Pútin divulga seu programa eleitoral para campanha da presidência russa

Foto: Reuters / Vostock Photo

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O primeiro-ministro Vladímir Pútin apresentou o programa eleitoral para sua terceira candidatura à presidência, prometendo o desenvolvimento de políticas internas e da economia bem como das relações internacionais.

O primeiro-ministro da Rússia, Vladímir Pútin, divulgou na última semana o programa eleitoral de sua campanha à presidência do país. “Esse é, claro, o programa básico, que apropriadamente compila e atende às necessidades de nossos cidadãos em todas as esferas, em todos os ramos de atividade”, escreveu Pútin no prefácio do programa, que foi publicado em seu site.

De acordo com o porta-voz de Pútin, Dmítri Peskov, o próprio primeiro-ministro escreveu o programa durante as férias, “baseando-se nas sugestões de cidadãos de todas as regiões do país”. Peskov disse que o programa estabelece “uma nova visão associada a um mundo em constante transformação”. 

O programa não menciona em momento algum o partido Rússia Unida, que formalmente indicou Pútin à presidência, reforçando a perspectiva de muitos observadores que acreditavam que o premiê iria se distanciar do partido governista após as acusações de fraude nas eleições da Duma de Estado e dos protestos que tomaram conta do país em dezembro de 2011.

No primeiro capítulo do programa, “Resultados de uma Década e os Desafios pela Frente”, Pútin relembra os problemas que a Rússia havia herdado da União Soviética e que se intensificaram durante a década de 90 – e fala como muitos deles foram superados graças à sua ajuda. Pútin afirma que uma estabilidade política, como a alcançada por ele, garante o crescimento econômico, assinalando o aumento do PIB e das receitas internas obtido durante seu mandato, ao lado de  menores taxas de desemprego, inflação e mortalidade.  

“Nós nos juntamos ao clube dos países em desenvolvimento”, escreveu. “Partindo de uma economia arruinada nos anos 90, a Rússia subiu para a posição de sexta maior economia do mundo.” Mas ele admite: “A Rússia está defasagem em relação aos principais países quando se trata de produtividade do trabalho e eficiência energética”. A receita de Pútin para recuperar esse atraso não é uma nenhuma novidade: “Modernização econômica e crescimento da atividade empresarial”. 

O capítulo “Espiritualidade e a Unidade do Povo Russo” é especificamente dedicado aos meios de comunicação e internet. Reconhecendo seu valor educativo, Pútin promete “lutar contra a tentativa de usar o espaço de informações para disseminação do ódio, nacionalismo, pornografia, uso de drogas, fumo e bebidas”.

Nesse documento, Pútin dedica muita atenção ao desenvolvimento regional na Rússia. As províncias deverão receber assistência financeira do governo federal, mas o primeiro-ministro não abordou o projeto de retomar as eleições diretas de governadores, que vinha sendo anteriormente discutido com o atual presidente da Rússia, Dmítri Medvedev. 

A principal ideia por trás do projeto econômico do programa é o crescimento dos investimentos – “pelo menos 25% do PIB até 2015, em comparação aos 20% atuais”. Para estimular o crescimento, Pútin prometeu impulsionar o desenvolvimento dos setores de energia, manufatura, agricultura, telecomunicações, tecnologia da informação, biotecnologia e outros segmentos tecnológicos. O candidato à presidência garante aos empresários “proteção contra quaisquer violações à propriedade privada”.

“A diminuição das taxas de juros vão se tornar um incentivo para investimento no setor real da economia”, escreveu. “Resolveremos essa questão em primeiro lugar diminuindo a inflação e desenvolvendo o mercado financeiro interno, usando a estratégia de ‘dinheiro de longo prazo’”.   

Pútin também prometeu apoio aos produtores domésticos de mercadorias minimamente processadas e fomento à inovação, “com o intuito de atingir um salto qualitativo na economia e melhorar a concorrência interna”. 

Em termos de política estrangeira, melhorar as relações entre os países da ex-União Soviética permanece uma prioridade para Pútin. “A União Aduaneira entre Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão está funcionando e o Espaço Econômico Único está se tornando uma realidade – esse é um nível ainda mais profundo de integração. Vamos prosseguir em direção ao estabelecimento de uma União Euroasiática, abrindo uma nova era nas relações entre os países do espaço pós-soviético”, afirmou. 

Nas relações internacionais, Pútin pretende ampliar a influência econômica e cultural da Rússia e reforçar seus interesses políticos e econômicos.  

“Medidas unilaterais tomadas pelo nossos parceiros que não levem em consideração as opiniões e interesses da Rússia irão receber avaliação e respostas apropriadas”, escreveu, preparando o terreno para os últimos parágrafos do programa, que descrevem a modernização das forças armadas e um aumento de sua prontidão para o combate.

Especialistas dizem que o programa de Pútin é complexo. De acordo com o cientista político Serguêi Tcherniakhovski, um dos pontos mais importantes do documento é que Pútin coloca as responsabilidades sociais do Estado para os cidadãos acima da necessidade de imediato desenvolvimento econômico. “As principais questões estão propondo alterar a base tecnológica da sociedade, a ideia de que o poder pode ser controlado pelo povo e que a deliberação sobre que tipo de país a Rússia deve ser pode partir de uma decisão das pessoas”, disse Tcherniakhóvski.

Por outro lado, Gleb Tcherkasov, editor de política do jornal russo Kommersant não vê nenhum avanço no programa de Pútin. “O programa é clássico – a favor de coisas boas e contra tudo de ruim que existe. É evidente que foi escrito para que depois seja possível extrair algumas peças e preenchê-las com outra coisa – tal como o armazenamento de mísseis sem ogivas”, afirmou. 

De acordo com o analista político Mikhail Vinogradov, a principal peculiaridade do programa de Pútin é o fato de o primeiro-ministro contar mais com a recém-criada Frente Popular da Rússia do que com o partido governista. Mas o público-alvo ainda é o mesmo: “Pútin não tenta se dirigir a cidadãos de qualquer tipo específico, ele fala para aqueles que têm certeza de que a Rússia é o melhor país do mundo e possui uma missão específica e espiritualidade”, disse Vinogradov.

“No geral, o programa é bem redondo: alguns objetivos e prioridades são expostos, mas todos de maneira vaga”, afirma o analista político Gueôrgi Tchijov. Segundo ele, Pútin tenta satisfazer todos os eleitores e, desse modo, evita qualquer assunto delicado. 

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