Na Rússia, são muitos os paralelos estabelecidos com o Brasil. Foto: Reuters
Os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) são geralmente comparados . Em princípio, as cinco bolsas de valores podem ser agrupadas de acordo com um ou alguns indicadores, mas, tomadas como um todo, elas têm pouco em comum, assim como seus países.
Acima de tudo, é preciso ressaltar que, quando falamos em BRIC, temos em vista, na maioria das vezes, a Índia e a China, uma vez que elas, por seu significado, população e dimensão econômica, superam significativamente os demais membros do grupo.
A Rússia e o Brasil são, contudo, considerados parceiros secundários. Ambos têm domínio no fornecimento de matérias-primas, inclusive para os outros dois países, o que lhes garante boas perspectivas de crescimento.
Na Rússia, são muitos os paralelos estabelecidos com o Brasil. De fato, em muitos indicadores – território, população, valor do PIB, papel significativo do setor de matérias-primas na economia –, esses dois países estão bem próximos.
Além disso, a economia brasileira, que deu enorme salto socioeconômico em resultado das reformas econômicas liberais dos últimos 20 anos, teve sucesso também no mercado de ações. No período pós-crise, as reformas econômicas abriram uma janela de possibilidades para as ações brasileiras e criaram condições de proteção do mercado nacional em 2011, quando as bolsas de valores mundiais despencaram.
Por causa dessas reformas surgiram possibilidades de capitalização de ações de emissores locais. A segunda ofertas pública inicial de ações da empresa estatal de petróleo, Petrobrás, na bolsa de São Paulo, Bovespa, em setembro de 2010, foi a maior do mundo – mais de US$70 bilhões, número impensável nas bolsas de valores russas.
Diferentemente do mercado brasileiro, o atual mercado de títulos da China não se enquadra na categoria dos internacionalizados. Considera-se que, para a China, não fazia muito sentido o desenvolvimento do mercado de ações. A base de seu modelo econômico é a manutenção do papel diretor do governo em todos os setores da vida econômica (como na Rússia, aliás).
O crédito bancário atendia plenamente às necessidades de investimentos da economia. E os órgãos reguladores limitavam a negociação de papéis de modo significativo.
O afluxo de capital teve início também com o mercado de pequenos investidores; em poucos dias, segundo dados da comissão de valores mobiliários, particulares abriram 300 mil contas, tomando crédito nos bancos com base em hipotecas de imóveis. Uma vez que na China há rigorosa restrição de saída de capitais, a população e as empresas acumularam quantias colossais, que, de fato, não podem sair do país.
O crescimento dos índices provocou uma febre de ações entre a população. Em função disso, em 2007, medidas reguladoras proibiram a aquisição de ações com dinheiro de crédito bancário e a utilização de empréstimos bancários na especulação imobiliária.
Entretanto, as medidas tomadas não deram o resultado esperado. A relação preço-lucro (PL) de algumas ações chegou a mil. No final, isso determinou a crise de fevereiro de 2007, quando teve início um surto de venda de ações dos pequenos investidores.
Com o objetivo de promover o desenvolvimento futuro do mercado de ações, o Ministério das Finanças da República Popular da China (RPC) tomou a decisão de aumentar a participação do governo no mercado de ações de 0,1 para 0,3%. A tentativa de endurecer o controle sobre o afluxo de capital especulativo no país determinou um grande volume de retirada de recursos do mercado chinês, cerca de US$ 140 bilhões, dando início a uma correção nas bolsas de valores mundiais.
Tudo o que mencionamos pode dar a impressão de que os países que não estão orientados para a exportação, ou seja, as economias chamadas de produtoras, estão orientadas para a demanda de investimento interno. Entretanto, não é assim.
Nesse caso, é grande a participação de empresas estrangeiras. Embora a bolsa de valores indiana tenha mais de um século e meio, a população do país não investe em ações: nelas e nos títulos do poder público, é aplicado diretamente 1,2% das economias. Em termos de finanças, a população indiana é pouco menos passiva do que a russa.
Por isso, “o país de mil tribos”, com uma população de mais de um bilhão de habitantes e um nível suficientemente elevado de poupança, tem constante necessidade de afluxo de capital de fora.
Além disso, o afluxo de capital supera a saída, situação diametralmente oposta à da Rússia. Os investidores institucionais estrangeiros são proprietários de mais de 10% dos ativos de todo o mercado de ações da Índia. A elevada concentração de capital estrangeiro determina o baixo nível das transações eletrônicas: mais de 70% delas são feitas pelos 100 principais corretores.
Por não ser um fornecedor de matérias-primas, o mercado indiano é altamente dinâmico em termos de proporções setoriais. No início da década de 1990, por exemplo, a porção de empresas do setor industrial somava 80%; em 2000, essa porcentagem baixou para 10%; depois subiu de novo até quase metade da capitalização geral. Além disso, a porção do setor de alta tecnologia cresceu até 20%. Na Rússia, por sua vez, a porção do setor de matérias-primas tem se mantido numa marca de mais 70%.
Uma elevada porção de capital estrangeiro, via de regra, determina significativa dependência dos mercados em relação a riscos políticos. Os resultados das eleições parlamentares na Índia em 2009, que abriram a perspectiva de estabilidade política e de um governo capaz de dar continuidade às reformas econômicas, levaram ao aumento de sua parcela nas carteiras modelares de casas de investimentos.
Naquela época, a Morgan Stanley, em particular, aumentou pela primeira vez sua parte “acima do mercado”. Aqui convém incluir o exemplo da Rússia, onde a crise política do inverno de 2011 e 2012 provocou uma discrepância no ritmo de crescimento dos índices dos mercados russos e dos concorrentes.
Exatamente pelo fato de que, entre os países do Brics, há mais diferenças do que aspectos em comum, consideramos que, com o passar do tempo, os investidores darão preferência a um dos países, em vez de considerar todos eles como nações com possibilidades iguais.
Desse modo, a grande tarefa do mercado russo é não ficar para trás em relação às transformações e reformas globais ocorridas nos mercados concorrentes.
Nesse caso, o lançamento da Bolsa Interbancária de Câmbio de Moscou (MMVB, na sigla em russo) em junho, de contratos futuros sobre os índices do Brasil, Índia, China e África do Sul, é simbólico. E aqui podemos lembrar a proposta de Jim O’Neil, cunhador do termo que dá nome ao grupo, de acrescentar à lista mais quatro nações: México, Coréia do Sul, Turquia e Indonésia.
Angelika Henkel é analista sênior do Alfa-Bank.
Material reduzido. O texto completo encontra-se no site
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