Piotr Fomenko nasceu em 13 de julho de 1932, em Moscou. Foto: TASS
“Com o falecimento de Piotr sinto-me órfão. E todo o seu teatro fica órfão, acho que até todo o teatro russo”, resume um discípulo de Fomenko, Evguêni Kamenkóvitch. “Quando ele estava vivo, sabíamos que havia um ponto de apoio para nos orientar”, completa.
Segundo Kamenkóvitch, o diretor fez uma lista enorme de peças que precisavam ser encenadas – trabalho para mais ou menos cem anos. “E agora, como é que vamos nos virar?”, declara Kamenkóvitch.
Os espetáculos criados por Piotr Fomenko receberam vários prêmios teatrais: o Stanislavski (1994, 2000), o Khustalnaia Turandot (1994, 1996), o Zolotaia Maska do Teatro Nacional (1995, 2001, 2002, 2006, 2012), o Tovstonogov (2001). Em 2001, Fomenko foi laureado com o prêmio Triumf nos campos da cultura e da arte.
O próprio mestre dizia que direção teatral não se aprende, sendo possível apenas multiplicar e conservar qualidades que já existem naturalmente na pessoa e equipá-las com um arsenal que deve mudar o tempo todo no decorrer da vida, “ora se enriquecendo, ora se corrigindo”.
“Petia [Piotr] era capaz de montar um espetáculo a partir de uma agenda de telefones, mas porque ali estão pessoas reais: doentes, saudáveis, apaixonadas, felizes, amarguradas, crianças, adultos, velhos. Esse era o material de Petia. Ele conhecia bem a vida”, diz o artista russo Valentin Gaft.
Às vésperas de seu aniversário de 80 anos, Fomenko explicou numa entrevista à Gazeta Russa a sua visão a respeito do que estava acontecendo no país. “Amar às vezes significa odiar, não tolerar as coisas ruins. Pois nisso está o segredo desse patriotismo de que tanto falam dia e noite. Todos nós buscamos a ideia nacional”, explicou.
“Besteira. No início, ela parece nacional, mas depois vira nazista. Não há nada mais assustador atualmente do que o surgimento do nazismo em nossa pátria”, concluiu.
Início da carreira
Hoje que a Oficina Piotr Fomenko é considerada quase o último refúgio da tradição viva do teatro psicológico russo, é até difícil imaginar que o seu fundador revirou todas as tradições e “sistemas”.
Garoto da cidade de Moscou pré-guerra, aficionado do futebol, caçador de aventuras nos pátios e passagens da rua Iakimanka, contava histórias da guerra de um modo que faz arrepiar.
Em seu rosto ainda se adivinhava o garoto que molhava pão no álcool para apanhar pombos e levá-los para a mãe.
Educado pela mãe no amor pelo teatro e pela música, após a escola, estudou na oficina de atores da escola-estúdio MKHAT. Mas foi expulso de lá no terceiro nível, no ano da morte de Stálin, por desordem e desrespeito à “grande escola do teatro russo”.
Depois de acrescentar a filologia à música (junto com um diploma da Faculdade de Filologia do Instituto de Pedagogia), ingressou na Faculdade de Direção da Universidade Russa de Arte Teatral.
Em 1961, Fomenko terminou o curso de diretor. Na década de 1960, montou espetáculos em palcos de Moscou: no Teatro Infantil Central, na Malaia Bronnaia, no estúdio teatral da Universidade Estatal de Moscou Leninskie Gori, no Teatro Dramático de Moscou Maiakóvski, no Teatro de Drama e Comédia na Taganka.
Pedras no caminho
Os projetos de Fomenko em Moscou, entretanto, foram encerrados por causa de problemas com a censura, e ele foi obrigado a se transferir para a província. Durante dois anos, o mestre trabalhou em Tbilissi, depois se mudou para Leningrado, onde trabalhou no Teatro de Comédia Municipal, tendo se tornado, em 1977, o seu diretor-geral.
Naqueles anos, foram encenados espetáculos no Teatro do Exército Soviético e no Mali em Moscou.
Em 1981, Piotr Fomenko deixou o Teatro de Comédia de Leningrado e voltou para Moscou, onde começou a dar aulas na Faculdade de Direção da Universidade Russa de Arte Teatral.
Paralelamente ao trabalho pedagógico, o diretor continuou a montar espetáculos em teatros da capital. Em 1992, Fomenko recebeu o título de professor da Academia Russa de Arte Teatral.
Em 1993, o Curso de Atores e Diretores Fomenko (conjunto de 1988) recebeu o grau de teatro – Teatro Oficina P. N. Fomenko de Moscou –, com direção do próprio mestre.
No ano de 2000, Piotr Naúmovitch deu aulas no Conservatório de Paris, depois montou um espetáculo na Comedie-Francaise (2003) e, em 2005, no Festival Tchékhov, em Moscou, foi apresentado um espetáculo montado por ele com o grupo de atores da Comedie-Francaise, a peça "O bosque", de A. Ostrovski.
Em 2001, Fomenko deu o seu último curso. Dois anos depois, deixou a carreira de diretor na Universidade Russa de Arte Teatral e parou de lecionar.
Piotr Fomenko criou mais de sessenta espetáculos nos teatros de Moscou, Leningrado, Tbilissi (Geórgia), Vratislav (Polônia), Salzburg (Áustria) e Paris (França).
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