Diplomatas dão última chance à Síria

Foto: Reuters

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Documento assinado por líderes mundiais estabelece “supervisores” da paz e diálogo com as diferentes partes do conflito. A questão é aguardar e ver se os envolvidos serão suficientemente convincentes no diálogo para iniciar o cessar-fogo.

A reunião dos ministros das Relações Exteriores do Conselho de Segurança da ONU, União Europeia, Iraque, Catar, Kuwait e Turquia, em Genebra, resultou na assinatura de um novo plano de salvação para a Síria. Essa será a última chance para o regime de Bashar al-Assad.

Se o plano falhar, a Síria pode esperar um cenário semelhante ao da Líbia.Chegar a um acordo não foi fácil. Afinal, cada Estado busca seus próprios interesses, e a Síria passa a ser apenas uma ferramenta para alcançá-los.

Os países do Golfo Pérsico, por exemplo, têm uma difícil tarefa: evitar uma “Primavera Árabe” no território em meio à constante a evolução do sentimento radical sunita no mundo árabe.

O novo documento, desenvolvido sob supervisão do enviado especial da ONU para a Síria, Kofi Annan, é uma versão ligeiramente modificada do famoso “Plano Annan”, aprovado em março deste ano. As principais alterações atuais foram feitas do lado russo, razão pela qual os jornalistas ocidentais imediatamente chamaram o fato de “vitória diplomática da Rússia”.

O principal êxito da diplomacia de Moscou é que antes se exigia o cessar-fogo de Assad como medida prioritária, enquanto que, em Genebra, o acordo deixa claro que a atitude deve ser tomada ao mesmo tempo por ambas as partes em conflito.Para persuadir cada uma delas existirão os chamados “supervisores”. O Ocidente apoia a oposição síria no exterior – por isso deve tentar convencê-la a aderir o acordo. Os países do Golfo Pérsico estarão engajados com a oposição armada dentro da Síria.

E Rússia e China continuarão a manter conversações com Assad. Kofi Annan coordenará o processo como um todo.

Ainda na reunião de Genebra, ficou acertado que nenhum dos países deve interferir no modelo de regime político para o país, condição exigida inclusive pela Rússia. Se Assad deve permanecer ou um substituto democrático tomar seu lugar, eles mesmos vão decidir. 

Passos para paz

Após cessarem as ações de combate, os sírios deverão criar o chamado “órgão de transição de governo”, que terá um poder Executivo específico. Deste farão parte tanto membros do atual governo como representantes de todos os partidos da oposição e de outros grupos.

A transição deve começar imediatamente, sobretudo pela revisão da constituição e do sistema jurídico do país. A ideia é que com o tempo sejam estabelecidas “eleições multipartidárias livres e justas”.

Pelo número de participantes jornalistas no escritório da ONU em Genebra, ficou claro, contudo, quão grande é a atenção do mundo para a questão síria. Centenas deles percorriam os andares, esperando quando seria anunciado, pelo menos, algum resultado. As negociações foram difíceis e, em vez do término prometido para 12h30, a reunião só acabou às 9h da noite.

Armados com cassetetes e pistolas, os guardas não permitiram o acesso da imprensa ou de diplomatas e representantes de agências de notícias.Alguns integrantes da oposição síria protestavam junto ao edifício da ONU. Mas a verdade é que até agora há pouco motivo para os oponentes de Assad protestarem.

Aceito no sábado, o documento responde a todas as exigências da oposição. “O governo deve criar um Conselho Nacional com base no referendo”, afirma, por exemplo, o representante da oposição síria no exterior, Mahmoud Hamo. E o documento de Genebra não contradiz isso.

Prova de fogo

Resta saber agora se as medidas propostas pelos diplomatas terão efeito prático. Antes de mais nada, sincronizar o cessar-fogo por todas as partes e retirar as tropas do governo das cidades não é uma questão simples. Mesmo que cada “supervisor” pressione o lado pelo qual está responsável, qual a garantia de que eles serão ouvidos.

Não é de se admirar que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, declarou, após a assinatura do plano, “não ter ilusões sobre a complexidade deste problema”.Nos últimos meses, formou-se na Síria uma massa de grupos armados, cada um com seu próprio comandante. E nem todos gostariam de um retorno à vida pacífica.

Além disso, a oposição não tem um único centro, e não há ninguém com quem se possa negociar de forma eficaz.

Mas, se as partes em conflito dentro da Síria não conseguirem chegar a um acordo desta vez, então, quando as tropas da Otan entrarem no país, os sírios só poderão culpar a si mesmos. 

Diante dessa perspectiva possível, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, afirmou na reunião em Genebra que, se a Síria não aceitar o plano atual, algumas sanções podem ser estabelecidas. Claro que, numa situação assim, eles continuarão protegidos pela Rússia e pela China.

Originalmente publicado em russo 

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