PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das quatro grandes firmas internacionais de contabilidade, tem departamentos na Escola Superior de Economia (HSE) e na Universidade financeira no âmbito do Governo da Federação Russa. Foto: Kmmersant
Kirill Vóronov, estudante do quarto ano da Escola Superior de Economia, em Moscou, não acredita que terá dificuldade em arranjar um emprego ao terminar seu curso.
Pelo contrário, Vóronov tem certeza de que será admitido pela empresa onde atualmente é estagiário, a PricewaterhouseCoopers (PwC), uma das maiores prestadoras de serviços de auditoria e consultoria do mundo.
A companhia tem um departamento na Escola Superior de Economia, onde funcionários devidamente preparados lecionam cursos específicos, tendo participação direta na formação do pessoal que irá trabalhar futuramente na empresa. A PwC possui, ainda, um departamento na Academia de Finanças junto ao governo russo.
As empresas nacionais não ficam atrás. A analista de projetos do Gazprombank (Banco da Gazprom), Tatiana Sorókina, foi selecionada pelo atual empregador quando ainda estudava no Instituto de Relações Internacionais (MGIMO, na sigla em russo).
Primeiramente, o banco incluiu Tatiana no programa de bolsas de estudos e depois a convidou para um estágio, acabando por lhe oferecer, em 2009, um emprego permanente.
No ano passado, o banco criou um departamento de Economia e Serviços Bancários no MGIMO, onde trabalham não só docentes locais, bem como professores convidados e executivos do banco.
Formando pessoal para si e para a concorrência
Poucas empresas iniciam a parceira instalando um departamento próprio nas universidades. Segundo o responsável pelo contato com universidades da PwC, Nikita Rakov, a criação dos departamentos foi uma sequência lógica do projeto de cooperação iniciado há alguns anos.
Com o tempo, os cursos ministrados por funcionários da empresa foram reunidos em um único programa, dando origem, assim, aos atuais departamentos.
Cabe salientar que nos institutos de ensino onde a PwC está presente há também departamentos de seus concorrentes diretos, como a Ernst & Young e a KPMG, que lecionam para os mesmos alunos.
A única condição é que os cursos ministrados tenham temas diferentes.
A grandes empresas de TI (tecnologia da informação) nacionais vêm seguindo o exemplo das empresas de auditoria. Para os especialistas, foi só recentemente que as startups nacionais tornaram-se capazes de dedicar recursos à formação de pessoal em universidades.
“Só um especialista de campo pode transmitir a experiência prática de produção de software”, afirma o professor do Instituto de Física e Tecnologia de Moscou e chefe do setor de pesquisa da empresa de tecnologia Parallels, Aleksandr Tormásov.
“Por isso, proporcionamos a nossos funcionários a oportunidade de dar aulas na universidade e convidamos os estudantes a realizar trabalhos práticos. Caso contrário, os alunos da faculdade de TI começam a trabalhar como administradores de sistemas e permanecem nessa especialidade depois da formatura por terem desperdiçado tempo com uma atividade menos qualificada que o desenvolvimento de software.”
De acordo com Tormásov, os estudantes têm a oportunidade de fazer pesquisas relacionadas à tecnologia moderna, recebendo bolsas de até 24 mil rublos (US$ 820), isto é, uma quantia equivalente ao salário médio de um administrador de sistemas que trabalhe meio período.
Outro fator que estimula os empregadores a cooperar com as universidades é a adoção de um sistema de ensino superior com duas formações distintas: bacharel e mestrado.
“A reforma pegou todos de surpresa: o corpo docente, a administração, os alunos e os potenciais funcionários”, comenta Vadím Saralídze.
“Teoricamente, o bacharel é um especialista com curso superior, mas ele não possui especialização necessária nem conhecimentos teóricos e práticos suficientes.”
Por outro lado, o atual sistema de ensino dá aos empregadores a possibilidade de instituir seus próprios cursos de mestrado.
É a empresa quem paga
Ao investir na criação de departamentos e universidades corporativas ou quando enviam um funcionário altamente remunerado para lecionar em uma instituição de ensino, as empresas sofrem despesas que, teoricamente, deveriam ser compensadas pelos próprios estudantes.
O ideal seria que os estudantes assumissem o compromisso de trabalhar por alguns anos na empresa patrocinadora, porém, nem todas as companhias impõem tais condições aos alunos patrocinados.
“Apesar de não obrigarmos nenhum candidato a trabalhar no Yandex depois de se formar, a maioria acaba se tornando nossos funcionários. O restante encontra um bom emprego em outras empresas, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da internet russa como um todo”, diz o chefe do grupo “Escola de análise de dados do Yandex”, Artem Babenko.
Os recursos investidos nesses projetos são insignificantes para grandes empresas. A petrolífera Lukoil, por exemplo, disponibilizou, em 2010, 90 milhões de rublos (US$ 3 milhões) apenas para as universidades.
Na maioria das vezes, as empresas não pagam adicionais aos funcionários enviados para lecionar em universidades.
“Embora os estudantes patrocinados não desejem trabalhar na empresa depois de concluírem o curso, algum dia poderão se tornar nossos clientes”, explica Aleksandr Ívlev, sócio-gerente da Ernst & Young na Rússia, em relação ao retorno dos investimentos.
De modo geral, as empresas não estão preocupadas se os formandos acabarão sendo incorporados pelos concorrentes.
Como escolher a universidade
O estabelecimento de programas de estágio com empresas que sejam potenciais empregadoras é uma importante vantagem competitiva de um estabelecimento de ensino superior.
“A época de estágios é sempre uma dor de cabeça”, diz Andrêi Seménov, funcionário de uma universidade que não possui parceria de estágio com nenhuma empresa.
“Se um aluno encontra uma companhia que o contrata para estágio e aceita empregá-lo após a formatura, ele pode se considerar sortudo. Caso contrário, cabe a nós buscar empresas que concordem em admitir nossos alunos para estágio.”
Ainda assim, isso não significa que elas manterão os estudantes depois de receberem o diploma. “Meu filho vai fazer o vestibular este ano e estamos procurando uma universidade que tenha parceria com empregadores, justamente para não corrermos esse risco”, conta.
O reitor da Universidade de Vorónej e presidente do Conselho de Reitores da Região de Vorónej, Dmítri Endovítski, acredita que as instituições de ensino superior que não colaborarem com empresas poderão desaparecer.
“Existem três critérios básicos para avaliar um instituto de ensino: o número de candidatos com nota alta no exame unificado de ensino (uma espécie de ENEM); a qualidade do ensino, grau de diversificação dos programas de estudos e o número de projetos de inovação implementados; a demanda pelos formandos daquela universidade no mercado de trabalho”, explicou Endovítski.
“O grau de integração da comunidade empresarial no processo letivo afeta todos os três critérios acima citados. Os institutos de ensino que não têm grandes projetos conjuntos com a comunidade empresarial deverão ser gradualmente incorporados a universidades maiores”, completou.
Para ter acesso à versão integral do artigo em russo, visite http://kommersant.ru/doc/1888400
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