De acordo com pesquisas recentes, 85% dos fumantes russos adquiriram o hábito antes dos 20 anos de idade. Fonte: PhotoXPress
Passaram-se 11 anos desde que as autoridades russas aprovaram uma lei limitando o fumo, quatro anos desde que a Rússia ratificou a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde, e dois anos desde que Vladímir Pútin assinou o Programa Governamental para Restrição do Consumo de Tabaco.
No entanto, segundo o chefe da Confederação Internacional do Consumidor, Dmítri Ianin, a Rússia continua sendo um dos países com maior índice de fumantes do mundo. De acordo com seus dados, até 60% dos homens e 22% das mulheres que moram na Rússia são fumantes.
“A Rússia é o segundo maior mercado mundial de tabaco depois da China, apesar da enorme diferença populacional entre os dois países”, explica Ianin. “Não é à toa que os fabricantes atacam ferozmente o novo rascunho da lei sobre consumo de tabaco produzido pelo ministério.”
O rascunho do projeto de lei não é exatamente novo. Há um ano o documento foi colocado em discussão no site oficial da órgão, que era então chamado de Ministério da Saúde Pública e Desenvolvimento Social.
Em maio de 2012, o chefe do recém-formado Ministério da Saúde submeteu o rascunho da lei ao governo, mas dois dias depois o documento foi enviado de volta para reavaliação sob insistência dos ministérios do Desenvolvimento Econômico, da Indústria e do Comércio, e da Agricultura.
Essas agências acreditam que proibições severas vão provocar um efeito adverso nos fabricantes de cigarro. Os representantes dos principais atores do mercado, incluindo Philip Morris e British American Tobacco, expressaram preocupação sobre os proprietários dos quase um milhão de estabelecimentos comerciais pequenos que poderiam ser proibidos de vender o produto com a aprovação da nova lei.
Os defensores de proibições mais rigorosas, tais como Aleksandr Osipov, membro do conselho de especialistas de governo, percebem a influência dos lobistas na oposição ao projeto.
“De um modo geral, as empresas russas só se beneficiarão com essas medidas proibitivas”, afirma Osipov. “Um trabalhador fumante tira, em média, um mês de trabalho em intervalos para fumo durante o ano. E antes de vivenciar as consequências drásticas desse hábito, pede várias licenças médicas – tirando o fato de seu tratamento ser parcialmente custeado pelo empregador.”
Restringir o fumo com a intenção de eventualmente criar uma proibição total é uma tendência global, dizem os partidários da iniciativa do Ministério da Saúde, que citam exemplo na Europa e nos Estados Unidos.
A ministra da Saúde, Verônika Skvortsova, afirma que a medidas será novamente submetida à apreciação do governo no dia 17 de outubro e, caso seja bem-sucedida, encaminhada à Duma de Estado.
O que dizem os fumantes?
Serguêi Tchikonkin, motorista
Vício: dois maços de cigarro por dia
“Se eles descriminarem os fumantes de forma pesada, haverá uma reviravolta. Eu irei às ruas para protestar se for preciso, mesmo não apoiando esse tipo de ação.”
Serguêi Kozirenov, carteiro
Vício: um maço e meio por dia
“Não sinto que meus direitos estão sendo lesados; as pessoas estão fumando em todos os lugares. O único problema é que os cigarros ficam mais caros, mas, fora isso, tudo bem. Para ser sincero, gostaria que eles limitassem um pouco os direitos dos fumantes. Ficaria feliz de largar esse vício, mas não consigo porque o meu trabalho é muito estressante.”
Tatiana Starostina, tradutora/professora
Vício: de um a um maço e meio por dia
“Sinto que meus direitos serão anulados, sobretudo pela proibição de fumar em lugares públicos, como, por exemplo, cafés.”
Valéri Chkinin, pensionista
Vício: um cigarro por dia
“Os russos são os fumantes mais privilegiados, perdendo apenas para os chineses. Na Rússia é permitido fumar em todos os lugares, ignorando todos ao redor. Entendo perfeitamente os não fumantes quando ficam bravos. Faço questão de não fumar em ambientes públicos. Mas o Estado não pode regular a relação entre fumantes e não fumantes. É uma questão de comportamento pessoal. Se a fumaça incomoda alguém, o fumante deve mudar de lugar.”
Originalmente publicado pelo jornal Moskovskie Nóvosti
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