Foto: Reuters/Vostock Photo
As iniciativas de Boris Iéltsin para popularizar o tênis na Rússia aumentaram absurdamente o nível de interesse pelo esporte entre os jovens do país.
Em apenas uma década, a Rússia tornou-se internacionalmente reconhecida no tênis, produzindo campões de ambos os sexos nos torneios do Grand Slam - embora as russas tenham conseguido ofuscar seus colegas masculinos.
Vladímir Pútin, que até duas semanas atrás era o judoca mais famoso da Rússia, provavelmente sonhou em alcançar o mesmo tipo de resultado no judô, colocando ênfase no desenvolvimento da modalidade ainda durante seu primeiro mandato como presidente, no ano 2000. O judô, entretanto, não goza da mesma fama internacional e popularidade do tênis.
Assim, apesar de Arsen Galstian ter conquistado o bronze na categoria até 60 kg no Campeonato Mundial de 2010 em Tóquio, somado ao ouro vencido no ano anterior em Tbilisi, quase nenhum comentarista esportivo listou o judoca da região de Krasnodar como um favorito ao ouro olímpico.
O burburinho em torno de Galstian só começou quando o atleta chocou a comunidade internacional de judô ao derrotar nas semifinais o número um na categoria até 60 kg, o uzbeque Richod Sobirov.
A vitória sobre o japonês Hiroaki Hiraoka na final transformou o judoca de 23 anos em uma sensação instantânea por todo o país, especialmente no território devastado pela enchente de Krasnodar, que Galstian chama de lar.
A vitória de Galstian foi brindada pelos moradores de Krasnodar como “nossa” vitória e pouco se fala sobre a origem armênia do judoca. Isso representa, contudo, uma grande triunfo para a região sul da Rússia, que apenas ocasionalmente aparece nos noticiários – sobretudo quando há conflitos entre russos étnicos e imigrantes das ex-repúblicas soviéticas.
Galstian nasceu em 1989 em território hoje pertencente à Armênia, então parte da União Soviética. Seus pais imigraram posteriormente para Rússia. Ao conquistar a medalha de ouro em Londres e se tornar um herói nacional, Galstian realizou o sonho de sua família imigrante.
Do Daguestão a Londres
Após Galstian ganhar o ouro em Londres, Mansur Isaev seguiu seu exemplo e derrotou o japonês Riki Nakaya na final da categoria de 73 kg, obtendo, assim, a segunda medalha de ouro no judô para a Rússia.
Aos 26 anos, o morador da pequena cidade siberiana de Tcheliabinsk também não era considerado uma promessa nas Olimpíadas. O melhor desempenho de Isaev antes de Londres tinha sido a medalha de bronze no Campeonato Mundial de 2009 em Roterdã.
Agora, resta aguardar para ver se o governador da região de Tcheliabinsk irá cumprir a promessa pré-olímpica de doar um milhão de dólares a cada medalhista de ouro da região.
Isaev também se tornou uma celebridade instantânea na Rússia e, sem dúvida, agradou o presidente russo. O jovem é um exemplo representantivo da multietnicidade nacional, por ser muçulmano e de Avar, uma comunidade da república do Daguestão.
Estratégia judoca
Uma das estratégias fundamentais para conquistar o ouro no judô foi a contratação de Ezio Gamba, judoca campeão pela Itália na categoria até 71kg nas Olimpíadas de Moscou, em 1980. Tanto Isaev quanto Galstian deram muito crédito ao treinador italiano e sua rigorosa rotina de treinos.
Mas o ponto de partida para o sucesso da dupla foram, provavelmente, as iniciativas pelo presidente russo, que assumiu um papel proativo no desenvolvimento de seu esporte predileto.
Em entrevista a um canal de televisão russo, Galstian falou sobre seu encontro com o presidente na véspera de Ano Novo. Além de estimular os judocas russos, Pútin foi o idealizador da Academia de Judô Zvenigorod, um centro de preparação que promete fornecer ainda muitos outros campeões ao país.
Pesquisas de opinião pública mostram que o presidente russo goza de mais popularidade em regiões distantes da capital do país. As medalhas de ouro conquistadas por moradores de Krasnodar e Tcheliabinsk provam que os esforços do presidente para popularizar o esporte tiveram efeito em unidades federativas menores.
O ouro da modalidade em em Londres está transformando o modo como russos veem o judô e certamente dará início a uma nova onda de popularidade do esporte.
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