A missão dos observadores da ONU, iniciada em maio deste ano, incluía o monitoramento do cessar-fogo e também a reunião de informações sobre a situação da crescente guerra civil na Síria. Foto: TASS
A missão dos observadores militares da Organização das Nações Unidas (ONU) encerrou suas atividades na Síria no último domingo (19), dando início ao trabalho de um “escritório” de coordenação da ONU.
A decisão tomada na quarta-feira passada (16) pelo Conselho de Segurança da organização vai na contramão do posicionamento da Rússia, China e do secretário-geral da organização, Ban Ki-moon.
A missão dos observadores da ONU, iniciada em maio deste ano, incluía o monitoramento do cessar-fogo e também a reunião de informações sobre a situação da crescente guerra civil na Síria.
Os relatórios produzidos durante a viagem seriam a única fonte imparcial de informações, a partir da qual se buscaria um ponto de apoio para solução da crise síria. Agora não há mais essa opção.
O final do trabalho dos observadores é consequência lógica da renúncia do idealizador da missão, Kofi Annan, ao posto de representante especial da ONU no início de agosto.
O veterano em campanhas pela paz alegou falta de apoio ao seu plano de solução pacífica do conflito, mas não indicou concretamente a quem endereçava a recriminação.
Impotência X Ameaças
Os esparsos grupos armados da oposição não estão em condições de vencer as forças regulares do regime sírio. Eles não conseguem criar nem mesmo um enclave rebelde, como mostraram a batalha que venceram em Aleppo, capital econômica da Síria, e a mal sucedida investida sobre Damasco no início de agosto.
Sem armamentos pesados, as operações de grandes dimensões contra o exército do governo estarão condenadas ao fracasso também no futuro, apesar da ajuda militar do Ocidente.
“Nós não queremos a Al Qaeda aqui, mas, se ninguém nos ajudar, nos juntaremos a ela”, declarou o comandante dos rebeldes na cidade de Aleppo, Abu Ammar. Embora soe como chantagem, ninguém quer armar a Al Qaeda, principalmente em um país onde há armas químicas.
Nessas condições, o Exército Livre da Síria (ELS), principal força militar da oposição, tem sido obrigado a adotar ações de guerrilha, com poucas chances de êxito.
O conflito, que se prolonga já há um ano e meio, não teria durado tanto sem o apoio externo da Turquia, Arábia Saudita e Catar à oposição.
Nesse contexto, figura ainda a decisão do presidente dos EUA, Barack Obama, de envolver a [agência de inteligência norte-americana] CIA na coordenação de uma operação de ajuda aos rebeldes.
Futuro incerto
Por outro lado, não há intenção de solucionar o conflito com a ajuda de forças militares dos EUA e de países do Ocidente. Nem a Grã-Bretanha nem a França podem se permitir a repetição do cenário da Líbia tendo em vista a desastrosa situação econômica europeia.
Para os Estados Unidos, sem os quais seria impossível uma intervenção militar ainda que por motivos puramente técnicos, começar uma guerra no Oriente Próximo, com o pano de fundo das derrotas políticas no Iraque e no Afeganistão, dificilmente seria aceitável – sobretudo no período de campanha pré-eleitoral.
Desse modo, resta apenas uma opção: estimular a renúncia de Bashar Assad. Os recursos para isso são pressões diplomáticas, sanções econômicas, campanhas de persuasão, aumento do número de desertores e atos terroristas.
O melhor recurso poderia ser uma intervenção militar externa sancionada pela ONU. No entanto, a Rússia e a China já vetaram três tentativas nesse sentido no Conselho de Segurança da organização, protestando contra a utilização dos mecanismos da organização para mudança de regimes.
Isso, é claro, sustenta objetivamente o presidente sírio, mas não o desobriga da necessidade de, no final das contas, entrar em negociações com os rebeldes.
Novas tentativas
Moscou propôs a realização de uma reunião de embaixadores na ONU, com o objetivo de determinar um prazo para que as partes em conflito promovam o cessar-fogo e iniciem a negociação de paz.
Paralelamente, a Rússia tentará influenciar o governo sírio. É nesse sentido que entende-se a visita a Moscou, marcada para a próxima semana, do vice-primeiro-ministro da Síria, Qadri Jamil, e do ministro para questões nacionais de pacificação, Ali Kheidar.
“A Síria ainda pode ser salva da pior catástrofe. Mas isso depende da coragem e das qualidades de liderança dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, inclusive dos presidentes Vladímir Pútin e Barack Obama”, declarou Kofi Annan em um artigo publicado no “Financial Times” após a renúncia.
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