Estação de tratamento de água doce perto de Moscou. Foto: TASS
À medida que a demanda e o consumo de água aumentam e suas reservas entram em declínio, a Rússia torna-se cada vez mais importante no cenário mundial. Mas, embora possua um quarto de deve escapar da escassez de água no futuro, dizem os especialistas.
Os relatórios da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação apontam que quase um bilhão de pessoas ao redor do mundo não têm acesso à água potável, e 700 milhões em 43 países enfrentam escassez de água, número que deve chegar até os 3 bilhões de pessoas em 2025.
A principal razão pela qual a Rússia não deve ser exceção é a geografia do país. Enquanto 80% da população vive a oeste dos Urais, aproximadamente 80% do volume de água doce do país está concentrado no lago Baikal, na Sibéria, na Rússia Oriental.
“A água doce está distribuída de forma bastante desigual pelo país”, explica Aleksandr Katkov, chefe da Associação Russa de Água, em entrevista à revista Ecolife. “Apenas 8% do estoque de água fluvial da Rússia está localizado na porção europeia do país.”
Além disso, enquanto três dos principais rios da Rússia – Volga, Don e Dnieper – correm do norte para o sul, fornecendo água para o maior centro populacional do país, a maioria dos outros rios fluem em sentido norte rumo ao Oceano Ártico, através de regiões inadequadas para agricultura sustentável.
Durante as secas, somente dois terços da demanda de água na região sul do país são atendidas, segundo relatórios do Instituto de Problemas de Água, da Academia de Ciências da Rússia.
Apesar da tentativa de irrigação na Ásia Central durante os anos 1970, os projetos foram abandonados na década seguinte devido à falta de financiamento e às preocupações ambientais.
Baixo investimento
Víktor Danilov-Danilian, diretor da empresa Projetos Internacionais de Água (IWP, na sigla em inglês) , acredita que o principal desafio é assegurar gestão e controle de qualidade da água adequados, bem como aumentar a responsabilidade pelo desperdício e poluição.
O investimento em tratamento de água na Rússia representa apenas 0,2% do capital aplicado na produção industrial, cinco vezes menor do que os índices mundiais.
Paralelamente, o consumo de água por unidade de PIB na Rússia é o dobro dos Estados Unidos e o triplo da Alemanha.
“O maior problema de nosso sistema de gestão de água são as enormes perdas no setor interno”, escreveu Danilov-Danilian em um relatório de 2010. “Até 65% da tubulação está desgastada, dos quais um terço em estado crítico, elevando o índice anual de vazamento a 3,26 bilhões de toneladas.”
A qualidade das tubulações é usada pelas autoridades como justificativa para cortes anuais de água quente, em virtude dos constantes testes e consertos realizados.
Poluição e segurança
Todos os anos, mais de 10 milhões de toneladas de poluentes são despejados nas águas da Rússia. No total, 62 bilhões de toneladas de água são desperdiçadas, uma vez que 17,7 bilhões de toneladas são despejadas em rios e lagos sem tratamento prévio.
“Como não existe um sistema nacional de controle de qualidade da água, apenas presume-se que essa água está sendo tratada”, completa Danilov-Danilian. Segundo o especialista, um terço das águas de torneira inspecionadas em todo o país apresenta qualidade inferior aos padrões mínimos.
No final dos anos 1980, o principal agente poluidor era a agricultura. Hoje, os grandes vilões são o uso industrial e o consumo doméstico.
A utilização de fertilizantes diminuiu após a queda da União Soviética, reduzindo o vazamento químico. No entanto, a infraestrutura industrial e doméstica não passam por manutenção há anos. Além disso, os financiamentos recebidos pelas estações de tratamento de água são insuficientes.
Abastecimento seguro em Moscou
A capital russa parece um refúgio seguro, entretanto. Iúri Gontchar, diretor-geral do Centro de Teste e Controle de Água Potável, que analisa cerca de 100 amostras por mês, diz que é absolutamente seguro beber água da torneira na cidade e que os rios e lagos locais são apropriados para o nado.
“A água que corre para a cidade vindo do norte tem a mesma qualidade da água que sai pelo sul”, diz Gontchar. “As pessoas podem bebê-la – a concentração de produtos químicos é mantida dentro dos limites de exposição ocupacional."
As técnicas ultrapassadas de tratamento apresentam, contudo, seus riscos. A grande maioria das estações de tratamento na Rússia utilizam cloro no processo.
Essa substância pode formar componentes cancerígenos, tais como clorofórmio, na reação com compostos orgânicos.
“Cinco anos atrás colocamos sondas aquáticas em diversas cidades ao longo do rio Volkhov [no noroeste da Rússia] e descobrimos que as concentrações de clorofórmio eram cerca de 10 vezes mais altas do que o permitido”, afirmou Gontchar. “Beber essa água por um longo período de tempo pode aumentar os riscos de desenvolver câncer.”
Novos tratamentos
Uma nova tecnologia de tratamento está sendo usada em Moscou e em São Petersburgo desde o início dos anos 2000.
Em 2009, São Petersburgo tornou-se a primeira cidade no mundo a abandonar o cloro no tratamento de água, substituindo-o pela luz ultravioleta.
A qualidade da água aumentou principalmente em cidades grandes, mas é difícil controlar em áreas menos povoadas.
Quando, em 2005, uma fábrica chinesa espalhou 100 toneladas de nitrobenzeno tóxico no rio Songhua, um afluente do Amur, a Rússia não conseguiu determinar a extensão dos danos.
Como havia apenas três estações de monitoramento no Amur, os dados foram insuficientes para entrar com uma ação judicial contra a companhia chinesa.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: