“Façam dieta antes de vir aqui”

"Se fosse juiz, mandaria essas meninas limpar os sanitários da igreja por pelo menos dois anos", diz Troiánski Foto: Arquivo pessoal

"Se fosse juiz, mandaria essas meninas limpar os sanitários da igreja por pelo menos dois anos", diz Troiánski Foto: Arquivo pessoal

Cônsul russo em São Paulo enfrenta mais um protesto diante do consulado pelo segundo dia consecutivo. Em entrevista exclusiva à Gazeta Russa, o diplomata comenta caso Pussy Riot e ação de Fêmen brasileiras.

Sexta-feira, 17, meio-dia. Buzinas impacientes tentam abrir, inutilmente, caminho entre os carros parados na avenida Lineu de Paula Machado. Motoristas e passageiros têm tempo suficiente para visualizar uma cena inusitada. Duas viaturas policiais estão estacionadas, com luzes e sirenes ligadas sobre a calçada.


Os guardas, fora dos veículos, acompanham o desenrolar de um protesto. Seis ou sete jovens, moças e rapazes leem em coro um texto que fala de punks e liberdade. Falam ao vento, as palavras são abafadas pela sinfonia de buzinas. Alguns cobrem o rosto com capuz. Todos estão vestidos, desta vez. (No dia anterior, quatro mulheres com os seios à mostra, integrantes do Fêmen brasileiro protestaram no mesmo local.)


Menos de uma hora depois de divulgada a sentença de condenação a dois anos de prisão das garotas do Pussy Riot, em Moscou, eles já exibiam cartazes pedindo sua libertação. Depois da leitura passaram a gritar “Fora, Putin!” sem serem incomodados.


Enquanto a manifestação ocorria do lado de fora, assistida apenas pelos policiais, dentro do consulado o cônsul russo em São Paulo, Mikhail Troiánski falava à Gazeta Russa:


Gazeta Russa: Qual é a sua avaliação da condenação das meninas do Pussy Riot? Foi justa?

Mikhail Troiánski: Se tu queres minha opinião, eu diria que tudo aquilo que essas meninas sem consciência e ignorantes cometeram foi uma ofensa aos fiéis. Foi ultrajante para eles, porque temos de levar em conta que durante 75 anos vivemos um tempo em que os comunistas aniquilaram a igreja, perseguiram o clero...

GR: A igreja onde elas fizeram o que fizeram tem algum significado especial?

MT: E como!A nossa gente ainda tem na memória os anos 30, quando o sr. Stálin mandou explodir aquela igreja, que era a honra e o orgulho do nosso país, construída no século 19. Somente agora, no tempo pós-soviético, reconstruíram a igreja que é o orgulho da Rússia e de Moscou. Qual foi a ação delas? Uma atitude muito estúpida e criminosa. Não importa quantos fiéis existam no país [são estimados em 60%], ninguém tem o direito de ofender os sentimentos de quem vai à igreja católica, à sinagoga, à igreja ortodoxa, ao templo budista. A meu ver, foi um insulto, uma injúria, uma incitação ao ódio!

Fêmen brasileiro tumultuou consulado russo na semana passada Foto: AFP/East-News


GR: Mas o rosto delas é angelical, como se viu durante a leitura da sentença, quando estavam dentro de uma espécie de armário...

MT: Outra moça com um rosto de anjo cortou com serra elétrica uma cruz na Ucrânia hoje cedo! Onde está o respeito? Como se pode cortar uma cruz com serra elétrica? Como se deve portar alguém que entra numa casa que não é dela? Deve se comportar de acordo com algumas regras, com alguma ética. No caso delas, que ética era aquela? Por que não fizeram seu show numa sauna? Ou num terminal rodoviário?

GR: Como era um protesto político, o local teria de ser polêmico, para dar manchete.

MT: Neste caso não há questão política nenhuma! Se o mesmo escândalo acontecesse no Brasil, mais especificamente em São Paulo, numa igreja católica ou ortodoxa, duvido que a sociedade e a polícia teriam reagido diferentemente da sociedade e da polícia russas.

GR: Há sérias dúvidas acerca do talento dessas moças. Os grandes artistas russos estão do lado delas ou contra?

MT: Devo reconhecer que me surpreendeu um pouco, com todo meu profundo respeito à Folha de S. Paulo, a matéria publicada na quinta-feira (16) falando dos artistas da Rússia que apoiam Pussy Riot... eu não conheço nenhum deles! E olha que eu tenho uma certa idade e conheço bem os grandes artistas russos.

Alguns estão a favor delas. Mas por que a Folha não revelou a porcentagem de quem está contra e quem está a favor? Por que não deram a palavra aos grandes da música, do cinema que criticaram a ação de Pussy Riot? A proporção seria de 90 a 10. Só 10% apoiam quem procura a fama pela fama. São desconhecidas.

Encontraram um caminho para a “fama” assim como o assassino americano que entra numa escola e atira nos alunos. Ou aquele outro da Finlândia. Não procuraram o caminho da fama por seu talento, por sua cabeça, mas por algum crime. E conseguiram.

A imprensa está falando delas. Assim como estão falando das moças que fizeram protesto na frente do consulado ontem. A propósito, recomendo que da próxima vez que vierem desnudar-se na frente do consulado façam dieta se querem parecer com aquelas moças da Ucrânia que mostram suas bondades. Devem comer menos pão.

GR: Em sua opinião, essas meninas do Pussy Riot e outros que protestam contra o governo Pútin são de direita ou de esquerda?

MT: Eu diria que essas pessoas estão fora dos lados esquerda, direita ou centro, se é que conhecem a Revolução Francesa, que foi quando surgiram esses termos. São pessoas que não têm lado algum. Mas estão utilizando as mesmas armas do comunismo ao profanar igrejas.

GR: O protesto do Pussy Riot é um ato isolado ou existe um movimento tentando derrubar o presidente Pútin?

MT: Esse não é um fato isolado. Estou seguro de que é uma ação organizada. Foi premeditado, como disse a juíza na sentença. Todos aqueles que perdem sentem uma grande angústia.

Eu mesmo senti uma grande angústia quando as nossas meninas do vôlei perderam nas Olimpíadas para as brasileiras. Mas o que eu posso fazer? Somente reconhecer que as vossas foram melhores. O presidente Pútin foi eleito pela maioria do povo russo, mas quem perdeu não se conforma.

GR: A sentença de dois anos de prisão foi correta?

MT: Se eu fosse juiz mandaria essas meninas limpar os sanitários da igreja por pelo menos dois anos! Elas são tão artistas quanto eu sou imperador da China! Se tenho pena? Tenho uma certa pena da ignorância delas, mas entendo, porque elas nasceram quando o país se transformava de uma ditadura totalitária em democracia.

Elas são fruto dos anos 90, assim podemos explicar a falta de consciência. Fizeram-se famosas, que era o que queriam; foi mais fácil assim do que se tornarem famosas como astronautas ou doutoras ou esportistas.

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