Candidato derrotado faz greve de fome

Oleg Chein Foto: Kommersant

Oleg Chein Foto: Kommersant

A greve de fome de manifestantes na cidade de Ástrakhan, no delta do rio Volga, tem chamado a atenção de diversos líderes da oposição pelo país. O movimento conduzido pelo ex-deputado federal e candidato pelo partido Rússia Justa, Oleg Chein, foi motivado pelas supostas ilegalidades durante as eleições para prefeitura.

Os manifestantes atribuem a derrota de Chein a diversas fraudes eleitorais e pedem a recontagem dos votos. Segundo eles, as cédulas com votos para Chein de algumas seções eleitores teriam sido reposicionadas em pilhas de cédulas favoráveis a seu rival.

Os grevistas exigem acesso às gravações de vídeo feitas pelas câmaras instaladas em mais de 100 seções eleitorais – embora até agora disponham de imagens captadas em apenas 22 mesas de voto.

A Comissão Eleitoral Central abriu um inquérito e analisou 16 gravações de vídeo, nas quais foram constatadas ilegalidades.

A cidade também já recebeu a visita de uma comissão especial da Duma de Estado (Câmara Baixa do parlamento russo), que prometeu realizar uma nova votação, caso comprovem as denúncias.

Política virou problema de saúde


Os médicos estão preocupados com o estado de saúde dos 16 grevistas, pois a recusa em comer durante mais de 30 dias pode ter conseqüências desastrosas para a saúde dos envolvidos.

Essa não é a primeira vez que Oleg Chein e seus partidários contestam os resultados das eleições. Em 2009, eles também exigiram a recontagem dos votos, alegando que “grupos de ativistas tinham invadido as seções eleitorais” para falsificar os resultados. A cidade de Ástrakhan tornou-se palco de manifestações de rua para convencer o presidente do país a marcar uma nova votação, mas as expectativas não foram atendidas.

No entanto, o candidato derrotado afirma que “passa suficientemente bem para continuar a greve por mais algum tempo”. Além disso, a manifestação em Ástrakhan encontrou eco junto a outros movimentos de protesto.

“Temos de  mostrar solidariedade”, diz Aleksêi Naválni, um dos líderes da oposição. Em seu perfil no portal LiveJournal, Naválni manifestou apoio aos “cidadãos aparentemente comuns, mas corajosos e bravos, cujos direitos políticos estão sendo defendidos numa situação de vida ou morte”.

Em Moscou, a ação foi reforçada pelo líder da Frente de Esquerda, Serguêi  Udaltsov, que prometeu se juntar à greve de fome e manter protestos pela causa.

Embora alguns grevistas tenham voltado a se alimentar por recomendação médica, grande parte deles afirma não saber até quando a iniciativa irá durar.

Reação do governo


De acordo com o colunista político do jornal “Kommersant”, Stanislav Kúcher, o governo terá de pensar bem em como agir e como essa reação será acolhida tanto pela sociedade como pela oposição. 

“É uma escolha imposta ao futuro presidente do país. Alguns conselheiros do governo argumentam que mostrar fraqueza só irá piorar a situação”, explica. “Mas, para outros, iniciar uma investigação e marcar novas eleições seria um sinal de força.”

Durante uma assembleia na Duma nesta quarta-feira (11), Pútin afirmou que o tribunal irá anular o resultados da eleição, caso comprovadas as denúncias de violação e seu consequente impacto no processo eleitoral.   Segundo ele, Oleg Chein deveria ter encaminhado suas reivindicações ao tribunal.

“Pelo que sei, Chein começou a greve de fome, mas não levou o caso à justiça. Francamente, isso é um pouco estranho. Afinal, as autoridades são capazes de abrir um inquérito para investigar a situação e produzir resultados aceitáveis”, disse.

Após a declaração, todos os parlamentares do Rússia Justa presentes no salão da câmara deixaram o recinto.  

Vladímir Burmátov, deputado federal pelo Rússia Unida, considera desnecessário intervir na situação em Ástrakhan, qualificando-a como absurda. “A decisão de Chein de iniciar uma greve de fome vai acabar com sua carreira política. As ilegalidades detectadas não são suficientemente graves para anular os resultados da votação”, afirma. 

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