Foto: AFP/East News
“É preciso alterar as condições de funcionamento do sistema financeiro internacional”, afirmou o presidente russo, Vladímir Pútin, durante uma entrevista coletiva após a reunião dos líderes do G20 em Los Cabos, no México.
Sem fazer rodeios, o presidente assumiu expôs sua visão dos problemas-chave da economia global e assumiu uma postura severa em relação à dívida. “É absurdo que, na zona do euro, a dívida pública ultrapasse, em média, 80% do PIB e nos EUA, atinja 104%”, completou.
Segundo Pútin, é preciso reduzir o déficit orçamentário nas maiores economias do mundo e reestabelecer o nível das moedas nacionais, sobretudo porque a Rússia mantém suas reservas oficiais em euros, dólares e em títulos do governo dos países desenvolvidos.
“O que acontecerá com o dólar após as eleições presidenciais nos Estados Unidos em novembro e como eles irão resolver a dívida pública no valor de 15 trilhões?”, considerou. Ao assinalar que o fim do mundo não está ligado ao calendário maia, mas à incessante dívida pública dos EUA, Pútin deu a entender que nao tem a menor intencao de assistir passivamente como as reservas oficiais da Rússia sao usadas por um pais que tem muitas divergencias com Moscou.
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O presidente ainda anunciou que a próxima cúpula do G20 será realizada na cidade de São Petersburgo em 2013. Sendo um dos principais defensores do G20 como o principal fórum internacional para negociações informais, Pútin acredita que a reunião na Rússia poderá vir a ser mais uma etapa no caminho rumo ao aumento do papel do país na economia global.
Segundo ele, os esforços da próxima cúpula estarão concentrados na reforma do sistema monetário internacional, no reforço das instituições financeiras internacionais, principalmente o FMI, e na reforma do sistema de regulação dos mercados financeiros.
Em uma reunião realizada no âmbito da cúpula do G20, os líderes do Brics deram apoio à posição do presidente russo, em particular a China, que nos últimos anos concedeu empréstimos imensos aos países desenvolvidos.
Entrave político
As discrepâncias no campo político entre os países mais prósperos e os em desenvolvimento estão aumentando. A Síria é um dos exemplos mais marcantes disso. Moscou considera que o destino do presidente sírio, Bashar al-Assad, deve ser decidido pelos próprios sírios e não pelas demais potências mundiais.
“Sabemos que parte do povo sírio representada pela oposição armada queria que o presidente Assad renunciasse. Mas, em primeiro lugar, eles não são todo o povo sírio e, mais importante, se ocorrer uma mudança de regime no país, é fundamental que a paz seja estabelecida”, afirmou Pútin.
Em uma declaração conjunta aprovada após o encontro Pútin-Obama em Los Cabos, os dois presidentes se manifestaram favoráveis ao plano do enviado especial da ONU, Kofi Annan, e ao “movimento rumo a uma transição política para um sistema político democrático e pluralista a ser exercida pelo próprio povo sírio”.
Segundo o presidente russo, a Rússia e os Estados Unidos não estão perto de chegar a um consenso sobre a instalação da defesa antimíssil na Europa. “Acho que o problema do escudo não será resolvido, independente de Obama ser reeleito ou não”, disse. Em relação ao projeto de lei norte-americana Magnitsky, que iria proibir a entrada nos EUA de autoridades russas envolvidas em situações que violem os direitos humanos, Pútin demonstrou indignação. “Não entendo qual é o valor dessa medida.”
O documento não diz uma só palavra sobre a renúncia de Assad. No entanto, em uma entrevista coletiva após o encontro, Obama disse não ver “nenhuma possibilidade de alterar a situação na Síria se Bashar Assad permanecer no poder”.
A posição do governo russo é, por sua vez, compartilhada pela China e apoiada pelos líderes do Brics. Em Los Cabos, Obama teve ainda uma reunião com o líder chinês, Hu Jintao, que também insiste em resolver o problema sírio de forma pacífica.
“A situação na Síria é complicada, ainda há confrontos entre a oposição e o regime de Assad. Apesar de assumirem posições diferentes sobre a situação, China, Rússia e EUA se mostram dispostos a aproximar suas posições e encontrar uma solução comum”, diz Leonid Siukiânen, jurista e professor da Escola Superior de Economia.
“As negociações vão continuar, mas é difícil dizer qual será o desfecho. Mas esperamos que, seja qual for, não preveja o emprego de força nem uma intervenção externa na Síria”, completa.
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