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A Europa é e sempre foi um tradicional parceiro comercial da Rússia. Além disso, é também o maior parceiro nessa área da China, outro destino-chave para as exportações da Rússia. Desse modo, quando a Europa está enfrentando dificuldades, a questão que vem a cabeça é como isso irá impactar a economia russa.
Ao que tudo indica, pelo menos por enquanto, o impacto da crise do euro não foi particularmente significativo nesse setor. A atual economia da Rússia cresce em um ritmo relativamente lento, embora operando com um diferencial do PIB reduzido. Em outras palavras, a demanda excede a oferta, portanto, uma redução relativamente pequena na demanda externa não foi sentida de forma substancial.
Nesse contexto, tudo depende realmente se os problemas do euro acabarão provocando uma desaceleração significativa e constante dos preços das commodities. De fato, durante os últimos sustos do mercado relacionados a problemas europeus, os preços das commodities, que são a chave para Rússia obter poder, mais especificamente, petróleo e metal, experimentaram um declínio bastante expressivo. É assim que a economia da Rússia pode realmente ser atingida de forma dura, e onde o governo também sentirá os efeitos.
A tributação do setor petrolífero russo está estruturada de tal modo que as companhias de petróleo pagam uma parcela progressivamente mais alta de seus receitas em impostos quando os preços de petróleo estão mais elevados – uma espécie de sistema progressivo de imposto sobre o rendimento, mas em proporções extremas.
Isso assegura que os lucros de petróleo inesperados não beneficiem especialmente as petrolíferas, mas sejam (presumivelmente) distribuídos pela população russa, a quem o solo do petróleo realmente pertence.
Ainda assim, essa política tem um efeito colateral interessante. Quando os preços do petróleo caem, as petrolíferas observam uma ligeira queda em seus rendimentos, enquanto, a preços elevados, a maior fatia de suas receitas são repassadas para a sociedade.
O lado negativo, porém, é que o governo acaba sofrendo um forte impacto, e o declínio dos rendimentos marginais do governo é bastante alto quando os preços do petróleo são elevados ao extremo.
Assim, a Rússia deve ser seriamente afetada pela crise europeia caso provoque uma queda significativa nos preços de petróleo. Esse foi o caso no passado, e pode ser novamente agora. Parece, contudo, que o mercado de petróleo está estruturalmente mais estreito, então, embora um breve colapso nos preços seja bem possível, um impacto a longo prazo é muito mais improvável.
Além de implicações comerciais diretas, há também os mercados de capitais, que sofrem com a crise europeia de maneira profunda. Em particular, o mercado de ações na Rússia é extremamente sensível a qualquer declínio no apetite global pelo risco.
Todas as vezes que o mundo começa a temer uma eminente crise financeira na Europa, os investidores começam a vender não só suas ações europeias, mas também nas demais regiões do mundo, que não são vistas como “isentas de risco”.
As ações russas também não são percebidas como tal, logo, mesmo que, como já observamos, não exista impacto material direto na economia, quando a crise se agrava, essas ações são vendidas de forma massiva.
No ano passado, considerando os dois extremos, o mercado de ações russos perdeu impressionantes 43% devido aos receios de que o sistema bancário na zona do euro fosse à falência. Um impacto semelhante, embora em escala de menor magnitude, é normalmente sentido no rublo e nos rendimentos de títulos. A moeda russa perdeu 16% de seu valor em virtude dos problemas financeiros na Europa.
Esse impacto na avaliação de ativos não é exclusividade da Rússia. Recentemente, o mesmo processo sofrido pela Rússia por causa dos receios na Europa foram sentidos pelos demais mercados emergentes. Mesmo assim, essa ocorrência comum não contribui em nada para a situação do país e as consequências e quedas violentas nos preços de ações no setor financeiro russo não se tornam menores por causa disso.
Essas repercussões estão relacionadas ao valor das garantias sobre créditos corporativos, desencadeiam chamadas de margem e resultam em outros fatores, impactando negativamente a qualidade dos empréstimos dos bancos.
Todos esses aspectos só são verdadeiros enquanto as autoridades europeias e o Banco Central Europeu não permitirem que os problemas financeiros da região desencadeiem uma crise bancária sistêmica, causando o congelamento de mercados monetários, ausência de financiamento do comércio e outras experiências semelhantes pós-Lehman.
Isso não parece provável, mas, na ocorrência de um caos financeiro, as implicações para a Rússia serão muito mais dramáticas, promovendo, assim, uma séria recessão em termos de desempenho econômico.
Aleksêi Moiseev é diretor de análise macroeconômica e pesquisa em renda fixa do VTB Capital
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