Guerra virtual vira realidade

Foto: PhotoXpress

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No início do mês, o mundo despertou para uma nova era. Os Estados Unidos foram a primeira potência mundial a assumir o uso de uma arma cibernética de ataque. A notícia, comparável ao lançamento da primeira bomba atômica sobre Hiroshima em meados do século 20, foi detalhada em um longo artigo publicado no jornal “The New York Times”.

De acordo com o veículo norte-americano, o governo desenvolveu e fez uso de uma ciberarma para paralisar as instalações nucleares iranianas. Com o nome “Jogos Olímpicos”, os trabalhos foram iniciados na época do presidente George W. Bush e intensificados sob o comando de Obama.

Na verdade, os indícios de que os EUA utilizam esses instrumentos estão presentes há muito tempo. Em maio, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, já havia informado que os órgãos governamentais invadiram os sites da Al-Qaeda, alterando substancialmente seu conteúdo.

O escândalo sobre uso de uma ciberarma pelos EUA veio à tona depois de um software introduzido no sistema de comando das instalações de enriquecimento de urânio em Natanz, no Irã, ter apresentado falhas técnicas. Detectado pelos especialistas em segurança cibernética, o vírus Stuxnet causou a paralisação temporária de aproximadamente 20% das instalações iranianas para enriquecimento do urânio. O governo americano se mostrou satisfeito com o resultado, alegando ter atrasado em pelo menos dois anos o desenvolvimento do setor nuclear no Irã. Os detalhes da operação podem ser encontrados no livro “Confront and Conceal: Obama’s Secret Wars and Surprising Use of American Power” (“Confronto e Disfarce: Guerras Secretas de Obama e o Uso Surpreendente do Poderio Americano”, em tradução livre), de David Sanger.

O artigo publicado no “The New York Times”, entretanto, fala sobre um nível completamente diferente de uso de tecnologias eletrônicas para fins militares. “Pela primeira vez os EUA usaram uma ciberarma para destruir a infraestrutura de um país, o que antes só podia ser feito por meio de bombardeios ou envio de sabotadores”, descreveu o jornal.

Defensor dos republicanos, o senador John McCain acusou o governo de Obama de divulgar informações confidenciais para fins de propaganda eleitoral. De acordo com McCain, o presidente “está tentando garantir sua reeleição em detrimento dos interesses da segurança nacional”.

O próprio FBI abriu uma investigação de vazamento de informações, deixando em evidência a seriedade do assunto. A Casa Branca rejeita as acusações lançadas pelo senador do Arizona, mas não desmente as informações citadas no “The New York Times”.

Teclado como arma

Os EUA estão prestes a aprovar um projeto de lei sobre a segurança cibernética para se defender contra ameaças reais e manter em bom funcionamento as infraestruturas vitais, como redes energéticas, transportadoras aéreas e, certamente, a Bolsa de Nova York, das quais depende muito sua segurança nacional.

“O próximo ataque semelhante ao de Pearl Harbor que podemos eventualmente enfrentar será cibernético”, afirma o diretor da CIA e atual secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta. “Um ciberataque pode significar uma guerra.”

As autoridades do país assumiram recentemente que se os EUA forem alvo de um ciberataque, irão  encará-lo como um ato de guerra e, logo, se reservam o direito de retribuir com todos os meios a seu alcance.

De acordo com o general aposentado do Serviço de Inteligência Exterior da Rússia, Guennádi Evstáfiev, os conceitos de ciberataque e ciberguerra não têm definição precisa no direito internacional. “É muito difícil localizar a fonte de um ciberataque, especialmente se considerarmos a discrepância em termos de potencial tecnológico”, explica.

Evstáfiev acha necessário iniciar um diálogo internacional sobre as regras de conduta dos países no ciberespaço. “Quanto mais cedo a comunidade internacional encontrar soluções para essas questões, melhor será para todos”, arremata.

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