Foto: TASS
Intuição feminina e treinos de alerta praticados no início da viagem, assim como a tradição russa de comemorar a passagem do ano no calendário juliano, foram alguns dos motivos pelos quais os turistas russos se salvaram mais rápido do que os demais passageiros do navio Costa Concordia, afirma uma turista russa que sobreviveu ao naufrágio.
O Costa Concordia, que levava mais de 4.200 pessoas a bordo, naufragou próximo à ilha de Giglio, na Toscana, depois de bater em uma rocha, deixando seis mortos e mais de 60 feridos.
Após o naufrágio, a russa Elena e seus companheiros foram levados para a França, onde tinham reservas em um hotel em Nice. Após o fim do
cruzeiro, eles haviam planejado dar uma volta pela cidade e voltar de avião
para a Rússia no domingo, mas tiveram que trocar as passagens para fazer novos documentos em substituição aos
perdidos no naufrágio. Como resultado, tiveram que partir de Marselha na tarde da segunda-feira.
“Faltava uma noite para chegarmos a Savona, era a última noite do cruzeiro. Era por volta das 21h20. Estávamos no restaurante comemorando a passagem do ano no calendário juliano. Em Moscou, o Ano Novo acabava de se iniciar e começamos a receber mensagens de felicitações pelo celular. Nesse momento, sentimos um choque e o navio começou a adernar. Ao mesmo tempo, começaram a cair copos, pratos e outras louças”, conta Elena. Segundo ela, o chão ficou logo coberto de estilhaços de vidro e fragmentos de louça.
“Os funcionários experientes deram aos clientes do restaurante a ordem de descer a pé ao quarto convés e observar as medidas de segurança. Aqueles que pegaram o elevador ficaram presos nele”, relata a turista.
Enquanto desciam para sua cabine, a abertura do navio aumentou.
“Primeiro, o navio estava adernado para um lado. Quando chegamos a nossa cabina, ele começou a se inclinar para o outro e se inclinou tanto que se tornou difícil andar pelos corredores e escadas”, conta Elena.
“Houve vários cortes de energia devido aos problemas com o gerador, segundo nos foi dito, mas os passageiros foram solicitados a ficar em suas cabines”, prossegue a turista russa.
“Ninguém nos comunicou que fôssemos até os botes salva-vidas, mas minha mãe insistiu para que fôssemos até o bote que haviam nos indicado durante os exercícios de alerta. Quando a sirene finalmente tocou, já estávamos com coletes salva-vidas em uma fila junto ao nosso bote, conforme nos ensinaram. Deve ter sido por isso que, em nosso caso, tudo correu bem e de forma mais organizada do que nos outros botes”, disse a turista russa.
Segundo Elena, a sirene de alarme soou depois que o navio virou para o outro lado, ou seja, para estibordo. “A tripulação talvez quisesse evitar o pânico”, supôs Elena, assinalando que nem todos os passageiros haviam participado dos treinos de alerta no início da viagem.
“Os exercícios foram realizados no início da viagem. Aqueles que embarcaram em Savona, participaram dos treinos, aqueles que embarcaram depois não haviam sido treinados e, no momento do naufrágio, não sabiam o que fazer, correndo de um lado para o outro”, diz Elena.
A turista se declarou satisfeita com as ações dos funcionários no processo de evacuação.
“Foi a primeira vez que fiquei em uma situação como essa, mas juro que, em
minha opinião, eles agiram muito bem, tentando evitar o pânico. Vivemos alguns
momentos desagradáveis: o pessoal não conseguiu soltar as porcas com que os
botes estavam fixados e levou tempo para parti-las com martelos”, adianta Elena.
“Enquanto a tripulação estava aguardando a ordem de iniciar o resgate, parte do navio se levantou muito, impossibilitando a descida dos botes para a água. Quando o pessoal começou a descê-los, eles caíram no navio e não na água. Por isso, a operação de resgate começou do outro lado, que estava mais inclinado e mais próximo à água”, disse a turista. Ela e seus companheiros foram levadas à costa no segundo bote.
“A maior parte das pessoas foi evacuada rapidamente. Aqueles que não conseguiram encontrar o caminho para o local dos botes salva-vidas foram resgatados de helicóptero. Não vimos se alguém se atirou na água, porque estava escuro e estávamos longe do navio. Mas todos os serviços terrestres e todos os barcos estavam iluminando o navio com seus holofotes, tentando ajudar.”
“As autoridades e população locais ajudaram muito, concedendo cobertores e agasalhos”, adianta.
Já na costa, Elena e seus companheiros encontraram quase todos os compatriotas que conheceram durante a viagem.
“Todos estavam bem. Em minha opinião, quem sofreu mais foi a tripulação. Muitos sofreram cortes e outras lesões, mas todos parecem estar vivos...”, disse Elena.
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