Reprovados no teste de confiança

Foto: AP

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Divergências entre Moscou e países da Otan aumentam indecisão russa sobre sua participação na cúpula de Chicago.

A reunião de ministros das Relações Exteriores do Conselho Rússia-Otan em Bruxelas terminou sem alcançar resultados, assim como o encontro dos chefes dos Estados Maiores dos países da Otan (Aliança do Atlântico Norte) e da Rússia realizado pouco antes.

Ambas os encontros tiveram como objetivo acertar as posições das partes diante da cúpula da Otan prevista para o final de maio em Chicago e à posterior reunião do Conselho Rússia-Otan.

Esta última, contudo, acabou sendo cancelada, pois o presidente eleito Vladímir Pútin, que tomará posse no início de maio, se recusou a ir a Chicago.

Mesmo assim, após a reunião ministerial em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que as partes “reiteraram sua fidelidade aos princípios básicos da cooperação e o desejo de dar continuidade ao diálogo construtivo e resolver as divergências existentes”.

Infelizmente, a recente reunião do Conselho Rússia-Otan demonstrou que as partes mantêm um diálogo, mas não conseguem avançar rumo à solução dos problemas-chave das relações entre a aliança e o governo de Moscou, destacou a imprensa presente no evento.

Velha história


O principal motivo de insatisfação para os russos continua a ser o sistema de defesa antimíssil europeu que está sendo construído pelos EUA e a Otan próximo à fronteira da Rússia.

Serguêi Lavrov voltoua propor ao bloco a necessidade de uma declaração na resolução final da cúpula de Chicago evidenciando que o escudo antimíssil europeu não atenta contra a Rússia.

“Se um sistema de defesa antimíssil for criado na Europa vier a ser implementado, constituirá uma infraestrutura realmente perigosa para nossas forças”, disse.

Mas a Otan não está disposta a assinar um documento juridicamente vinculativo, até porque os EUA são terminantemente contra quaisquer restrições relacionadas a seu escudo antimíssil.

Diante dessa perspectiva, Rasmussen deu a entender que a aliança poderia dar, ao menos, garantias políticas.

No entanto, o governo de Moscou não quer se contentar com declarações políticas e terá de tomar medidas assimétricas – como a instalação de sistemas de mísseis Iskander nas regiões de Kaliningrado e de Krasnodar –  para defender seus interesses nacionais, segundo informou o presidente russo, Dmítri Medvedev, em dezembro do ano passado.

Situação afegã


A “cooperação exemplar” entre Moscou e Bruxelas no Afeganistão também não é tão boa como faz parecer Anders Fogh Rasmussen.

A Rússia fornece a Cabul  helicópteros Mi-17. O contrato de entrega foi pago, aliás, pelos EUA, e não pelos países da aliança que não conseguiram chegar a consenso sobre esse assunto.

Além disso, os russos treinam policiais afegãos no combate às drogas e concederam à Otan a permissão para transportar, através de seu território nacional, cargas e contingentes de tropas para a Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (ISAF, na sigla em inglês).

A Rússia se mostrou disposta também a conceder à Otan mais um terminal de transporte, situado na cidade de Ulianovsk, a sudeste de Moscou, apesar dos protestos locais.

Paralelamente, não há provas de que a aliança internacional deseja lutar contra a produção e exportação de entorpecentes do Afeganistão para a Rússia através dos países da Ásia Central.

Mais do que isso, o governo de Moscou é contra a retirada precipitada das tropas da aliança do Afeganistão e insiste em que a Otan permaneça militarmente no país até os afegãos serem capazes de manter sozinhos a estabilidade em seu país.

Além disso, Moscou não tem a menor intenção de atender ao pedido de Bruxelas para cofinanciar a criação de forças de segurança afegãs.

Desse modo, se a Otan sair do Afeganistão, os EUA instalarão ali suas bases. Segundo os militares russos, nesse caso o objetivo seria influenciar a situação no Oriente Médio em vez de lutar contra o terrorismo e o tráfico de drogas.

Participação limitada


Se por um lado a Otan pede a Moscou uma ajuda no Afeganistão, por outro, não quer convidar a parte russa para os encontros de países envolvidos em operações militares no país.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse em Bruxelas que a aliança convidou a Rússia a participar da Conferência sobre o Afeganistão no âmbito da Cúpula de Chicago, mesmo não havendo nenhum documento que regulamente consultas com a Rússia sobre o Afeganistão.

 “Quando recebemos o convite para o encontro sobre o Afeganistão em Chicago, perguntei se essa era uma resposta a nosso pedido e se isso significava que, depois do encontro, nós iríamos participar regularmente das reuniões sobre o assunto em Bruxelas. Ficou claro que não, além de ter sido o único convite feito”, disse à imprensa Serguêi Lavrov.

“Se eles se interessam por nós como parceiros de trabalho sobre o Afeganistão, não entendo por que continuam nos privando dos encontros periódicos em Bruxelas. Considerando essas circunstâncias, examinaremos o convite e daremos uma resposta em breve”, completou o ministro russo.

É pouco provável que a delegação de Moscou aceite ir a Chicago. Ao convidar os líderes russos para a cúpula, a Otan quis aparentemente mostrar à opinião pública mundial que, apesar das “pequenas divergências”, tudo corre bem nas relações entre os russos e o aliança internacional.

Mas não é bem assim. Nenhuma declaração pode esconder as grandes divergências existentes entre as partes. A questão da defesa antimíssil na Europa é um teste de confiança no qual ambas as partes foram reprovadas.

Viktor Litóvkin é editor do Nezavisimoie Voiennoie Obozrenie (Observatório Militar Independente)



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