Fundador da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, Antonio Carlos Rosset discursa em seminário na Universidade Metodista Foto: Universidade Metodista/Marcello Ferreira
Em palestra do 3° Seminário de Relações Internacionais Brasil-Rússia, na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, no último dia 20 de março, o presidente da Câmara de Comércio Brasil- Rússia, Antonio Carlos Rosset abordou o tema “como fazer negócios na Rússia” para uma plateia formada por mais de 100 universitários. Brasileiro de ascendência francesa, ele morou muitos anos na Europa, sete deles em Moscou.
“O jeito russo de fazer negócios e de se relacionar é bem diferente do brasileiro. A gente aqui costuma conversar por telefone, por messenger; na Rússia não é bem assim, você tem que estar presente, em contato com as pessoas”, explica Rosset.
“Na Rússia, se você tem um relacionamento na esfera governamental e os grandes conglomerados russos as chances de você vingar é 110%. O governo e as grandes empresas estão extremamente ligadas”, completa.
Lobby fraco
Os primeiros produtos na balança comercial Brasil-Rússia, que é constituída em 80% por comodities agrícolas, são o açúcar pelo lado brasileiro e os fertilizantes pelo lado russo.
Além desses, destacam-se o café, os sucos e as três carnes, sobretudo a bovina e a suína. As importações de frango e de suínos diminuem, já que a Rússia tem investido na produção local.
No setor aéreo, há boas relações. Poderiam ser ampliadas, pois o Brasil deve fechar este ano uma grande compra de caças, mas a Rússia foi preterida no leilão.
“A Rússia, que já produz as estruturas de alumínio dos aviões da Embraer, participou do leilão dos caças com duas fábricas, a Sukhôi e a Mig. A Sukhôi, por exemplo, passou em todos os testes, no de eletrônica embarcada, no de mobilidade, foi aprovada 100%. Mas não foi selecionada porque o lobby russo é muito fraco. Mas também porque os russos não abrem muito o jogo do que eles fazem. Muito da tecnologia do caça é russa e eles não abrem para o Brasil”, afirma Rosset.
Trilhos russos, por que não?
O que causa algum ruído nas relações é o fato de a Rússia comprar 5 bilhões de dólares do Brasil e vender apenas 1 bilhão.
“Por exemplo, o Brasil não produz trilho, precisa importar 100%, e a Rússia é um dos maiores produtores de trilho do mundo. Há “n” produtos russos que poderiam estar aqui. A Rússia quer também que o Brasil invista mais lá”, explica Rosset.
A contraparte já existe, segundo ele, que cita como exemplo o investimento “de alguns milhões de dólares” do Grupo Sodrugestvo na Carol (Cooperativa dos Agricultores da região de Orlândia) em 2010, formando a Companhia Carol Sodru, com 51% de participação russa e 49% brasileira.
“Mas investimentos brasileiros na Rússia são poucos. O último investimento quem fez foi a Sadia, numa planta construída lá”, afirma.
Rosset vê perspectivas de incremento do comércio caso pequenas e médias empresas brasileiras descubram a Rússia.
“O comércio Brasil-Rússia está muito concentrado na esfera das grandes empresas. A BRF, fusão da Sadia com a Perdigão, a JBS, maior frigorífico bovino do mundo, ou empresas de café já descobriram a Rússia, assim como a Cosan [um dos maiores grupos privados de energia e alimentos do Brasil], da família Ometto. Mais empresas e de todos os portes deveriam começar a conhecer mais a Rússia”, completa.
A esquina do mundo
Outro palestrante foi o secretário de Relações Internacionais de São Bernardo do Campo, Evandro de Lima. Segundo ele, a cidade, além de ser conhecida como a terra do ex-presidente Lula, “é a esquina do mundo”: fica próxima do porto de Santos, do aeroporto de Guarulhos, das Vias Anchieta e Dutra.
Oito empresas instaladas no município mantêm negócios com a Rússia. Yoki, Colgate-Palmolive, Cristal Cargas e a Scania Latinoamerica exportam para lá, enquanto Mercedes-Benz, Scania, Morganite, Anacom, Volkswagen e a produtora de peças ZF do Brasil importam da Rússia.
“Em relação à Rússia, temos a oferecer cooperação nas indústrias de defesa, de petróleo e gás”, afirma Evandro de Lima.
De acordo com ele, a prefeitura de São Bernardo do Campo já fechou acordos com dois fabricantes de caças europeus. Com a Grippen, da Suécia, abriu o CISBE (Centro Sueco-Brasileiro de Inovação). Já a francesa Rafale tem uma empresa em São Bernardo, a Omnicis, que produz radares para os caças.
Grippen e Rafale são as finalistas do leilão de caças que o governo brasileiro deve finalizar neste ano.
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