Hugo Chávez Foto: AP
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, continua a ter problemas graves de saúde. Na quarta-feira passada, ele anunciou sua viagem a Cuba, onde realizou uma nova cirurgia para remover um tumor maligno na pélvis. Chávez já havia se submetido a uma cirurgia em Cuba em junho passado, para a retirada de um tumor no mesmo local.
A ausência de Chávez e seu frágil estado de saúde enfraquecem o governo do presidente e ajudam a consolidar a oposição, que já conseguiu estabelecer seu candidato, Henrique Capriles Radonski, ex-prefeito do município de Baruta.
Em contraste com Chávez, Capriles tem aparecido constantemente em eventos públicos. Mas, mesmo com as ausências, Chávez está longe de perder o status de político mais popular do país: seu índice de aprovação é alto e tem se mantido em 57%, segundo a agência independente de investigação venezuelana Datanalisis.
O próprio Chávez, rejeitando todas as insinuações sobre a deterioração de sua saúde, prefere "entrar na batalha" da oposição pela eleição presidencial, e ainda não há até agora nenhuma menção sobre um possível sucessor.
Os adversários da revolução bolivariana colocam mais lenha na fogueira. Recentemente o proprietário do jornal liberal "Tal Qual", ex-guerrilheiro e membro do partido radical "Movimento ao socialismo", Teodoro Petkoff, pediu abertamente ao governo para não esconder dos cidadãos informações sobre a situação da saúde do presidente.
A incerteza não alarma somente o povo venezuelano. A estabilidade da saúde de Chávez é vigiada também no exterior, inclusive em Moscou. A Rússia tem investido um dinheiro considerável na Venezuela, seu principal parceiro econômico na região. O número de acordos firmados é particularmente alto na esfera de energia e na indústria do petróleo, em projetos principalmente associados com o desenvolvimento de campos de petróleo na faixa do rio Orinoco.
O Consórcio Russo Nacional de Petróleo, que consiste no conjunto das empresas Gazpromneft, Lukoil, Rosneft e Surgutfetegaz, participa de um projeto em larga escala de desenvolvimento de campos de petróleo em uma joint venture com a companhia estatal venezuelana de petróleo Pdvsa. As primeiras entregas de petróleo estão programadas para o final de 2012.
Se Capriles chegar ao poder, ele, que passou vários meses na prisão em 2002, acusado de depredar a embaixada de Cuba em Caracas e não esconde a sua simpatia pelos Estados Unidos, pode colocar o projeto na região do Orinoco em cheque, já que a oposição tem criticado Chávez há tempos por sua política energética.
A possível luta que vai se desdobrar em torno da Pdvsa, bem como a probabilidade de reprivatização da indústria petrolífera na Venezuela, podem levar a atrasos significativos na realização do projeto ou até no seu colapso. É exigido da PDVSA, cuja participação na joint venture é de 60%, investimento adicional para a compra de equipamentos. Também está sob ameaça a construção da infraestrutura perto dos campos de produção, que estão localizados em áreas remotas do país.
Até as eleições presidenciais na Venezuela, que serão realizadas em outubro de 2012, a Rússia não só irá acompanhar de perto a saúde de Chávez - e lhe desejar uma rápida recuperação – como observará atentamente o candidato da oposição e tentará encontrar caminhos possíveis para trabalhar com o novo governo, na tentativa de defender os interesses econômicos russos no país.
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