Ginastas russas estão treinando a todo vapor para as Olímpiadas de Londres. Um exemplo é Viktoria Komova, membro da equipe de ginástica da Rússia Foto: Corbis / FotoSA
No passado, países do mundo inteiro usavam as melhores práticas de treinamento soviéticas associadas a seu treino padrão na preparação para os jogos olímpicos. Isso porque o método de treinamento soviético era considerado o melhor dos melhores.
Paralelamente ao reconhecimento internacional, contudo, vieram acusações de tratamento severo, e até mesmo cruel, das garotas, para mantê-las no peso e tamanho adequados.
Aleksandr Aleksandrov, técnico sênior da equipe de ginástica artística feminina da Rússia, se refere essas histórias como mitos. “O treinamento das ginastas soviéticas tinha foco nas habilidades técnicas, e fazia uso de descobertas científicas de ponta nas áreas de fisiologia, medicina e recuperação”, explica.
“É isso que estamos tentando fazer agora, nos apoiando em conhecimento e experiência, acima de tudo. Mas a vida continua, portanto, estamos tentando trazer técnicas modernas para o jogo também”, diz.
“Quanto a esse papo sobre a dificuldade de fazer parte da equipe soviética, devemos lembrar que existia sistemas de treinamentos ainda mais duros, como, por exemplo, na Romênia.”
Para provar isso, Aleksandrov descreveu a rotina diária das ginastas russas em seu campo de treinamento no lago Krugloie. Com o início das férias escolares de verão, o treinamento para as Olímpiadas de Londres está indo a todo vapor.
As atletas se levantam às 7:30, e após alguns exercícios de aquecimento, saem para uma caminhada ou corrida. Meia hora depois, tomam café-da-manhã, e às 10:00 em ponto começa o primeiro treino do dia, que dura cerca de 2,5 horas.
Na sequência, fazem uma pausa, exercícios de recuperação, e têm algum tempo livre.
O segundo treino vai das 17:00 às 19:00, seguido por massagem. Às quintas-feiras treinam apenas de manhã. Elas vão para a cama às 22:30 todos os dias, e possuem um dia de descanso na semana, como todas as outras pessoas, aos domingos.
A equipe russa garantiu seu lugar nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 no Campeonato Mundial de Ginástica Artística em Tóquio, no ano passado, mas agora, na reta final antes do evento, as atletas e técnicos estão enfrentando outra tarefa importante: montar a lista final de convocações para a competição.
Três das cinco posições no time já foram definidas. O chefe dos técnicos, Andrêi Rodionenko anunciou que Viktoria Komova, Alia Mustafina e Anastásia Grichina já foram confirmadas para as Olimpíadas de Londres. Mustafina, 17, foi campeã mundial de ginástica artística em 2010. Komova, também 17, ficou em segundo colocado em 2011, e Grichina, 16, se juntou à equipe de ginastica adulta recentemente e também está entre os destaques mundiais na modalidade.
Trancos e barrancos
Infelizmente, as atletas mais celebradas da Rússia estão longe de sua melhor forma, já que as inúmeras vitórias foram acompanhadas de lesões. Ainda assim, elas esperam voltar à forma física a tempo de lutar por medalhas olímpicas. No Campeonato Europeu de Ginástica Artística Feminina, Mustafina machucou o joelho quando retornava de um salto.
Antes do acidente, sua execução era a mais difícil do mundo, e agora ela está trabalhando com os técnicos para voltar com tudo. “Estamos muito felizes que Alia Mustafina esteja retornando à arena internacional”, diz Aleksandrov. “Queremos não só que ele participe, mas alcance novamente o mesmo nível de antes da lesão. Mas não tudo de uma vez.
A reabilitação leva um tempo. Temos que caminhar lentamente, um passo de cada vez, para alcançar a melhor forma possível antes das Olimpíadas.”
Os esforços irão, sem dúvidas, resultar em sucesso, sobretudo pela verdadeira estamina atlética de Mustafina. A atleta foi para o campeonato mundial no Japão pouco tempo depois de uma cirurgia no joelho, para apoiar a equipe, mesmo não podendo competir.
Mustafina queria estar presente não só para mostrar apoio às colegas de equipe, mas para preparar-se para competição. “Eu cresci desde a competição de 2010, e engordei um pouco, porque o peso sempre aumenta quando a carga de treino é aliviada. Eu não tenho mais leveza que tinha aos 16. E não se trata apenas do peso”, diz Mustafina.
“Leveza quer dizer que eu poderia pegar leve por alguns dias durante os treinos e depois fazer cada elemento sem falhas no dia seguinte. Agora preciso dar o melhor todos os dias. Mas a ginástica é minha vida. Estou muito acostumada a trabalhar na academia, não consigo viver sem isso. Por isso que a reabilitação não foi tão difícil para mim – não tive problemas psicológicos, não fiquei deprimida. Estava ansiosa para voltar e não tinha dúvidas de que iria ser bem-sucedida.”
De repente líder
Komova inesperadamente tornou-se líder da equipe aos 16 anos, depois do afastamento de Mustafina dos campeonatos mundiais em 2011. Ela então se viu no centro de uma polêmica ao perder o título no torneio para uma adversária norte-americana por meros 0,033 pontos.
“Fiz de tudo para esquecer aquela derrota”, diz Komova. “Afinal, por que me debruçar nisso quando tinha outras competições para participar? Claro que discutimos nossas falhas com o técnico, nossos erros. Geralmente tentamos analisar tais situações em vez de nos levar pela frustração”, conta.
Segundo ela, ainda é difícil não ficar nervosa durante as competições. “Algumas vezes as emoções são simplesmente avassaladoras. O campeonato mundial foi ainda mais difícil para mim do que o normal, pois tinha perdido uma série de eventos por conta da lesão. Não foi nem mesmo pelo medo da dor – a gente está acostumada à dor”, comenta.
É que os elementos são repetidos milhares de vezes em cada treino. “Isso nós dá segurança. É preciso trabalhar nós mesmas. Se eu consigo me superar, poderei também superar as adversárias.”
Segredo de Estado
Outro segredo para vencer com segurança é repassado às garotas pela treinadora Valentina Rodionenko. “Não podemos nos dar ao luxo de ser iguais a nossos adversários. Temos que estar acima deles, caso contrário os juízes podem nos derrubar”, afirma Rodionenko.
A técnica acha que a equipe norte-americana representa a principal ameaça para as russas nas Olimpíadas. “Aleksandr Aleksandrov sugeriu o nome de quatro países com chances de competir por medalhas: EUA, China, Romênia e Rússia.
Mas acredito que as norte-americanas são nossas principais rivais. Só elas podem superar nossas performance, porque são boas nos saltos. Mas posso assegurar a todos que não ficarão envergonhados conosco nas Olimpíadas!” A rivalidade dentro da equipe nacional da Rússia promete ser tão estimulante quanto à competição com os times estrangeiros.
Tanto Komova quanto Mustafina disseram não em vez de assistir umas às outras durante os treinos, concentraram-se em seus programas e características individuais. Elas competirão entre si pela primeira em Londres.
“Mustafina e Komova já se tornaram motivo de fofoca”, diz Aleksandrov. “Somente as ginastas talentosas, esforçadas e brilhantes têm chance de se tornarem campeãs. As vitórias de Mustafina e Komova já são conhecidas pelo mundo afora, e novas conquistas são esperadas, incluindo medalhas olímpicas”, completa.
Ambas as ginastas e seus técnicos estão dando o melhor de si para atingir esse objetivo. Quanto tempo levará antes de se aposentarem da elite do esporte, e em quantos Jogos Olímpicos elas participarão – tudo isso está na mão delas. “Não é uma tarefa fácil manter sua forma – manter o peso em dia, dedicar-se a treinamentos intermináveis”, afirma.
As ginastas seguirão para o Reino Unido no dia 21 de julho, uma semana de antecedência às disputas, para adaptação.
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