Desde 1999 no negócio, Guilherme França Reis, 50, trabalhou como agente de futebol e já levou para a Rússia jogadores de campo e de salão, treinadores, preparadores físicos. Agora, que Guilherme é exclusivo do clube Rubin, de Kazan, trabalha como “funksioner”, título russo para uma mistura de caça-talentos e funcionário a serviço do futebol. Guilherme falou à Gazeta Russa sobre o status atual do futebol brasileiro em um dos países mais promissores no ramo.
- O que você faz no Rubin hoje?
Faço basicamente três coisas: uma é ser olheiro, outra é auxiliar com o projeto de uma escolinha que vai levar uma molecada do Brasil para a Rússia, e a terceira, agora, é acompanhar a recuperação de um jogador brasileiro do Rubin chamado Carlos Eduardo. Eu inclusive estou na casa dele agora. Ele é um jogador fora de série e foi operado agora.
- Você negociava passes antes?
Eu fazia de tudo, inclusive compra e venda de jogadores. Sempre com a Rússia, nunca com outros mercados. Na área de futebol de salão, fiz negócios com a Ucrânia, com o Azerbaijão etc.
- Há muitos jogadores brasileiros hoje na Rússia?
De campo tem alguns, de salão deve ter de 10 a 15 jogadores.
- Muitos jogadores te procuram querendo ir à Rússia?
Os jogadores me procuram muito. Quem não me procura são os donos de clube pedindo jogadores (risos)! Quando eu comecei a trabalhar, comecei a usar o MSN, e por lá eu devo ter pelo menos uns 200 jogadores de futebol, alguns empregados outros não. Os que não estão empregados estão sempre pedindo. Eu já levei goleiro para a Rússia, treinador, preparador físico... Todo esse mundo do futebol que sabe que eu atuo na Rússia, está sempre entrando em contato comigo para ver se eu tenho alguma oportunidade de trabalho na Rússia.
No estádio Lujniki, em Moscou, Guilherme assiste a uma partida com o jogador Luis Robson Pereira da Silva (esq.), ex-Spartak e Corinthians, entre outros Foto: arquivo pessoal
- Quem você já levou para o país?
No futebol de salão, por exemplo, levei o treinador Sérgio Benatti, que foi campeão da Copa Uefa pelo clube Chaleroi, depois o coloquei no Norílski Níkel, onde ele ficou como treinador durante um ano. Teve o preparador físico Toni Panassolo, que trabalhou primeiro no Arbat, em futebol de salão, depois no Dinamo de campo, depois no futebol de campo do Spartak. Entre os jogadores, teve o goleiro de salão Herald, entre os jogadores de linha mais famosos, o Choco e o Jorginho, depois Dedé, Pelé... São tantos nomes que a gente esquece a maioria.
- Os jogadores que te procuram, os menos conhecidos, eles têm preferência por algum time?
Não, na verdade o que eles querem é ser empregados!
- Ninguém te procura dizendo: “Olha, eu quero ir para o Anji!”
Procurar, procuram, mas é difícil. Eu mesmo negociei com o Anji para trabalhar com eles neste ano, mas não consegui. Conheço pessoalmente o diretor-comercial do Anji e ele queria que eu fosse para lá. A gente chegou a se reunir com a diretoria, mas não chegamos a um acordo. Todo mundo quer o melhor para si, e hoje em dia o Anji é quem paga mais na Rússia. Isso cria uma atração muito grande.
- Essa procura deve ter aumentado nos últimos tempos...
Claro! Porque no Anji se paga de cinco a seis vezes mais que em outro time. A procura pelo o Anji é muito grande, mas a possibilidade de entrar é muito pequena.
- Dos jogadores que vêm para cá, muitos vão embora?
Não, a maioria não. Muito poucos brasileiros foram à Rússia e resolveram voltar para o Brasil depois. Isso porque existe uma série de facilidades na Rússia para o jogador. Por exemplo, lá se paga prêmio por vitória, então se o jogador está atuando e o time ganha, ele recebe um valor que varia de 3 a 30 mil dólares por vitória, fora o salário. Isso é um atrativo muito grande.
- Tem quem vá embora antes de o contrato terminar?
Algumas vezes sim, como foi o caso do Vágner [Love] nesta semana, que teve um desfecho feliz para ele, já que ele conseguiu levar o Flamengo à Rússia para comprar o passe dele pelo preço que os russos queriam. Ele voltou para o Brasil agora, eu vi a notícia, super feliz e contente. Mas o Vágner saiu muito cedo do Brasil, já estava na Rússia há anos, saiu com 19 anos, quase não passou a adolescência dele no Brasil. Isso cria muitas saudades, muitos vínculos, e a pessoa resolve, de repente, deixar de lado o dinheiro que ela ganha aí para ter um pouco de satisfação no Brasil.
- Com seus jogadores isso não aconteceu?
Não, de jeito nenhum! Eles queriam era ficar mais. O Jean, zagueiro que atuou por último no clube Moskva, o Lima, que era volante do Dinamo, todos queriam ficar. O Roni que às vezes me procura pedindo: “Se aparecer uma vaga, arrumar um lugar aí para mim”. Tudo isso no futebol de campo. Tem também o Jeder, que depois do Saturn foi para o Spartak e também tem grande vontade de voltar. Se fosse pela vontade dos jogadores, todos estariam aí hoje. O próprio Robson, do Spartak, que parou muito cedo, se tivessem deixado, ele teria voltado para a Rússia para terminar a carreira.
- No meio do ano passado alguns jovens vieram para cá procurar lugar nos times sozinhos. Você ouviu falar?
É, o mercado é muito bom, então sempre bate alguém aí. Eu já encontrei com vários assim: “Ah, eu vim fazer um teste aqui no...” e diz um nome de time que nem existe. Tem muito empresário que manda o jogador e diz: “Vai lá e se vira, de repente você consegue alguma coisa”. Eu mesmo consegui uma vez um teste para um amigo do Jô, aquele que jogava no CSKA, e que trouxe um amigo que era volante. Na época, quando ainda existia o Saturn, eu consegui um teste para ele, só que ele não foi aprovado.
- Você já ouviu falar de algum caso em que a pessoa tenha vindo assim e tenha conseguido alguma coisa?
Não, que eu saiba não. É difícil. Primeiro que é muito difícil conseguir isso que eu fiz, que é colocar o atleta em um teste de algum time. Depois, ele tem que ser aprovado, ou seja, ele tem que ser melhor do que aqueles que já atuam lá. E, geralmente, o atleta que vai está despreparado ou fisicamente, ou emocionalmente. Então é muito difícil disso acontecer.
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