Rússia precisa desenvolver regras no setor financeiro e inibir fraudes, diz presidente de seguradora alemã

Foto: Assessoria de imprensa de Allianz na Rússia

Foto: Assessoria de imprensa de Allianz na Rússia

Aos 50 anos, Hakan Danielsson deu um passo, que, na sua idade, poucos decidem dar. O sueco aceitou encabeçar os negócios da gigante financeira alemã Allianz na Rússia, trocando a vida na Suécia por um país desconhecido. Danielsson considera o trabalho na Rússia um novo desafio, no qual está se saindo bem – logo se tornou o primeiro presidente da Rosno (o grupo Allianz na Rússia) vindo de fora da Rússia. Danielsson falou ao "Vedomosti" sobre suas experiências, planos futuros e como a Allianz irá reforçar a posição do mercado russo.

- Você está gostando da Rússia?

- Eu gosto bastante daqui. Eu não posso dizer que eu tenha tido uma visão clara do país, mas muitas surpresas estavam me esperando. Agradáveis, no entanto.

- Por exemplo...?


- Os russos são realmente muito simpáticos, prestativos e muito generosos. A maneira como vocês se cumprimentam, como se tratam... Brindes, até homenagem com músicas (risos). É muito bacana.

- E o que dizer de surpresas desagradáveis?


- Acho que as pessoas na Rússia não sabem como trabalhar em equipe, eles se ajustam melhor em um trabalho mais individualista. Aqui há líderes muito fortes e competentes, mas eles nem sempre recebem de seus chefes a melhor oportunidade para mostrar suas habilidades e conhecimentos. Eu esperava por isso, mas não nesse grau. Eu nunca havia trabalhado na Rússia, mas já fiz negócios nos países vizinhos – Letônia, Lituânia e Polônia. A situação nesses países não é muito diferente, mas aqui ela é ainda mais exposta. Um dos meus principais objetivos é unir as pessoas, levá-las a trabalhar em equipe. Além disso, uma pequena surpresa foi que a diferença na cultura corporativa das três empresas Allianz na Rússia (Allianz, Rosno e Progress Garant) era muito maior do que eu esperava.

- Qual é a estratégia da Allianz na Rússia agora?


- Se olharmos para os negócios na Rússia como uma porcentagem do negócio de toda a Allianz, ela não é a maior parte. Por outro lado, descobri que, com a crise europeia, o potencial de crescimento em países com um mercado saturado é extremamente limitado. E as empresas precisam crescer. É como andar de bicicleta. Se não acelerar, você não conseguirá. Portanto, os mercados emergentes são muito importantes: esse é o lugar onde as oportunidades de crescimento estão concentradas. Os acionistas querem ver crescimento e lucro. E neste contexto nós somos muito importantes.  A Allianz é uma empresa bastante conservadora. Talvez seja melhor crescer lentamente, controlando o processo, do que ir com agressividade. Muitas empresas agressivas vêm e vão, mas nós já estamos no mercado há 100 anos e vamos continuar por aqui. Eu fico mais inspirado com as palavras "comprometimento" e "resolução". Na verdade, a Allianz está empenhada em desenvolver negócios na Rússia.

- Empresas russas muitas vezes carecem de transparência, nós temos o costume das propinas e outras formas de corrupção. O que você acha? Isso pode ser combatido?


- Seria um erro afirmar que o resto do mundo tem negócios completamente transparentes, que eles não têm nenhum suborno e fraude. Mas na Rússia isso é uma questão maior do que para a maioria dos mercados onde eu trabalhei. Isso é um grande risco para uma empresa que pertence a um grupo como a Allianz, porque não temos outra opção senão trabalhar de forma transparente. Isso significa que de tempos em tempos temos que falar "não" para o mercado, o que reduz o potencial de crescimento e é, portanto, um problema sério. O mercado russo trabalha por comissão. Há muitos pagamentos em dinheiro e um monte de vendas próprias. E a combinação desses dois fatores cria muitas oportunidades para o que você descreveu. Como combater isso? Eu acho que a única maneira a longo prazo é desenvolver a sociedade russa. Assegurar a integridade na vida da sociedade. Nunca haverá regras diferentes separadamente para o seguro e para a sociedade. E isso acontece por duas razões. A primeira é o desenvolvimento econômico, porque quanto mais nos desenvolvermos, mais teremos transferências bancárias e menos pagamentos em dinheiro. O desenvolvimento e o aperfeiçoamento do sistema legal também ajudam. Um controle rígido sobre o mercado é extremamente importante. E esse trabalho está em andamento. Eu acho que o processo é um pouco lento, mas é seguro. Eu posso ver claramente outra razão: a falta de confiança. Às vezes, essa falta de confiança é para com as empresas, em outras, a falta de confiança é nas pessoas.

- A Rússia quer construir um centro financeiro internacional na região de Moscou. O que acha desse projeto?


- É um tema muito interessante. Eu tomei parte ativa de uma iniciativa semelhante em Estocolmo – fui um membro do grupo de gestão, composto por representantes de instituições financeiras, órgãos do governo da cidade da Suécia, etc. Mas e a infraestrutura? Os impostos? Os especialistas? E o sistema legal? Todas estas questões devem ser abordadas. Para o sucesso em Moscou, eu acho fundamental que haja um aumento de capital no longo prazo. Investimentos de longo prazo são a base. Se você tiver um ou dois fundos de investimento diretos, isso não será suficiente, precisamos de capital de longo prazo. Bons exemplos de investimentos a longo prazo são as joint ventures (empreendimento conjunto) com o Estado. Elas podem ser a construção de aeroportos, estradas ou prisões. E essa é uma combinação muito boa.

Outro ponto é o desenvolvimento de regras e sua previsibilidade. Porque se você quiser ter um capital de longo prazo, é preciso assegurar um quadro previsível de bases normativas e sistemas de controle. Eu quero saber que, se eu for nessa direção, a situação não mudará radicalmente nos próximos cinco anos.

- A consistência das regras do jogo e sua transparência é um tema muito atual para a Rússia ? 


- Isso também é atual para outros países. Uma vez eu estive na ilha de Guernsey (ilha do Canal da Mancha, propriedade da Coroa britânica), que atrai uma parcela significativa de capital. Eu tive uma reunião com o ministro das Finanças, que me disse: "Durante 15 anos, nós não mudamos uma regra sequer para os investidores".

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