Brasil pode ser exemplo para Rússia no sistema de aposentadorias

A população da Rússia está envelhecendo Foto: TASS

A população da Rússia está envelhecendo Foto: TASS

Andrêi Movchán, financista e sócio da empresa de gestão Terceira Roma, explica por que não faz sentido atrair fundos da população para o mercado de valores e como solucionar o problema das pensões usando o exemplo do Brasil.

Uma economia baseada na venda de recursos naturais, distribuição desigual da renda e maior parte da classe média sem condições de poupar dinheiro, vivendo por meio da obtenção de crédito. Assim é a situação na Rússia.

Todos os anos, centenas de milhares de russos aptos para o trabalho abandonam o país. Por outro lado, cresce o número de servidores públicos.

Ao mesmo tempo, a população está envelhecendo. Após as eleições, um dos maiores desafios de Vladímir Pútin será cumprir sua proposta feita no início de fevereiro no sentido de atrair as poupanças da população para o mercado de capitais através dos fundos de pensão e fundos de investimento coletivo.

O problema é que a proposta de atrair o dinheiro da população para o mercado de valores não tem sentido e é perigosa para a economia. Com os rendimentos obtidos nos mercados de capitais, os poupadores irão gastar mais. Como resultado, considerando uma taxa de inflação de 99%, a população ficará ainda mais pobre. E se os mercados de capitais consumirem as poupanças investidas, os cidadãos poupadores irão se juntar às fileiras dos descontentes.


O efeito econômico da atração das poupanças populares para o mercado de capitais é discutível. Quase todas as poupanças da população já são mantidas em bancos que são agentes econômicos profissionais. Para um maior envolvimento desses recursos na economia e criação de condições para sua entrada no mercado de capitais, é preciso alterar os mecanismos de regulação bancária e não apelar à população ou mexer nas pensões.

Talvez valha a pena o governo conceder aos bancos garantias para investimentos a longo prazo e prometer-lhes ajuda em liquidez se a população começar a sacar grandes quantidades de dinheiro (por exemplo, poderia permitir a prática de oferta de ações e créditos em garantia ao Banco Central).

Por fim, o principal impulsionador da economia são gastos e não poupanças.  Quanto mais a população gasta, mas rápido cresce a economia. Melhorar as condições de poupança significa desacelerar a economia.

O governo deve pensar em como garantir à população pensões de aposentadoria. O Estado deve se preocupar, por um lado, em reduzir o número de pessoas incapazes de fazer poupanças e, por outro, em encontrar recursos para garantir pensões às pessoas de baixa renda.


Ambas as coisas podem ser feitas se aplicarmos a experiência brasileira. O Estado brasileiro retém quase toda a receita obtida com a extração de recursos naturais (nacionalizando, por exemplo, jazidas e contratando companhias especializadas em mineração). O dinheiro retido é destinado para a criação de novos empregos e necessidades sociais.

Na Rússia, tal política faria com que os empresários se deslocassem dos setores dependentes das vendas de matéria-prima para atividades que impliquem um trabalho qualificado e permitiria criar uma almofada financeira para a sustentação de pessoas de baixa renda e criação de novos empregos. Essa reviravolta surtiria um efeito econômico sensível em cinco a dez anos.

Andrêi Movchán, financista e sócio da empresa de gestão Terceira Roma

Originalmente publicado no http://www.forbes.ru/ 



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