Aleksêi Gromov Foto: Vanor Correia
Brasil e Rússia devem ter papel de liderança na transição para uma economia de baixo carbono, afirmou o diretor-geral do Instituto de Estratégia Energética da Federação Russa, Aleksêi Gromov, durante seminário sobre sustentabilidade em energia promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Rússia.
Segundo ele, ambos os países já incorporaram em seu planejamento a concepção de que os combustíveis fósseis são finitos e de que é urgente desenvolver alternativas de menor impacto ambiental. “Os países devem investir pesadamente em novas tecnologias”, diz Gromov.
O evento integrou a programação da Rio+20. Organizado pela delegação da Federação Russa à Rio+20, o encontro contou com o apoio da seção brasileira da Aliança das Civilizações, organismo de estudos da ONU, e do Cazaquistão.
Transição aquecida
Gromov apresentou um estudo sobre o panorama da energia mundial até 2050. Alinhado com conclusões de especialistas de países desenvolvidos e emergentes, o estudo aponta para o predomínio das fontes fósseis até 2030, e umaprovável mudança de paradigma em 2050.
‘Cisnes negros’ são aqueles eventos cuja raridade obrigam a revisar teorias e modos de pensar. “Listamos 32 riscos para a estabilidade, incluindo o colapso dos sistemas de coleta de resíduos e tratamento de água em alguns dos principais centros do planeta”, enumera diretor da Academia Russa de Ciências Naturais e economista, Aleksandr Ageev.
No ritmo atual de produção de consumo, as tecnologias em estudo permitem apenas afastar o risco de colapso por 20 a 30 anos, mas não eliminá-lo por completo. Todos os dias cada europeu produz, em média, 10 kg de resíduo. No ano, são 3,65 toneladas. Em 20 anos, mais da metade da população da terra residirá na China ou na Índia.
“Quais seriam os efeitos se os padrões de consumo se tornaram o mesmo da Europa? Hoje, 20% da população da Terra consome 80% dos recursos”, comenta. Ageev acredita que a desigualdade na distribuição de renda e nas oportunidades está na raiz do crescimento das tensões sociais em boa parte do planeta.
Ainda assim, o especialista se mostra otimista quanto às perspectivas de crescimento do Brasil e cooperação com a Rússia. “O desenvolvimento rápido traz, contudo, ameaças novas, e os novos tempos vão cobrar assertividade na escolha e posições”, adverte.
A necessidade de controlar o aquecimento global, limitando as emissões que causam o efeito-estufa, será o fator preponderante na guinada.
“A Rússia tem as maiores reservas de gás do planeta, mas também capacidade de investir e desenvolver novas tecnologias”, argumenta o especialista.
A energia já foi comercializada de maneira padronizada, como commodity. Mas, com o tempo, sua negociação tem mudado para o setor de serviços, em que o valor agregado se deslocou para a logística, a capacidade de entregar no prazo e com as especificações requeridas nos principais mercados.
“Os recursos serão cada vez mais locais, para diminuir o risco político. As tecnologias é que serão transacionadas internacionalmente”, prevê Gromov.
A maior ênfase na tecnologia marcará o mercado de gás natural, à medida que sua fatia na matriz energética mundial for aumentando.
“O Brasil é uma país de dimensões continentais, como a Rússia. A experiência russa em transporte de gás a grandes distâncias pode ser útil aos brasileiros”, afirma.
Além disso, empresas russas figuram entre as líderes no uso das partículas mais ricas do gás natural para a cadeia de termoplásticos e insumos industriais.
“O futuro do gás está na química. O Brasil pretende usar o gás que tem na fabricação de fertilizantes, do qual somos grandes produtores. Podemos participar desse esforço em cooperação,” conclui.
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