Yashin era popularmente conhecido como “Aranha Negra” por causa da cor de seu uniforme Foto: Ria Nóvosti.
Com apenas 21 anos, Ladislao Mazurkiewicz ganhou, em 1966, a Copa Libertadores pelo time uruguaio Peñarol e, pouco depois, a Intercontinental.
Apesar da pouca idade, seu nome subiu rapidamente ao topo dos melhores goleiros do mundo. Assim, em 1968, junto com outras estrelas do futebol mundial, foi convidado pela Fifa a participar de uma partida especial em celebração à primeira Copa do Mundo vencida pelo Brasil.
Foi ali onde conheceu o veterano e lendário goleiro soviético Lev Yashin, eleito pela própria Fifa melhor goleiro do século 20.
“O idioma não nos ajudava muito a estabelecer um diálogo. Ele me ofereceu suas luvas durante o treinamento como uma lembrança. Quando se aposentou dos campos em 1971, ele me disse que eu era seu sucessor”, contou Mazurkiewicz em uma entrevista a GolTV.
Ladislao, uruguaio e filho de imigrantes poloneses, foi realmente um digno herdeiro de Lev Yashin – quem nunca enfrentou em uma partida oficial. O goleiro alcançou as semifinais do Mundial de 1970 e, embora a seleção uruguaia tenha perdido do Brasil, acabou sendo nomeado melhor goleiro do torneio.
Além do Peñarol, ao longo de sua carreira Mazurkiewicz jogou em campeonatos no Brasil, Colômbia, Chile e Espanha. Desde que se aposentou, ele trabalha no Peñarol como treinador de goleiros.
“O goleiro tem que jogar de preto, cinza e ou azul escuro. Com a arquibancada atrás dele, o atacante não tem nenhum ponto de referência”, explica Mazurkiewicz, que jogou toda sua carreira de preto, outra lição absorvida com o mestre soviético.
Teia de sucesso
Nascido em Moscou em 1929, Lev Ivanovich Yashin começou sua relação com o esporte aos 12 anos na equipe de hóquei no gelo de uma fábrica de ferramentas onde trabalhava durante a 2a Guerra Mundial.
Aos 14 teve que substituir o goleiro do time de futebol da fábrica, o Bogatir de Krasnti. Assim, quase sem querer, teve início a lenda do melhor goleiro da história do futebol.
Em 1949, com 20 anos, o Dínamo de Moscou o convidou para dedicar-se profissionalmente ao futebol. Nunca mais vestiria outra camisa. Nas 20 temporadas (276 partidas) que jogou pelo Dínamo, ganhou cinco campeonatos da Liga Soviética e três títulos na Copa.
Na realidade, Yashin vestiu outra camisa durante sua carreira: a da seleção da URSS, em 75 partidas oficiais, todas elas entre 1954 e 1970.
Brilhou na Copa do Mundo de 1958, a primeira transmitida internacionalmente pela televisão graças ao satélite soviético Sputnik II. O veículo aumentou ainda mais a popularidade de Yashin.
Por ser um mito esportivo da URSS, sua figura despertou curiosidade e admiração no Ocidente durante os anos mais tensos da Guerra Fria. Uma lenda reforçada pelo próprio carisma de Yashin.
“O segredo é fumar um cigarro para acalmar os nervos e depois tomar uma boa dose de alguma bebida forte para tonificar os músculos”, disse certo dia sobre sua preparação para os grandes jogos.
Líder implacável
O “Aranha Negra” defendeu mais de 150 pênaltis durante sua carreira, de modo que, quando tomava um gol, isso era motivo de orgulho para o adversário.
“Perdíamos de 2 a 1, quando o juiz deu um pênalti a nosso favor. Fui batê-lo e no gol estava Yashin. Era um goleiro incrível e pegava muitas bolas, além de ser uma figura intimidante, vestido todo de preto”, confessou o inglês Torn Finney sobre a semifinal da Copa do Mundo de 1966.
Finney marcou esse pênalti e a URSS acabou sendo eliminada, mas aquelas semifinais permanecem ainda como o melhor resultado que o país já alcançou em um mundial.
Embora tenha perdido a Copa do Mundo, Yashin liderou o futebol soviético em uma época gloriosa, que incluiu um título na Eurocopa e uma medalha de ouro nas Olímpiadas de Melbourne, em 1956. Foi também o primeiro e único goleiro na história que recebeu o prêmio Bola de Ouro, na temporada de 1963.
Além dos números, o “Aranha Negra” foi um pioneiro que mudou o papel dentro de um time de futebol. Até então, essa posição pertencia a um mero figurante sem protagonismo nem sobrenome.
Com Yashin, o goleiro tornou-se ator principal, uma verdadeira barreira, que não se limitava a permanecer debaixo das traves, mas que dava ordens à defesa e fazia dessa área sua zona de influência. A mera presença de Yashin intimidava.
Fora a lenda que o rodeava e o característico uniforme preto, destacava-se por seus 1,90 de altura, bem acima da média na época. Além do mais, foi o primeiro goleiro da história a usar luvas.
Em 1971, mais de cem mil espectadores compareceram a seu jogo de despedida em Moscou, que reuniu as maiores estrelas do futebol da época: Bobby Charlton, Pelé, Beckenbauer e Eusébio.
Lev Yashin morreu em 1990 devido a um câncer de estômago, mas jamais foi esquecido. Quatro anos depois, a Fifa deu seu nome ao prêmio de melhor goleiro da Copa do Mundo.
Além disso, na entrada do estádio do Dínamo de Moscou, há uma estátua de bronze em homenagem ao melhor jogador da história do clube e de todo o futebol russo: o “Aranha Negra”.
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