Coreia do Norte pode suspender trégua

Embora não tenha sido a primeira declaração do gênero, autoridades norte-coreanas foram mais incisivas em seu último comunicado. Foto: Reuters

Embora não tenha sido a primeira declaração do gênero, autoridades norte-coreanas foram mais incisivas em seu último comunicado. Foto: Reuters

Autoridades declararam que país poderá derrubar medida em vigor na península coreana desde 1953 devido às manobras militares de grande dimensão realizadas pelos EUA e pela Coreia do Sul na fronteira do país. Ao que tudo indica, retórica está vinculada à subida do jovem líder Kim Jong-un ao poder.

A Coreia do Norte “não se considera obrigada a cumprir a trégua assinada no final da guerra coreana de 1950-53 diante da violação grosseira de suas condições pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul”. A declaração foi feita na última terça-feira, 21, pela missão militar da Coreia do Norte na zona de desmilitarização.

O documento ressalta que “o povo e o exército da República Democrática Popular da Coreia podem tomar, a qualquer momento, contramedidas para garantir a própria soberania e a paz”.

A declaração vem na onda da retórica assumida pelo jovem líder norte-coreano Kim Jong-un, que ordenou aos efetivos do exército nacional “acompanhar atentamente as ações do adversário e responder com ataques mortíferos a qualquer explosão de projéteis do inimigo no território ou em águas pertencentes ao país”.

“Os norte-coreanos desejam mostrar que, apesar de certa clemência nas questões internas, a Coreia do Norte continua com o mesmo poderio militar e está em alerta”, explica Gueórgui Toloraia, diretor dos programas de pesquisa coreanos do Instituto de Economia da Academia de Ciências da Rússia.

Paralelamente, a República Democrática Popular da Coreia estaria disposta a chamar a atenção dos Estados Unidos, levando-os a um possível diálogo após as eleições presidenciais norte-americanas.

“Não é nada mais do que o reflexo da disposição de forças em Pyongyang. Isto é, os antigos membros do partido e o alto comando militar conservam a sua influência, inclusive sobre o jovem líder norte-coreano”, afirma Víktor Pavliatenko, colaborador científico do Instituto do Extremo Oriente da Academia de Ciência da Rússia.

 

Ainda assim, as manobras de grandes dimensões realmente preocupam Pyongyang. Nos exercícios militares que se prolongam até 31 de agosto, estão envolvidos 30 mil militares norte-americanos e 56 mil sul-coreanos, além de observadores da Grã-Bretanha, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Dinamarca, Noruega e França.

“Mas Coreia do Norte não deseja nenhum acirramento das relações, uma vez que isso levaria a um futuro isolamento do regime, ao estabelecimento de sanções e à deterioração da condição econômica do país”, contesta Toloraia.

Nos últimos três meses, o país tem demonstrado mais do que simples indulgência ideológica. As autoridades estão discutindo, inclusive, uma reforma no setor agropecuário de acordo com o modelo chinês, o que possibilitaria, finalmente, alimentar a população.

“A verdade é que eles não estão preparados para um conflito em nenhum aspecto, nem política nem economicamente”, arremata Pavliatenko.

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