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Washington e Cabul estão prestes a assinar um acordo de cooperação estratégica que pode garantir a permanência de instalações norte-americanas no país, questão que preocupa cada vez mais os vizinhos do Afeganistão: Rússia, China e países da Ásia Central.
Segundo a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na última quinta-feira (22), após as negociações com o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, o documento deve ser concluído um pouco antes ou durante a cúpula da Otan em Chicago nos dias 20 e 21 de maio.
Em primeiro lugar, o acordo deverá garantir uma saída relativamente digna para os Estados Unidos da mais prolongada guerra em sua história.
Isso é especialmente relevante para o presidente Obama às vésperas das eleições presidenciais norte-americanas, embora não tenha sido responsável pelo início do conflito.
Nos últimos anos, os EUA perderam nessa guerra 2 mil soldados e 500 bilhões de dólares – e a lista de prejuízos continua em aberto.
Para salvar as aparências, o país começou, ainda, negociações formais com os talibãs afegãos, a quem acusaram de apoio à Al-Qaeda e combateram em outubro de 2011.
No entanto, apesar de 11 anos de ocupação, sua influência fora de Cabul é tão grande que o governo do presidente Karzai pode cair no dia seguinte à retirada das tropas norte-americanas.
Por isso, o acordo de cooperação estratégica entre os EUA e o Afeganistão irá prever, obviamente, entre outras coisas, a preservação das instalações militares norte-americanas no país.
“Isso é do interesse do presidente Karzai, que procura segurar a situação e se manter no poder após 2014”, afirma Víktor Korgún, diretor do Centro de Estudos do Afeganistão do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia.
Segundo Korgún, essa decisão também tem razões econômicas e geoestratégicas, razão pela qual os EUA não entregarão facilmente o governo de Karzai aos talibãs.
“Os EUA procuram manter sua influência na Ásia Central e na região do Mar Cáspio rica em petróleo e gás. Além disso, as bases no Afeganistão permitirão aos EUA manter a China, Rússia e Irã sob controle.”
Moscou, por sua vez, propõe que o controle da ONU sobre as tropas estrangeiras no Afeganistão seja mantido após a retirada das tropas da Otan em 2014.
“Se a presença militar no país deve ser preservada, então é preciso continuar cumprindo o mandato do Conselho de Segurança”, afirmou o chanceler russo, Serguêi Lavrov, que, durante a última semana, se pronunciou pelo menos duas vezes sobre o assunto.
“Não vejo lógica em instalar e preservar bases militares se consideram que o mandado do Conselho de Segurança já foi cumprido.” “Acho também que o território do Afeganistão não deve ser usado para a implantação de instalações militares que causem preocupação a outros países”, disse Lavrov em entrevista à rede de televisão afegã Tolo.
O posicionamento de Moscou é bastante claro: se os EUA quiserem preservar sua presença militar no Afeganistão, terão de receber a aprovação da ONU mediante uma resolução do Conselho de Segurança.
Este último, por sua vez, deve dar uma avaliação quanto àquilo que foi feito no país em 11 anos de guerra.
“A presença da Otan contém a expansão do terrorismo na região e, por isso, a Rússia não deseja que os EUA e a Otan se retirem do Afeganistão antes do tempo”, disse Korgún.
“As funções de polícia devem ser cumpridas e fazem parte das resoluções da ONU. Por outro lado, não há por que a Otan permanecer na região como força militar”.
A cúpula da Otan em Chicago, que será dedicada à situação no Afeganistão, decidirá sobre a futura presença militar dos EUA e da Otan no país.
No entanto, é pouco provável que seu formato e estatuto sejam convenientes aos países vizinhos.
“Nossa ideia é que o Afeganistão seja (…) um país neutro”, declarou Lavrov. Mas, na prática, a Otan está prestes a dar mais um passo para se aproximar da fronteira russa, dando motivo para novos atritos.
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