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Uma batalha em torno da produção de carne está sendo travada entre a Europa e a Rússia. Depois da população mundial ter atingido a marca de 7 bilhões de habitantes no ano passado, o alimento está rapidamente se tornando um produto estratégico em pé de igualdade com o petróleo e os países estão correndo para sustentar a produção desse item tão básico.
A Rússia pode ser uma potência agrícola, mas ainda importa 40% de seu alimento, de acordo com o Comitê de Estatística do Estado. Entretanto, uma ação de investimento apoiada pelo governo fez com que o país se tornasse autossuficiente na produção de carne de frango em 2009 e, neste ano, espera-se que o mesmo seja alcançado em relação à carne de porco.
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O peso das importações de carne foi destaque nos anos 90, quando uma desavença comercial com os EUA levou a Rússia a bloquear a entrada da carne de frango congelada proveniente do país.
O Estado tem investido muito dinheiro nesse setor por meio de empréstimos a agricultores concedidos pelo Rosselkhozbank (Banco Agrícola da Rússia), atualmente um dos cinco maiores bancos do país. O setor agrícola vem crescendo rapidamente e a Rússia deu um salto no ranking para se tornar o quarto maior exportador de grãos do mundo em 2008. Mas a produção de carne ainda tem ficado para trás.
A produção de frango seguiu a tendência dos grãos por ser o tipo de carne mais simples de ser produzido. A carne de porco é a próxima a entrar na esteira de produção em larga escala e o cultivo de carne bovina seguirá o mesmo caminho à medida que algumas megafazendas financiadas pelo Estado entrarem em operação nos próximos anos.
Enquanto isso, a maioria das importações de carne de porco tem vindo da Europa e o produto tornou-se um ponto de discórdia durante as recentes negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio), que culminaram com a adesão da Rússia ao acordo de comércio global em dezembro do último ano. Os produtores nacionais de carne suína da Rússia irão sofrer um abalo, já que as restrições comerciais às importações europeias serão eliminadas.
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"Embora os personagens mais eficientes desse cenário provavelmente mantenham algumas das maiores participações no mercado global, o lucro irá diminuir no segmento de carne de porco e deve permanecer inalterado em relação à carne de aves", afirma Mikhail Krasnoperov, analista do banco de investimento Troika Dialog.
Para combater a concorrência dos competidores europeus, o governo alocou 6 bilhões de rublos (US$ 200 mi) de investimentos para impulsionar a produção interna de carne de porco e manter sua participação no mercado em 2012. A ministra russa da Agricultura, Elena Skrínnik, disse, no fim de janeiro, que pretende acabar com a importação de aproximadamente 500 a 600 mil toneladas de produtos de carne suína por ano, isto é, cerca de um quinto do consumo total do país.
A escassez já elevou os preços da carne suína a níveis recordes em 2011, mas a incerteza em torno da adesão à OMC foi agora resolvida. Cada vez mais atraente, o mercado tem estimulado diversos grandes produtores internos de carne suína a lançar programas de investimento.
Atualmente, a Rússia oferece suporte aos produtores locais com um sistema de cotas e altos impostos para importação de carne de porco, porém, depois de a Rússia ter entrado na OMC em dezembro, o mais novo regime de comércio livre irá facilitar as importações desses produtos europeus.
“Durante os últimos cinco anos, os investidores russos e estrangeiros aplicaram mais de US$ 7 bi no setor suíno da Rússia”, disse Serguêi Iúchin, diretor da Associação Nacional de Carne. Ele alerta para a ameaça da queda de investimento estrangeiro após o início das atividades russas como país-membro da OMC se não houver forte apoio do Estado.
Segundo informações concedidas pelo Sindicato Nacional de Criadores de Porco à agência Bloomberg em janeiro, as importações de carne suína para a Rússia poderiam triplicar sob o novo regime comercial, atingindo 1,8 milhões toneladas em 2020 e, desse modo, atendendo quase metade da demanda total do país. Os fazendeiros temem que a ascensão de produtos importados de alta qualidade acabe invalidando o investimento em fazendas de porcos na Rússia, que tendem a ser menores e menos eficientes do que as grandes instalações do Ocidente. A produção nacional entrará em declínio a partir de 2014, advertiu o sindicato.
"A atratividade de investimento no setor vai cair drasticamente após a adesão da Rússia à OMC", afirmou Nikolai Birulin, especialista-chefe do sindicato, durante uma conferência organizada pelo Instituto de Moscou para Estudos de Mercado Agrícola, em janeiro deste ano. "Apenas os projetos agrícolas que estão sendo elaborados agora têm a chance de receber investimento.” Segundo ele, a indústria de criação de porcos na Rússia pode enfrentar prejuízos de, pelo menos, 20 bilhões de rublos (US$ 662 milhões) sob os termos do acordo de adesão russa à OMC.
Segundo as declarações da vice-ministra da Agricultura, Iliá Chestakov, o governo está ciente do problema e pretende apoiar a produção interna por meio de medidas administrativas e créditos até que o setor possa caminhar com as próprias pernas diante da concorrência de importações mais baratas.
Enquanto isso, os maiores produtores de carne suína da Rússia estão acelerando seus investimentos para tomar a maior fatia possível do mercado antes que a concorrência chegue ao país.
No início de fevereiro, o principal processador de carne da Rússia, o grupo Tcherkizovo, anunciou que irá aumentar a produção de carne suína em suas dez fazendas de porco em 80% ao longo dos próximos dois anos e, assim, atingir a produção de 180 mil toneladas anuais, segundo informações dadas pelo presidente-executivo da companhia, Serguêi Mikhailov, durante o Fórum Rússia 2012, realizado em Moscou.
E a concorrente Rusagro também anunciou que irá ampliar sua fabricação de carne de porco na região de Tambov, investindo uma quantia adicional de 3 bilhões de rublos em 2012 para elevar a capacidade anual de sua fazenda até cerca de 100 mil toneladas, de acordo com o presidente-executivo da empresa, Maksim Basov. A companhia já aplicou 2,5 bilhões de rublos no ano passado e a futura ampliação será cofinanciada pelo governo, que alocou 6 bilhões de rublos do orçamento para desenvolver o processamento de carne de porco no país.
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