Adesão russa à OMC pode favorecer o Brasil

Foto: Lori/Legion Media

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Com o poder de voto na Organização Mundial de Comércio (OMC), Moscou planeja apoiar os países que enfrentam problemas em termos de promoção de seus produtos no mercado de carne europeu. Apesar das restrições russas à carne brasileira, Brasil e Rússia também devem estabelecer acordos de reciprocidade em relação à importações.

Empenhada em desenvolver sua própria produção avícola, a Rússia está buscando mercados externos. Há três anos, a Rússia importava 1,6 milhões de toneladas. No ano passado, as importações de aves diminuíram para cerca de 200 mil toneladas.


Neste ano, as tendências positivas se mantêm. No primeiro trimestre, a  produção avícola russa aumentou quase 21%, atingindo 826 mil toneladas. O crescimento se deu pela expansão das explorações avícolas existentes e a criação de novas empresas.

De acordo com a imprensa russa, há mais de 20 projetos de investimento no setor avícola nacional. Como resultado, a produção nacional de produtos avícolas pode ultrapassar a meta de 650 mil toneladas nos próximos dois anos.

A Rússia está aberta a investimentos estrangeiros, inclusive brasileiros, nessa área. No início do mês, o diretor do Serviço Federal de Fiscalização Veterinária e Fitossanitária da Rússia, Serguêi Dankvert, se reuniu com os executivos da empresa brasileira Brasil Foods (BRF) para discutir, entre outras questões, a hipótese de investimento em coprodução na Rússia.

Segundo os analistas do Instituto de Estudos de Mercado Agrícola, existe no mercado russo uma grande oferta de produtos avícolas que excede em muito a demanda interna. Nessas circunstâncias, os fabricantes estão optando pelo processamento profundas de carnes e desenvolvimento de seu potencial de exportação.

No entanto, o mercado mais próximo da Rússia, a União Europeia, está fechado aos produtos avícolas russos. Apesar de muitas empresas russas terem adotado os padrões de qualidade europeus e terem cumprido todas as diretrizes do bloco, a Europa não se mostra interessada em importar nem mesmo os produtos avícolas acabados.

 

Acordo cruzado


Após a adesão à OMC, a Rússia irá se juntar aos países que têm problemas semelhantes e considera a possibilidade de cooperação com o Brasil, Chile e Argentina.

“Enfrentamos problemas ao tentar introduzir a carne de aves no mercado europeu, o Brasil tem questões semelhantes com outros tipos de carne. Juntos vamos tentar abrir o mercado europeu”, destacou Dankvert em declarações à Gazeta Russa, depois de regressar de uma visita à América Latina no início de abril.

Em encontros com colegas e empresários brasileiros, Serguêi Dankvert falou sobre as exportações de carne brasileira para a Rússia e eventuais mudanças na política russa após a adesão do país à OMC.

Durante a ocasião, a experiência argentina também foi analisada. O país estabeleceu restrições às importações e estabeleceu um acordo de reciprocidade com seus parceiros.

“Essa experiência é muito interessante. Seria vantajoso que a Rússia propusesse o mesmo esquema, digamos, ao Brasil. Ao exportar carne para a Rússia, os brasileiros deveriam importar os grãos russos durante pelo menos 10 anos,” disse. “Estamos finalizando o trabalho no texto de um memorando de entendimento com o Brasil sobre os fornecimentos de grãos.”

A Rússia teve uma colheita muito boa de grãos neste ano e pretende vender externamente entre 25 e 26 milhões de toneladas, inclusive na América do Sul. “Se nos trazem de lá soja, os mesmos contêineres poderiam levar daqui a mesma quantidade de grãos”, considera Dankvert.

Embargo à carne brasileira

 
As relações entre a Rússia e o Brasil no comércio de carne bovina não têm sido exatamente boas. Embora o Brasil continue a ser o maior exportador do produto para a Rússia, as importações russas registram a diminuição de volume pelo quinto ano consecutivo.


No ano passado, a Rússia embargou a importação de carne proveniente dos frigoríficos dos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Paraná por não atender aos requisitos sanitários da Rússia.

Em 2011, a Rússia importou 55 mil toneladas de carne brasileira a menos do que no ano anterior, totalizando 228 mil toneladas, uma quantidade duas vezes inferior à importada em 2007.

Em parte, o nicho do Brasil e, talvez, do Paraguai no mercado de carne russo pode ser ocupado pelo Uruguai, que conseguiu um recorde de vendas, pulando de três mil, em 2005, para 78 mil toneladas.

Oitenta e duas empresas uruguaias têm autorização para exportar carne bovina e manteiga para os países da União Aduaneira (Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão) e nenhuma delas teve sua produção embargada pela vigilância veterinária russa, como ocorreu com as empresas brasileiras.

Durante uma reunião com o secretário nacional de Defesa Agropecuária do Brasil, Enio Marques Pereira, Dankvert levantou novamente a questão referente ao controle dos serviços veterinários do Brasil.

Em meados de maio, outro grupo de especialistas russos irá ao Brasil para inspecionar empresas nos estados de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Goiás e, possivelmente, para diminuir ainda mais a lista de empresas autorizadas a exportar carne para a Rússia.

Com tendências pouco esperançosas na produção nacional de carne bovina (em 2011, a produção de carne russa caiu 8%, para 1,6 milhões de toneladas), o governo russo tem implementado um programa de promoção da importação de gado de raça.

Consequentemente, muitas empresas pecuárias privadas vêm aumentando seus rebanhos. Em janeiro/fevereiro de 2012, o rebanho nacional de bovinos atingiu 20,3 milhões de cabeças, apresentando uma alta de 0,5 % em comparação com o ano anterior, a primeira desde 2008. 

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