Pável Gratchov (à esq.) e Boris Iéltsin (à dir.) Foto: RIA Nóvosti
Primeira pessoa a ocupar o cargo de ministro da Defesa da Federação Russa, Pável Gratchov havia sido nomeado para o posto pelo então presidente do país, Boris Iéltsin.
Sua gestão à frente do Ministério da Defesa foi marcada por uma série de eventos relevantes para a histórica contemporânea do país, como um assalto ao edifício do parlamento em 1993, o início da Primeira Guerra da Tchetchêniae a retirada das tropas soviéticas da Europa, entre outros.
No entanto, Pável Gratchov concentrou seus esforços na reforma substancial das Forças Armadas que ganhou força após o fim da Guerra Fria.
Raio-X
Nascido em 1º de janeiro de 1948, Pável Gratchov serviu nas Tropas Paraquedistas desde 1965 e participou de operações militares no Afeganistão. Entre 1992 e 1996, ocupou o cargo de ministro da Defesa da recém-constituída Federação Russa.
Condecorado na URSS com a medalha Herói da União Soviética, Gratchov foi o primeiro militar da Rússia a receber a patente de general do Exército.
Acabou sendo bastante criticado colocar as tropas nas ruas de Moscou durante as revoltas de outubro de 1993, como também pelas ações do exército durante a Primeira Guerra da Tchetchênia.
Gratchov abandonou o posto de ministro em junho de 1996. Entre 1997 e 2007, foi conselheiro da empresa de exportação de equipamento bélico Rosvoorujenie, atualmente Rosoboronexport.“Ele enfrentava o difícil desafio de reformar o exército soviético e adaptá-lo para atender às demandas do novo país”, relembra o presidente da Comissão de Defesa da Duma (câmara baixa do parlamento russo) e almirante Vladímir Komoédov.
O presidente do Conselho Central da União de Paraquedistas Russos, Pável Popóvski, conta que Gratchov usou suas relações especiais com o então presidente do país, Boris Iéltsin, para impedir a privatização da indústria bélica apregoada por muitos políticos da época, inclusive o então vice-primeiro-ministro e o ministro das Finanças.
“Essa foi uma das razões pelas quais o general se tornou alvo de críticas no governo”, continua Popóvski.
Como resultado, Pável Gratchov, assim como o próprio Boris Iéltsin, ficou na memória dos russos como uma das mais contraditórias figuras da história recente do país.
“Eles tomaram decisões de acordo com as experiências soviéticas e visões. Agiram sempre contra o tempo, assumindo responsabilidade em situações indesejadas pelos demais”, arremata o comentarista da rádio Kommersant FM, Konstantin Eggert.
Aliado de Iéltsin
A carreira militar de Pável Gratchov começou em 1965 e atingiu seu auge no final do século 20. Entre 1981 e 1983, combateu no Afeganistão e foi condecorado com a medalha Herói da União Soviética. Nos anos 90, foi nomeado comandante das Tropas Paraquedistas da Rússia.
Durante a tentativa golpista em Moscou, em agosto de 1991, passou para o lado de Boris Iéltsin, o qual apoiou também durante os acontecimentos de 1991 a 1993.
“Fez isso pela simples razão de acreditar sinceramente que assim seria melhor para o exército e por encarar Iéltsin como um homem capaz de estabilizar a situação no país”, diz o comentarista militar da agência RIA-Nóvosti, Konstantin Bogdânov.
A crise política que eclodiu no país em outubro de 1993 e resultou em uma série de confrontos armados no centro da capital russa, bem como assalto à sede do parlamento, colocou Gratchov perante uma escolha ainda mais difícil.
“Foi ele quem mandou usar o exército para repor a ordem pública em Moscou. Não sei em que país estaríamos vivendo hoje, se a vitória naquele confronto tivesse sido conseguida pelas unidades paramilitares comandadas pelo general Albert Makachov e pelo líder comunista radical Víktor Anpilov”, contrapõe Konstantin Eggert.
Campanha tchetchena
Em 1994, o Ministério da Defesa liderado por Pável Gratchov foi envolvido em uma nova crise: a Primeira Guerra da Tchetchênia. Sem conseguir evitar a escalada da violência na região, o governo enviou um contingente de tropas que começou a sofrer baixas logo nos primeiros dias da operação militar.
“Gratchov tinha que escolher entre permitir que a multidão armada tomasse a capital tchetchena ou repor a ordem derramando sangue; entre permitir que a Tchetchênia se separasse da Rússia ou enviar tropas não preparadas para lutar contra os rebeldes”, descreve Eggert. “Assim como Boris Iéltsin, tinha sempre que escolher entre o ruim e o pior.”
Gratchov foi fortemente criticado por muitos ativistas dos direitos humanos e políticos pela maneira como conduziu essa campanha. “Mas seria injusto condená-lo. Ele lutou como pôde, usando os recursos disponíveis. Além disso, será que ele poderia agir de modo diferente como uma autoridade de alto escalão?”, finaliza Konstantin Bogdânov.
Reportagem combinada da rádio Kommersant FM e agência de notícias RIA Nóvosti
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