Atual secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, propôs um conceito de “defesa sensata” Foto: AP
É difícil avaliar os resultados da recente cúpula da Otan em Chicago diante da corrida eleitoral nos Estados Unidos. A imagem de líder da “aliança militar mais bem sucedida na história” permite a Barack Obama considerar que sua política externa foi positiva. Mesmo assim, entre diversos problemas, a aliança questiona sua principal função no cenário global.
“A verdade é que a Otan trabalha na defensiva”, disse o comentarista internacional Fareed Zakaria à rede de televisão CNN. Ao ser concebida como uma forma de defesa durante a Guerra Fria, “a aliança simplesmente tem procurado o que fazer”.
Claro que, para combater o terrorismo internacional, não faz sentido usar exércitos regulares e a situação no Afeganistão é prova disso. Ao anunciar pela enésima vez o fim da campanha afegã e a retirada das tropas até 2014, o presidente americano confirmou que a rápida vitória militar sobre o talibã em 2001 não acabou com a ameaça terrorista no país nem trouxe paz ou prosperidade ao povo afegão. Anunciar o fim da mais prolongada guerra na história dos EUA tem, contudo, efeito na campanha eleitoral.
Ainda assim, a ausência de um inimigo comum esbarra nas prioridades dos parceiros norte-americanos, que não veem sentido em usar recursos financeiros para fins militares face à crise que parece não ter fim.
Antes de renunciar ao cargo em junho do ano passado, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, questionou a má distribuição das despesas financeiras entre os países da aliança, aspecto que ficou evidente durante a campanha militar de seis meses contra a Líbia.
Para aliviar a carga financeira dispensada pelos países da Otan, o atual secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, propôs um conceito de “defesa sensata” durante a recente. Porém, a ideia já havia sido discutida na cúpula anterior, em Lisboa, que previa uma resposta coletiva à ameaça de mísseis por parte dos países renegados – nomeadamente Irã e Coreia do Norte –, sem levar em consideração os defeitos da defesa antimíssil europeia.
Em primeiro lugar, o Irã não possui armas nucleares nem mísseis de longo alcance capazes de atingir a Europa.
Além disso, a participação dos países da Otan em um escudo antimíssil europeu proposta por Obama visa nada mais nada menos que corrigir a postura arrogante assumida pela administração de George W. Bush após a retirada dos EUA do Tratado ABM (Tratado de Defesa Antibalística) em 2003.
Por fim, a iniciativa causou preocupação no Kremlin, uma vez que o escudo europeu, em conjunto com os armamentos ofensivos dos EUA, seria capaz de neutralizar os mísseis estratégicos da Rússia, a única garantia da segurança desse país cujas forças armadas estão desatualizadas após 20 anos de reformas econômicas.
Os líderes dos países da Otan, por sua vez, salientaram em uma declaração oficial aprovada em Chicago que “o escudo antimíssil da Otan não atenta contra a Rússia nem prejudicará sua força de dissuasão estratégica”.
Ainda segundo o documento, os países pediram à Rússia para “dar continuidade ao diálogo com vista à busca de um acordo sobre a futura moldura de cooperação na área de defesa antimíssil”.
Embora Moscou não tenha comentado a declaração da Otan em torno da defesa antimíssil, tudo indica que o diálogo russo-americano nessa área terá continuação.
Em um de seus primeiros discursos depois de tomar posse como presidente, Pútin afirmou que Moscou continuará procurando garantias jurídicas de que o escudo antimíssil europeu não atentará contra a Rússia.
“Mesmo assim, se hoje não existe nenhuma ameaça aos mísseis russos, ninguém pode garantir que as coisas permanecerão assim”, contrapõe o general aposentado Guennádi Evstáfiev, um dos mais conhecidos especialistas no assunto.
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