Roedores contra o envelhecimento

Foto: Getty Images

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O combate ao envelhecimento é um dos temas centrais na ciência. Se o homem não vive eternamente, pode viver pelo menos uma vez e meia mais. Alguns cientistas acreditam que o homem poderia evitar o desgaste do organismo com alguns animais que envelhecem de maneira misteriosa. Mas quem diria que a ajuda vem justamente de pequenos roedores?

Teoricamente, poderíamos viver eternamente. Mas em termos da evolução, o envelhecimento e a morte são muito úteis. Um ser vivo deve acasalar, dar origem a uma nova geração e proteger seus descendentes nos primeiros tempos. 

Na nova geração, seu genoma encontra um refúgio seguro, portanto, não há mais necessidade de ele continuar vivendo, gastando em vão recursos. Sem o envelhecimento, doenças e morte, o processo de evolução seria muito mais lento e não passaria da fase de esponjas e anelídeos. 

Vida X Peso

Se nos mamíferos o peso é mais ou menos proporcional ao tempo de vida, quanto maior é um animal, mais ele vive.

Seguindo essa lógica, um pequeno roedor vive, no máximo, dois anos, enquanto um elefante pode dura tranquilamente 70 anos.

No entanto, essa teoria não se aplica ao rato-toupeira-pelado nem à ratazana-toupeira-do-Norte.

Calculamos aproximadamente quantos anos por quilo cada uma das espécies seguintes vive: 

670 anos - rato-toupeira-pelado

60 anosratazana-toupeira-do-Norte 

7 anosrato cinza 

7 anos - hamster

2, 5 anos - gato doméstico

1 ano ser humano 

0,2 anos - gorila

0,15 anos - leão

0,1 anos - urso pardo

Assim, cresce o número de cientistas inclinados a acreditar que temos um programa de autodestruição gravado em nossos genes. E, se tal programa existe, ele poderia ser localizado e desativado. 

Enrugado, sem pelos, mas com dentes O rato-toupeira-pelado é um roedor africano que vive em regiões do Quênia, Etiópia e Somália e, nos últimos anos, causou grande interesse na comunidade internacional de biólogos. 

O animal não só é capaz de sobreviver com um nível mínimo de oxigênio, mas também resiste a queimaduras com ácido, entre outras façanhas. No entanto, o que mais intriga o mundo científico é o fato de o rato-toupeira-pelado não envelhecer.

Acredita-se que o tempo de vida de um mamífero é, no geral, proporcional a seu peso. O rato-toupeira-pelado pesa cerca de 30 gramas. Enquanto um camundongo do mesmo peso vive, no máximo, três anos, o rato-toupeira-pelado pode durar até 30 anos. Proporcionalmente, é como se o homem vivesse de 500 a 800 anos. 

Fato é que o organismo desse animal não apresenta nenhuma modificação em seus tecidos nem em seu sistema cardiovascular. Ou seja, o animal morre jovem.

“É um enigma para cientistas e ninguém sabe explicar o segredo”, diz Maksim Skulatchev, um dos diretores do projeto de combate ao envelhecimento. 

Possíveis explicações

Por enquanto, só existem hipóteses. Uma delas sugere que as células desse rato são capazes de resistir à oxidação, muito provavelmente motivo pelo qual nenhum ser dessa espécie observado jamais apresentou evolução de um câncer. 

Os cientistas russos Vera Gorbunóva e Andrêi Seluânov, que trabalham na Universidade de Rochester, nos EUA, descobriram recentemente como os ratos-toupeiras-pelados conseguem evitar essa doença tão temida por humanos. 

No organismo, as células saudáveis evitam se chocar umas contra as outras, comportamento chamado de inibição por contato. Logo que duas células se aproximam demais, há o aumento da concentração de uma proteína especial interna que inibe seu crescimento. 

No entanto, as células cancerígenas não respondem a essa proteína e, ao contrário, continuam crescendo e atacando o organismo. 

No rato-toupeira-pelado, o mecanismo de inibição por contato é muito mais complexo e utiliza várias proteínas. Isto é, se um mecanismo de inibição falha, outros entram logo em ação. 

Por esse motivo, o pequeno roedor é objeto de estudo nos EUA e na Europa. Na Rússia, infelizmente, tais estudos ainda não são realizados. “Isso é uma vergonha! Nenhum laboratório russo tem um rato-toupeira-pelado sequer”, desabafa Maksim Skulatchev. 

Na África, já existem empresas especializadas no fornecimento de ratos-toupeiras-pelados a laboratórios científicos. Com orçamento ampliado para projetos científicos na Rússia, espera-se, contudo, que os cientistas russos poderão adquirir novos animais. 

Versão russa

Acredita-se, porém, que na Rússia viva um animal com qualidades semelhantes. Parente próximo do hamster, a ratazana-toupeira-do-Norte é um roedor subterrâneo que cava túneis e come as raízes das plantas, assim como o rato-toupeira-pelado. 

Esse ser também apresenta um monte de coisas inexplicáveis. Por exemplo, não está claro como os animais se dividem em machos e fêmeas. Os demais animais, incluindo seres humanos, têm dois cromossomos sexuais: X e Υ. No caso da ratazana-toupeira-do-Norte, tanto machos como fêmeas possuem cromossomos X e X. 

Outro desafio polêmico no meio científico é saber se o roedor hiberna ou não no inverno. Alguns especialistas sugerem que nas colônias de ratazana-toupeira-do-Norte existe uma divisão do trabalho e, assim, um revezamento. Contudo, o maior mistério ainda é saber por que os animais não envelhecem. 

“A velhice é definida como a deterioração de um organismo com o passar do tempo”, diz Evguêni Novikov, cientista que trabalha no laboratório de adaptações fisiológicas de vertebrados. 

“Não registramos nenhumas deteriorações em ratazanas-toupeiras-do-Norte. Seus parâmetros de atividade física, mobilidade e força muscular se mantêm inalterados. Também não verificamos neles a diminuição da troca energética, isto é, os animais permanecem jovens em todos os aspectos”, explica o Novikov. 

Em busca da juventudeSegundo Maksim Skulatchev, não se sabe ao certo quanto tempo pode viver uma ratazana-toupeira-do-Norte. “As condições de vida na Sibéria são muito duras e têm impacto negativo no tempo de vida de animais”, completa. 

Algumas dezenas de ratazanas-toupeiras criadas em Novosibirsk, na Sibéria central, foram transportadas para um laboratório da Universidade de Moscou, onde estão sendo mantidas em observação. 

Os cientistas acreditam que, assim como rato-toupeira-pelado, as ratazanas-toupeiras têm seu próprio mecanismo para neutralizar os tumores malignos. “Queremos combiná-lo com uma substância que evita a oxidação das células”, explica Skulatchev. Se a experiência for bem sucedida, o animal poderá viver por muito tempo. 

Espera-se que um dia toda essa evolução bioquímica possa ser aplicada no ser humano. Embora haja um longo caminho pela frente, é reconfortante saber que existe a possibilidade, ainda que teórica, de vencer a velhice. 

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