Roman Sablin em seu ecoloft próximo ao Kremlin Foto: Ivan Afanasiev
O amor de Roman Sablin pela cor verde começou logo após seu divórcio, talvez porque essa seja a cor da esperança e era exatamente isso que Sablin precisava naquele momento.
Formado em filologia, Sablin, veio de um pequeno vilarejo próximo a Novosibirsk. O ex-empresário tinha um ótimo emprego formal em uma construtora, mas não estava muito satisfeito.
Com a mente aberta e em busca de si mesmo, Roman costumava deixar o escritório à noite para se aventurar no mundo de festas e casas noturnas, mas esse estilo de vida não conseguiu satisfazê-lo por muito tempo.
O que realmente queria era mudar o mundo, e ele começou pela arte. Chamou seu lar de “apartamento-arte” onde pessoas afins, à base de vinho tinto, vodca e cigarros, se reuniam e discutiam medidas para promover um mundo melhor.
Dentro de poucos meses, o grupo juntou tantas garrafas vazias que Roman começou a empilhá-las entre as janelas. Ele notou que na Rússia não havia lixeiras para reciclagem de vidro e isso o incomodava. Passou então a pensar sobre uma maneira mais verde de viver.
O ecoloft na rua Piatnitskaia
Sablin trocou todas as lâmpadas do apartamento por econômicas. Seus colegas artistas ficaram boquiabertos.
Roman Sablin nasceu em 1979 no assentamento de Timer Tau em Kemerovo, na Sibéria oriental.
Estudou em Novosibirsk e, em 2001, formou-se em filologia e literatura. Depois partiu para Moscou e passou a trabalhar para a construtora Technonikol, onde foi promovido a chefe do departamento de relações públicas.
Em 2010 Sablin largou o emprego e se mudou para um ecoloft com mais quatro pessoas. Foi então que fundou a agência GreenUp, que ajuda empresas a desenhar escritórios sustentáveis. Desde essa época, Sablin tem sido o coordenador de projeto do portal www.ecowiki.ru e, em 2011, deu início ao projeto de uma casa ecológica perto de Moscou.
Pouco tempo depois, encontraram sacolas plásticas penduradas na cozinha com etiquetas de identificação: “papel”, “plástico” e “orgânico”. Roman começou a separar o lixo.
Mesmo assim, a mudança de comportamento não fazia sentido, uma vez que todas as sacos acabavam indo parar no mesmo latão atrás do prédio. Mas isso também estava com os dias contados.
Sablin se mudou daquele apartamento e descobriu um ecoloft em um antigo prédio na rua Piatnitskaia, próximo ao Kremlin. No verão de 2010, se instalou no espaçoso apartamento de cinco quartos com outros quatro amigos.
As camadas de papel de parede, ali há décadas, foram removidas e as paredes foram pintadas com uma tinta ecológica. Na sala de estar, um antigo forno russo coberto de adesivos soviéticos decora o espaço.
Na parede adjacente está escrito o site do ecoloft em letras garrafais, e sobre a mesa, panfletos com informação para os visitantes que quiserem saber como viver de maneira sustentável em uma cidade tão distante dessa realidade.
Antes de grande inauguração do loft, todos os moradores rasparam a cabeça: nenhum xampu significava menos consumo de água.
Sacolas de pano foram penduradas no corredor em protesto contra os onipresentes sacos plásticos. Eles começaram a separar o lixo, e descobriram os lugares em Moscou onde poderiam depositar plástico, papel e garrafas vazias.
Roman tinha descoberto sua missão. Hoje usa óculos modernos de armação quadrada– verdes, é claro – e não bebe álcool ou come carne. Tenta ao máximo evitar qualquer gasto desnecessário de energia e assumiu o compromisso de mudar a maneira como os moscovitas pensam.
Educação para uma vida saudável
Roman Sablin se refere a seu loft como um projeto educacional. Seu objetivo é mostrar aos jovens que mesmo sob circunstancias difíceis é possível proteger o meio ambiente.
Toda quinta-feira à noite há seminários sobre ecologia com especialistas, pesquisadores e ativistas – cedo ou tarde, todos acabam indo parar na sala de estar da rua Piatnitskaia para compartilhar suas experiências com o público.
A sala é agora muito pequena para comportar todo mundo. Setenta pessoas é o máximo, mas, em média, mais de 100 pessoas participados das reuniões.
Sablin tornou-se uma espécie de celebridade. Todas as televisões russas já fizeram matérias no ecoloft, bem como os principais jornais e revistas.
Recentemente cinco jovens da Ucrânia e da Bielorrússia visitaram o local para ver a experiência com seus próprios olhos.
Pela milésima vez, Roman fez um tour pelo apartamento, incluindo as sacolas de pano e os cestos de lixo. Os visitantes observaram o fardo de palha na sala de estar com entusiasmo, assim como com o chuveiro no corredor e as paredes pintadas. O próprio Sablin conduziu os visitantes pelos cômodos.
Os cinco jovens eram todos ouvidos, e seus olhos vão crescendo à medida que Sablin contava sobre quando deixou seu excelente emprego para trás – junto com o terno e a gravata – e trocou todas essas coisas para se dedicar integralmente ao meio ambiente.
Ele ganha dinheiro em paralelo como freelancer, e diz não precisar de mais. Em maio do ano passado, também deu início a um novo projeto: uma casa ecológica no campo.
Essa casa, localizada em um vilarejo fora de Moscou, possui um grande jardim, energia solar, comida vegetariana, ioga e outros elementos pertencentes a um modo de vida ecologicamente correto. Dozes jovens ativistas de diferentes áreas estão planejando viver juntos ali. A casa pode acomodar até cem pessoas, e as portas estão sempre abertas.
As visitas podem viver na casa por uma semana enquanto aprendem sobre eficiência energética. Sablin ainda está procurando patrocinadores, mas, segundo ele, as perspectivas são boas.
E o que o seu filho Liona de apenas quatro anos pensa sobre a nova vida do pai? “Agora ele está explicando à minha ex-mulher como exatamente separar o lixo”, disse Roman Sablin com um grande sorriso nos lábios.
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