Ministério da Cultura planeja criar espaços para músicos de rua

Foto: TASS

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Empenhado em transformar Moscou em uma capital cultural europeia, o ministério da Cultura da Rússia pretende dar uma trégua para os músicos de rua, cujas atividades têm sido reguladas principalmente por uma espécie de “código de honra” ou acordos com policiais locais e não pela lei.

“Os músicos de rua são, em regra, profissionais experientes com uma formação adequada. Todos eles têm emprego e tocam na rua para ganhar um rendimento extra”, disse o músico de rua Dmítri, de Vladivostok (no Extremo Oriente russo).

Recentemente, o jornal “Izvéstia” informou, citando uma fonte do departamento de cultura de Moscou, que as autoridades locais podem conceder aos músicos de rua espaços em parques da cidade e legalizar suas atividades já no próximo verão.

Os espaços a serem reservados aos músicos de rua terão iluminação e ligação com a rede de distribuição de eletricidade. Os músicos serão selecionados pela direção dos parques. “Não é uma censura, mas sim preocupação com a qualidade da música. Não queremos, por exemplo, que em nossos parques sejam executadas canções obscenas”, disse um dos responsáveis pelo projeto.

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Um projeto-piloto foi testado no último verão no parque Gorki de Moscou, cujo diretor era na época o atual chefe do departamento de cultura de Moscou, Serguêi Karpov. Agora, a intenção é expandir essa experiência.

Nos EUA e Europa, o licenciamento de músicos de rua compete, em regra, às autoridades municipais ou aos responsáveis pelos transportes coletivos de uma cidade se os músicos quiserem atuar, digamos, no metrô. Uma vez por ano se realiza uma audição que tem várias etapas e está aberta a todas as pessoas interessadas. Com base nos resultados da audição, são emitidas licenças de um ano de validade. Mas com a licença vem toda uma série de responsabilidades.

 

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Por exemplo, em Londres, um músico não pode permanecer em um mesmo local da rua por mais de duas horas. Com a prática de licenciamento, veio a prática de multas. Em Madri, por exemplo, tocar músicas em locais não permitidos é punido com uma multa de 750 euros e apreensão de instrumentos musicais.

“Antes da ‘perestroika’, eu dava aulas de música no centro infantil da cidade de Tambóv (zona central da Rússia). Quando o centro foi fechado, tive de pensar em como sobreviver. Estou aposentado faz tempo, tenho 70 anos. Fui chamado para trabalhar em um centro de atividades para idosos, mas o salário que me ofereceram não dava sequer para viver. A vida em Tambóv é difícil”, disse o músico de rua Vladímir, que toca em passagens subterrâneas de Moscou.

“Fui tocar no metrô de Moscou, mas me mandaram embora de lá. Passei a tocar então em passagens subterrâneas. Quando sou abordado por um policial digo sempre que estou cadastrado como empreendedor individual e pago todos os impostos”, concluiu Vladímir.

Embora não haja uma lei que regulamente ou proíba a atuação de músicos na rua, eles podem ser levados à justiça por infringir a lei do sossego público e do silêncio nas horas noturnas, que proíbe barulhos nas ruas entre as 23h e as 07h.

“Uma vez, quase fiquei na cadeia. Os policiais me puseram algemas e me espancaram. Algum transeunte ligou para o jornal “Novaia Gazeta” e chamou jornalistas. Quando eles chegaram, os policiais me soltaram. O autor da denúncia foi um funcionário da administração municipal. Eu estava tocando perto do prédio da administração municipal e cantando em inglês. Como o denunciante não sabia inglês, ele supôs que eu poderia estar zombando do governo local...”, disse Aleksêi, da cidade de Vorónej.

A maioria dos músicos de rua em Moscou prefere tocar no metrô, o que é ilegal, segundo a assessoria de imprensa do metrô. Mas os músicos podem se dirigir à chefia do metrô com um pedido oficial para realizar um concerto.

A orquestra Kremlin, por exemplo, já se apresentou duas vezes na estação de metrô Kropótkinskaia na Noite dos Museus e a orquestra Virtuosos de Gnéssinikh deu um concerto na estação Maiakóvskaia. Todas essas iniciativas foram planejadas com antecedência e realizadas na ausência de passageiros. O metrô não tem condições para reservar espaços para as apresentações diárias de músicos de rua, assinalou a assessoria de imprensa. 

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