Foto: AFP / EastNews
A conferência internacional do grupo Amigos da Síria, que terminou seus trabalhos na Tunísia na última sexta-feira (24), não aprovou nenhuma resolução de linha dura em relação ao regime de Bashar al Assad, atitude esperada por muitos observadores internacionais.
O evento reuniu embaixadores de mais de 60 países, assim como delegados da Liga Árabe e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. Moscou e Pequim se recusaram a participar, dizendo que as partes envolvidas no conflito não estavam devidamente representadas na conferência e que não foram convidados representantes do governo de Assad.
A oposição síria foi representada por uma delegação do Conselho Nacional Sírio (CNS), chefiada pelo ex-professor da Universidade de Paris- Sorbonne Burkhan Gallon. O Comitê de Coordenação Nacional para a Mudança Democrática (CNN) também se recusou a participar da conferência, acusando os Amigos da Síria de agir com excessiva simpatia em relação ao CNS. Também não compareceram vários outros grupos opositores.
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Essa representação fragmentada da Síria foi, talvez, o principal fator que dissuadiu os conferencistas de tomar medidas radicais contra o governo de Assad.
Ao contrário do que aconteceu com a Líbia, a comunidade internacional não nega legitimidade ao regime de Assad. Em um discurso feito após a conferência, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Tunísia e presidente do evento, Rafik Abdessalem, disse que a “conferência reconheceu o CNS como legítimo mas não único representante do povo sírio”. Por outro lado, os delegados exortaram todas as forças da oposição a formar um “governo de unidade nacional” com base no diálogo. Ao mesmo tempo, a conferência se manifestou contrária à hipótese de o atual presidente sírio, Bashar al Assad, fazer parte do novo governo, delegando seus poderes ao atual vice-presidente. Ao mesmo tempo, o grupo considerou prematuro afastar Assad do poder em um momento em que a oposição está tão desunida.
A conferência também se pronunciou contra o fornecimento de armas à oposição. “No momento presente, não é sensato prosseguir com a militarização da situação na Síria”, disse o vice-secretário de imprensa dos EUA, Josh Earnest, comentando a possibilidade de fornecimentos de armas à oposição síria. Evidentemente, os EUA e outros participantes influentes da conferência receiam a continuação da militarização do conflito, o que pode “redundar em uma guerra civil no coração do Oriente Médio”, escreveu o jornal norte-americano “Washington Post”.
As resoluções da conferência não prevêem uma intervenção externa na Síria. Esse aspecto foi enfatizado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Tunísia em um encontro com jornalistas. “O principal objetivo da conferência foi proclamar apoio ao povo sírio”, disse o diplomata. Ao mesmo tempo, ele sublinhou: “Todos os esforços para alcançar esse objetivo devem evitar que na Síria se repita a tragédia sofrida por outros países árabes por causa da intervenção estrangeira”. Como se esperava, a conferência exortou o governo sírio a parar imediatamente a violência e a abrir caminho à ajuda humanitária.
No último domingo (26), foi realizado na Síria um referendo sobre uma nova constituição que consagra as reformas propostas pelo regime de Assad. Em maio serão realizadas eleições parlamentares, que podem diminuir a tensão no país e criar um cenário favorável para a realização de eleições presidenciais antecipadas. Essa hipótese foi mencionada pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Guennádi Gatílov.
Por outro lado, a oposição síria está à procura de maneiras para adquirir armas estrangeiras, segundo noticiou a agência Reuters. “As armas vêm de toda a parte, incluindo os países ocidentais, não sendo difícil transportá-las através da fronteira”, disse à agência uma fonte da oposição que não quis se identificar.
A crescente militarização do conflito aumenta o derramamento de sangue na Síria e acirra os ânimos tanto dentro quanto fora do país. Nesse contexto, no último fim de semana, o presidente dos EUA, Barack Obama, fez a mais truculenta declaração desde o início do conflito. “Vamos continuar pressionando Bashar al Assad e buscando todos os meios possíveis para parar o massacre de pessoas inocentes na Síria”, disse Obama.
Tais declarações, agregadas ao apoio ativo e fornecimentos de armas à oposição, dificultam muito o diálogo político na Síria. Nessas circunstâncias, será extremamente difícil se livrar de Assad e, ao mesmo tempo, evitar um conflito armado no país.
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