Manifestantes tomam ruas de Moscou na véspera da posse de Pútin

Foto: Ricardo Marquina Montañana / RBTH

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Uma grande manifestação tomou conta das ruas de Moscou na véspera da posse do presidente eleito Vladímir Pútin, mostrando a força e a radicalização dos protestos populares. Segundo os especialistas, as ações foram mais uma vez motivadas pela falta de diálogo entre o governo e a oposição.

Estima-se que 20 mil pessoas compareceram à manifestação na Praça Bolotnaia, no centro da capital russa, para exigir novas eleições presidenciais e parlamentares em virtude das supostas fraudes eleitorais.

“É uma situação muito desconfortável para Pútin”, diz Evguêni Mintchenko, diretor do Instituto Internacional de Experiência Política. “Ele gostaria que as coisas transcorressem com tranquilidade, mas as pessoas estão determinadas a protestar.”

Porém, ao contrário das demais manifestações ocorridas em Moscou ao longo dos últimos seis meses, o protesto rapidamente transformou-se em palco de violência.

Dezenas de radicais em meio à multidão entraram em confronto com a polícia na tentativa de marchar em direção ao Kremlin. Mais de 400 foram detidos, e vários manifestantes e policiais acabaram sendo feridos.

“Muitos espectadores previram que a onda de protestos, mais precisamente cinco grande manifestações em Moscou entre dezembro e março, teriam fim logo após as eleições presidenciais no dia 4 de março, mas a mobilização deste domingo provou o contrário”, disse o analista político independente Stanislav Belkovski.

“A sociedade tem potencial para protesto.  A motivação para conquistar mudanças não desapareceu, e muitas pessoas ainda estão pressionando a Rússia para que se torne um país europeu como os demais”, disse Belkovski.

As mobilizações uniram uma grande variedade de grupos políticos e ideológicos, que acusam o governo Pútin de corrupção, ineficácia e repressão às liberdades civis.

No entanto, o presidente eleito e seus seguidores responderam as acusações classificando os manifestantes como comparsas do Ocidente que buscam minar a soberania russa.

“A oposição está radicalizando porque o governo Pútin tem falhado em estabelecer um amplo diálogo com ela após as primeiras manifestações de dezembro”, aponta Aleksêi Makarkin, analista do Centro de Tecnologias Políticas.

O governo anunciou uma reforma para liberalizar a legislação política após tais protestos, mas começou a reverter as promessas desde dezembro, afundando as reformas num mar de burocracia.

Segundo os analistas, a intenção era deformá-las de modo que o rígido controle do Kremlin sobre a vida política do país permanecesse em plena atividade.

Os especialistas divergem quanto às perspectivas radicais do movimento da oposição. De acordo com Makarkin, trata-se de um beco sem saída, pois esses atos violentos acabam alienando os manifestantes mais moderados, enquanto Belkovski acredita que essa é a única maneira de manter viva a determinação depois de diversos protestos pacíficos não terem conseguido impressionar o governo.

De qualquer modo, os confrontos foram uma surpresa desagradável para Pútin. Não só seu retorno ao Kremlin após dois mandatos presidenciais entre 2000 e 2008 ficará marcado pelos observadores do mundo todo por uma violenta repressão contra a oposição, mas os acontecimentos também acabaram intensificando o movimento como nunca, acreditam os especialistas.

“O diálogo continua ser a melhor solução para a crise política, mas Pútin perdeu a chance em dezembro e é bastante improvável que comece a conversar agora, depois da demonstração de poder de seus adversários”, diz Makarkin.

“As autoridades não sabem criar um diálogo e também não fazem questão disso”, afirma.

Segundo o especialista, Pútin deve começar a refrear os protestos, proibindo, por exemplo, manifestações no centro de Moscou. “A oposição falava no domingo sobre as últimas horas de liberdade”, conta.

Mas, de acordo com  Belkovski, isso não funcionaria em longo prazo, pois a população não tem mais medo de seguir em frente.

“Um protesto violento não vai mudar nada”, concorda Mintchenko. “Mas se tiver continuidade, e provavelmente terá, mesmo sendo uma manifestação não autorizada, irá eventualmente colocar em risco o papel das autoridades e sua permanência no poder.”

Ainda assim, nenhum dos especialistas se prontificou a elaborar possíveis cenários de mudança de regime no país.

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