Konstantin Bábkin Foto: Kommersant
No final de 1990, Konstantin Bábkin adquiriu a empresa Rostselmash, a maior construtora de máquinas agrícolas da Rússia. Agora, às vésperas da adesão da Rússia à OMC (Organização Mundial do Comércio), Bábkin teme os efeitos que a inclusão do país na organização possam ter em sua empresa. De acordo com Bábkin, esse passo do país poderá lhe valer a perda do setor de máquinas agrícolas.
Entrevistado pelo site Védomosti, o empresário falou sobre as consequências negativas do levantamento das barreiras comerciais e os planos de apoio à indústria nacional.
- O que vai acontecer com o setor nacional
de máquinas agrícolas e a empresa Rostselmash quando a Rússia se juntar à OMC?
- Não espero nada de bom disso. Estive em várias reuniões do governo dedicadas a esse assunto, com a participação dos vice-primeiro-ministros Ígor Chuvalov e Víktor Zubkov, da ministra da Economia, Elvira Nabiullina, do diretor-geral do Serviço Federal de Vigilância Sanitária, Guennádi Oníchenko, e vários outros altos funcionários.
Todos os empresários do setor industrial falam de eventuais perdas. A indústria automotiva poderá perder cerca de US$ 830 milhões por ano, os fabricantes de roupas, entre 25 e 30% de sua receita anual. O representante de uma empresa agrícola disse: “Investimos na construção de explorações suinícolas cerca de US$ 66 milhões.
Se tivéssemos sabido das condições em que a Rússia iria entrar na OMC, não teríamos investido nada”. Não conheço uma só indústria que tenha ficado feliz com a adesão do país à OMC.
Isso não nos ajudará a exportar nossas colheitadeiras. Pelo contrário, os impostos de importação serão reduzidos três vezes, dos atuais 15% para 5%. Quando perguntaram minha opinião, disse que o governo deveria apoiar a emigração para que pudéssemos transferir os trabalhadores de nossas empresas na Rússia para nossas empresas no exterior para diminuir a tensão social.
Então a ministra do Desenvolvimento Econômico, Elvira Nabiúlina, me perguntou: “Você está nos ameaçando?” Em resposta eu disse: “Veja o que aconteceu com nosso setor. Há sete anos, nossa indústria empregava 100 mil trabalhadores, agora 50 mil, e tinha 100 fábricas, agora 60, e seu número continua diminuindo. A adesão do país à OMC nas conhecidas condições causará a degradação da indústria nacional de construção de máquinas agrícolas e de muitos outros setores industriais russos”.
A luta contra a OMC
- O governo e os empresários russos estão
discutindo como compensar as perdas sofridas pelas empresas nacionais com a
abertura das fronteiras. Que medidas estão sendo propostas?
- Eu sugeriria não
assinar a adesão da Rússia à OMC nas condições acordadas. É verdade que nos
prometeram mitigar as
consequências desse passo mediante a aplicação de um mecanismo de proteção não-tarifária.
Mas não está claro como isso pode ser feito nem como é possível aplicar as barreiras não-tarifárias em relação a milhares de itens em seis meses. O governo disse que iria investir anualmente US$ 4,5 bilhões para apoiar o setor agrícola enquanto o programa de modernização do setor vigente prevê disponibilizar para esse fim US$ 17 bilhões por ano.
Portanto, as verbas previstas no programa serão cortadas. Assim, ao entrar na OMC, concordamos em que nosso setor agrícola permaneça em seu atual estado deplorável.
- Que medidas você sugere para apoiar o setor nacional de máquinas agrícolas?
- O regulamento da OMC permite aplicar, por um prazo de até oito anos, medidas protecionistas e impostos de importação elevados se as importações começarem a prejudicar muito os produtores nacionais.
Discute-se a hipótese de subsidiar a produção nacional de equipamento para torná-lo mais barato para o consumidor. Além disso, é preciso que o governo dê apoio às exportações nacionais.
Atualmente, exportamos 25% de nossos produtos sem qualquer apoio do governo. Caso houvesse uma entidade governamental especializada em apoio às exportações, poderíamos exportar 60%.
Finalmente, precisamos de subsídios para a pesquisa e desenvolvimento. Nos últimos dez anos, somente três projetos no setor de máquinas agrícolas foram apoiados financeiramente. Seja como for, todas essas medidas só poderão atenuar, mas não compensar as perdas com a entrada do país para a OMC.
- Então você não encontra nada de positivo na adesão da Rússia à OMC?
- Você pode rir, mas digo que não.
"Vamos ver a situação na Rússia e no Canadá..."
- Na década de 2000, a participação dos produtores agrícolas estrangeiros no mercado russo cresceu várias vezes, embora o equipamento estrangeiro seja muito mais caro. Como isso aconteceu?
- Os produtores estrangeiros utilizam empréstimos subsidiados e outras formas de apoio do governo para exportar seus equipamentos para a Rússia. Mesmo assim, as máquinas nacionais têm, por enquanto, maior presença no mercado russo.
- Segundo sua lógica, agora que a Rússia entrará para a OMC, as máquinas agrícolas nacionais se tornaram incapazes de competir em condições de igualdade com suas congêneres estrangeiras. Por quê? Vocês tiveram tempo suficiente para se preparar para isso...
- Vamos ver a situação na Rússia e no Canadá, uma vez que operamos nesses dois países. No Canadá, os juros anuais de empréstimo são de 4% enquanto na Rússia, 12%.
Os metais na Rússia são 10 a 15% mais caros do que no Canadá. No Canadá, as estradas não têm congestionamentos. Como a polícia canadense trabalha muito bem, você não precisa contratar seguranças.
No Canadá, a energia elétrica é duas vezes mais barata e os impostos são mais baixos do que na Rússia. Além disso, o governo canadense concede incentivos fiscais para a modernização.
Colheitadeira Rostselmash Foto: TASS
No Canadá, podemos receber do governo local um crédito com juros anuais de 0,5 % no valor de dezenas de milhões de dólares por um prazo de 10 anos na condição de esse dinheiro ser aplicado no desenvolvimento de nossa empresa. Recentemente, o governo canadense nos concedeu um empréstimo de US$ 50 milhões sem juros por dez anos para o apoio a uma empresa de tratores local.
Além disso, pratica-se o lobby político. Se um ministro se desloca ao exterior, ele leva sempre consigo empresários. Na Rússia, os empresários nacionais nunca são convocados para reuniões internacionais e ninguém defende seus interesses. E agora você pergunta por que nosso setor de máquinas agrícolas não é competitivo. Nessas circunstâncias, ninguém quer investir nele.
"Eu e meus parceiros gostamos de trabalhar no setor de máquinas agrícolas..."
- Você teve a oportunidade de levar sua opinião
ao conhecimento de Vladímir Pútin e Dmítri Medvedev. Qual foi sua reação?
- Há três ou quatro anos, escrevi e ofereci a alguns ministros, inclusive Vladímir Pútin, um livro intitulado “Uma política industrial sensata ou como podemos sair da crise”. Alguns deles, Elena Skrínnik (ministra da Agricultura), Víktor Khristênko (ex-ministro da Indústria) e Ígor Artêmiev (diretor do Serviço Federal Antimonopólio da Rússia), me disseram depois de ler meu livro: “Você tem razão, Konstantin”.
Depois que ofereci meu livro a Vladímir Pútin, ele visitou nossa empresa Rostselmash duas vezes. Talvez também o tenha lido. Dei minha opinião em diversas reuniões. O resultado está à vista: estamos entrando na OMC.
- Se você acha que em seu setor tudo está ruim, porque não vende sua empresa?
- Não, nossa empresa é muito boa. No início de novembro passado, estive em uma exposição internacional na Alemanha para ver o que oferecem nossos principais concorrentes. Verifiquei que nós oferecemos os mesmos produtos e que sua qualidade não é pior.
Nossa fraqueza está em nossa dependência do mercado russo, onde a política conduzida é ruim. Mas a Rostselmash não opera só na Rússia. Um terço de nossos ativos de produção se encontra no exterior, temos metade das vendas fora da Rússia.
Se, na Rússia, nosso negócio for destruído, passaremos a construir tratores e colheitadeiras no exterior. Eu e meus parceiros gostamos de trabalhar no setor de máquinas agrícolas e pretendemos continuar nosso trabalho aconteça o que acontecer.
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