Foto: AP
Apesar de toda a organização e cuidado do Comitê Olímpico Internacional, o site oficial dos jogos de Londres apresentou uma falha que, por muitos, pode ter passado desapercebida – mas não pelo governo de Tbilisi, capital da Geórgia.
Ao observar que as duas ex-repúblicas georgianas, a Ossétia do Sul e a Abecásia, figuravam como território russo, o Comitê Olímpico Nacional da Geórgia expressou protesto e pediu a alteração imediata.
Porém, mais do que uma questão diplomática, o incidente técnico refletiu a situação real dos jovens Estados. Ao que tudo indica, o Ocidente ainda não reconheceu a independência dos dois governos.
Mesmo porque, embora os ocidentais apoiem a integridade territorial da Geórgia, a Abecásia e a Ossétia continuam a ser economicamente dependentes da Rússia.
A Rússia e a Geórgia, que até agora não reestabeleceram as relações diplomáticas, parecem indiferentes à situação. O primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev declarou que está disposto a restaurar relações com qualquer líder georgiano, exceto Saakashvili.
A Geórgia, por sua vez, aprovou a lei “sobre territórios ocupados”, nome dado também às antigas repúblicas do país Abecásia e Ossétia do Sul. De acordo com a norma, é proibido visitar esses territórios sem autorização do governo georgiano. Os violadores podem receber até quatro anos de prisão.
O que mudou
Depois da agressão da Geórgia em agosto de 2008, a Rússia deu início à restauração da Ossétia do Sul, investindo bilhões de rublos na região.
Em 2010, o então vice-primeiro-ministro russo Ígor Chuvalov disse que o país havia transferido cerca de US$ 884 milhões à nova república. No ano seguinte, a Ossétia do Sul recebeu mais US$ 79 milhões da Federação Russa.
No total, os investimentos em desenvolvimento econômico e social já ultrapassaram US$ 120 milhões, e deverão ser somados a mais US$ 93 em 2012 e US$ 52 milhões em 2013.
O vice-ministro do Negócios Estrangeiros da Rússia, Grigóri Karasin, declarou que a Ossétia do Sul já conseguiu se constituir como Estado durante os últimos quatro anos.
“Hoje a Ossétia tem todos os atributos de um Estado, incluindo os poderes legislativo, executivo e judicial. O governo está controlando seu próprio território, desenvolve a economia, educação e cultura nacional”, afirma Kasarin.
O que não mudou
No entanto, os especialistas afirmam que, do ponto de vista o socioeconômico, a Ossétia do Sul não pode ser considerada como um Estado completamente independente.
“Em primeiro lugar, o nível extremamente deprimido da região está pressionando a Ossétia do Sul para entrar no espaço econômico da Rússia”, explica o vice-diretor do Centro de Estudos dos países da ex-União Soviética da Universidade Estatal de Moscou, Aleksandr Karavaev.
Segundo ele, a Ossétia pode existir apenas graças a ajuda direta da Rússia ou da Geórgia. “Apenas a melhora das relações entre a Rússia e a Geórgia pode mudar a situação”, completa.
Em 2008 as receitas da Ossétia do Sul totalizaram apenas US$ 2 milhões, aumentando até US$ 4 milhões em 2010 e US$ 15 milhões em 2011.
Além disso, o desfile de “reconhecimento”, que deveria ocorrer em agosto de 2008, foi suspenso.
Fora a Rússia, apenas quatro países-membros da ONU (Nicarágua, Nauru, Tuvalu e Venezuela) reconheceram a independência da Ossétia do Sul. Os aliados da Rússia na CEI (Comunidade dos Países independentes) e na Organização do Tratado de Segurança Coletiva também se recusaram de reconhecer a Ossétia e a Abecásia.
“Se o Cazaquistão e a Bielorrússia reconhecessem a independência dos dois países, não acho que enfrentariam uma forte reação de Washington”, afirma Karavaev, ao comentar sobre o excesso de cautela dos líderes desses países.
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