Foto: AP / Bilal Hussein
No último domingo (12), os membros da Liga Árabe reunidos no Cairo decidiram pedir ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que enviasse à Síria uma força internacional de paz para substituir a missão da liga naquele país. Assim, a Liga Árabe lava outra vez as mãos em um conflito inter-árabe e aprova, pela segunda vez nos últimos 12 meses, uma intervenção externa em um país árabe.
Os ministros sugeriram que a força de paz incluísse contingentes de tropas tanto da ONU quanto da Liga Árabe e concordaram em romper a “cooperação diplomática” com o governo sírio. Esta última medida não prevê, porém, o rompimento das relações diplomáticas com a Síria nem a expulsão dos embaixadores sírios dos países integrantes da liga.
Os ministros marcaram ainda a data e hora da primeira reunião dos “Amigos da Síria”, aliança de opositores árabes e europeus ao regime do presidente sírio, Bashar al Assad. A reunião deve acontecer em 24 de fevereiro em Túnis.
No entanto, os amigos da Síria são mais numerosos do que parecem à primeira
vista.
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O chefe da Al-Qaeda Ayman al Zawahiri, sucessor de Bin Laden à frente da rede terrorista, apoiou os opositores de Assad, colocando-se, surpreendentemente, ao lado dos EUA e seus aliados ocidentais e monarquias ortodoxas do Golfo Pérsico.
Em um vídeo postado no último sábado
(10) em um site islamista, o líder terrorista acusou o presidente sírio, Bashar
al Assad , de anti-islamismo e crimes contra seu próprio povo.
Segundo a organização norte-americana SITE, especializada em monitorar fóruns da
web extremistas, Zawahiri exorta os sírios a não esperar por uma ajuda do
Ocidente, dizendo que, se o Ocidente lhes prestar ajuda, ele implantará no país
um regime fantoche.
“Muitos de nossos colegas no Ocidente não entendem que, caso o presidente sírio Bashar al Assad se retire, o poder será tomado por pessoas que não são nada democratas. A tese de que a oposição chegará ao poder democraticamente é um blefe. O Egito devia ter nos ensinado muita coisa”, disse o acadêmico e ex-chanceler russo Evguêni Primakov, em entrevista televisiva transmitida no último domingo (12). Para o cientista, o diálogo é a única maneira de sair desta situação. Caso contrário, como disse ele próprio, “uma das partes afogará a outra em um banho de sangue”.
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Caso al Assad se retire, o poder será tomado pelos salafistas, seguidores de uma corrente sunita extremista. Um processo semelhante já está em pleno andamento no Egito onde os sunitas e a Irmandade Muçulmana, corrente mais moderada, obtiveram a maioria no parlamento em consequência das eleições realizadas no fim do ano passado.
“No Egito, já houve confrontos entre os sunitas, coptas e cristãos. Na Síria, esse processo pode virar um massacre”, afirma Evguêni Satanóvski, presidente do Instituto de Oriente Médio.
O controle sobre o país é exercido historicamente pelos alawites, que se
aproximam por suas crenças religiosas dos xiitas e representam cerca de 15% da população
síria. Os cristãos são 10% da população e constituem um pilar do regime. Há uma
grande comunidade curda em que os muçulmanos são minoria. Por outro lado, os
sunitas, a principal força oposicionista ao governo em Homs, apoiada por seus
correligionários das monarquias muçulmanas do Golfo, são cerca de 40%.
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“Se Assad se retirar haverá certamente uma democracia: democracia de repressão e massacre das minorias religiosas pela maioria, o que terá como consequência a continuação dos conflitos e desintegração do país. Desde já, a oposição lança o slogan: os cristãos para o Líbano e os alawites para o cemitério”, disse Evguêni Satanóvski.
Nesse contexto, não é de estranhar que Damasco tenha rejeitado as propostas da Liga Árabe formuladas no Cairo.
O chanceler russo, Serguêi Lavrov, manifestou a esperança de que seu colega dos Emirados Árabes Unidos, que chegou a Moscou nesta segunda-feira, venha a explicar à Rússia a posição da Liga Árabe.
No entanto, uma vez que a posição da Liga Árabe repete, de fato, a deliberação que possibilitou um ataque contra a Líbia no ano passado, as chances de ela se tornar a base para uma resolução do Conselho de Segurança da ONU são mínimas.
“A tomada de decisões sobre as medidas solicitadas pela Liga de Estados Árabes
é da competência do Conselho de Segurança”, afirmou o secretário-geral da ONU
em uma declaração sobre o pedido da Liga Árabe de enviar à Síria uma força
internacional de paz. Todavia, é pouco provável que a Rússia e a China como
membros permanentes do Conselho de Segurança permitam a aprovação de uma resolução
assim.
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