenvolvedores de software russos exportam em torno de US$ 4 bilhões por ano. Entretanto, o mercado russo ainda é relativamente pequeno.

Nos EUA, só a Microsoft atrai US$ 69,9 bilhões. No entanto, em alguns segmentos, os programadores russos estão começando a levar a melhor na disputa com a gigante norte-americana dos programas para computador. O software de servidor produzido pela companhia russa Nginx, por exemplo, venceu a concorrência com o produto equivalente da Microsoft e ocupa agora o segundo lugar, perdendo apenas para o rei dos softwares de servidores Apache.

“Resolver problemas complexos, análises profundas de grandes volumes de dados, projetar algoritmos – essas são as áreas do mercado de TI onde a Rússia pode competir internacionalmente”, diz Aleksandr Galitski, criador do fundo Almaz Capital Partners. 

“Isso porque o país oferece educação de primeiro mundo nas áreas de matemática e física, que pode ser usada para resolver os problemas mais complexos de desenvolvimento de software. Os programadores da Índia e da Coreia do Sul também são muito bons, mas se você tem algum problema com o qual ninguém está disposto a lidar ou você ainda não tem um conceito claro do produto acabado, então ‘Bem-vindo à Rússia’”, afirma Aleksandr Vovkula, diretor técnico da Parallel Graphics.

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