Ilustração: Aleksêi Iorsh
Finalmente Vladímir Pútin entrou em contato, embora a contragosto e por correspondência (publicando três artigos – nota da Gazeta Russa), com a oposição que se manifestou na Praça Bolôtnaia. Fiel a seu estilo, ele decidiu sozinho o que a oposição quer e atendeu a suas reivindicações com a exposição das principais teses de seu programa eleitoral na imprensa local.
No entender do premier russo, os manifestantes reunidos na Praça Bolôtnaia reivindicam empregos mais interessante e mais bem remunerados, assim como antes reivindicavam uma formação de qualidade. Por isso, se antes o candidato à presidência atendeu aos protestos com a promessa de criar 25 milhões de novos empregos, agora promete concessões para pequenas empresas, proteção contra empresas gigantes e impostos baixos para as empresas não dependentes das vendas de matéria-prima.
Todavia, em minha opinião, os manifestantes da Praça Bolôtnaia querem algo diferente e não reivindicam bons empregos nem mesmo a justiça social, eleições honestas ou concorrência na política. O que reclamam são oportunidades de ascensão social. Para alguns analistas, se Dmítri Medvedev tivesse se candidatado a um segundo mandato, não teria havido protestos na Praça Bolôtnaia. Esse aspecto é muito relevante.
Nossa classe média deveria ter entendido que Pútin não iria sair e que a “alteridade” de Medvedev foi nada mais nada menos que uma manobra propagandística dos círculos próximos ao presidente. Esse truque gerou na sociedade a esperança de mudanças rápidas que iriam abrir espaço para a ascensão social. Como resultado, um trabalho duro e uma subida gradual e longa na carreira deixaram de ser um valor apreciado pela maioria da população, iludida com os discursos de que tem uma excelente formação e, portanto, merece um excelente emprego.
As autoridades, aliás, continuam martelando esse tese. Pútin apresenta como grande conquista o fato de a Rússia estar entre os quatro países do mundo com o maior sucesso universitário entre os jovens, não dizendo, contudo, que a qualidade de ensino na Rússia moderna deixa a desejar. Nesse contexto, sua tese de que cada aluno russo vai ler por iniciativa própria 100 livros nem sequer provoca um sorriso.
Portanto, os protestadores na Praça Bolôtnaia reivindicam o acesso a postos de comando e oportunidades de ascensão social que, com o regresso de Pútin, se fecham por mais 12 anos. Agora o governo dá a entender que o prazo pode ser de seis anos se os protestos acabarem, mas os manifestantes já não acreditam.
A liderança sentiu a demanda da sociedade pelas oportunidades de ascensão social já antes das eleições e reagiu de forma bastante cínica: aumentou o número de servidores públicos. Mas nem todos os jovens com cursos universitários conseguiram se encaixar nas estruturas governamentais. Em seguida, substituiu 60 governadores e trocou o corpo de deputados, mas muitos dos novos governadores e deputados viraram objeto de escárnio e não inspiraram confiança na sociedade.
Konstantín Símonov, diretor-geral do Fundo Nacional de Segurança Energética
Originalmente publicado em http://www.vedomosti.ru/opinion/news/1489285/ostorozhno_dveri_otkryvayutsya#ixzz1l1v34KcC
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: