Presidentes (da esq. à dir.) da Ucrânia (Leonid Kravchuk), Bielorrússia (Stanislav Shushkévitch) e Rússia (Boris Iéltsin), - maiores repúblicas da URSS - assinaram 08 de dezembro de 1991 o documento que declarou oficialmente o fim da União Soviética
Na verdade, o processo de desagregação da URSS teve início muito antes. Em 1988, o Soviete Supremo da República Socialista Soviética da Estônia proclamou a supremacia das leis e autoridades locais sobre as leis e instituições da URSS. Em 1989, declarações de soberania semelhantes foram aprovadas pela Lituânia, Letônia e Azerbaijão. Em 1990, todas as repúblicas, incluindo a República Socialista Federativa Soviética Russa (Rússia), se declararam independentes. Porém, os documentos sobre o fim da URS que foram assinados no início de dezembro de 1991 na floresta da Bielorrússia tiveram o mesmo impacto da queda do Muro de Berlim.
Agora, os intelectuais ocidentais lamentam não terem conseguido nos últimos 20 anos transformar a Rússia em um país democrático moderno.
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“A ajuda dos EUA falhou na Rússia em termos de implantação de uma governança transparente e participativa”, escreveu no jornal “The New York Times” Ariel Cohen, especialista sênior em assuntos da Rússia e da Eurásia da Heritage Foundation.
Talvez os intelectuais não tivessem motivos para esperar que a transição do
socialismo soviético à democracia moderna na Rússia fosse indolor e rápida. Josef
Stálin e sua comitiva levaram precisamente duas décadas para garantir a
“vitória definitiva do socialismo” e consagrá-la na Constituição da URSS de 1936.
O golpe de 1917 (transição de um regime mais ou menos democrático para a ditadura do proletariado) afetou uma parte menor da sociedade russa do que aquela atingida pelo abandono dos “ideais comunistas” na década de 1990. A Revolução de 1917 atingiu um pequeno grupo de pessoas abastadas e proporcionou às amplas camadas populares o acesso aos benefícios anteriormente acessíveis só às camadas ricas da população.
Porém, o abandono dos princípios socialistas do igualitarismo na distribuição dos bens foi uma decisão forçada pelo governo e não um imperativo da vontade do povo.
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Na qualidade de substituto de Bóris Iéltsin, Gennádi Burbulis participou da celebração dos acordos sobre o fim da URSS e a criação de uma Comunidade de Estados Independentes (CEI). E lembra-se bem dos documentos que teve que assinar.
“Lembro-me de como todas as noites me pediam para aprovar diretivas que autorizavam o uso dos últimos estoques de farinha, óleo diesel, metais de marcas especiais...
Estávamos solucionando questões de importância vital para um país que estava à beira da fome e colapso total da vida econômica”, recorda. “Naquela altura, já não restava uma só instituição do governo da União que funcionasse devidamente. O país estava à beira do perigoso vazio de poder.”
A maioria esmagadora dos russos continua não acreditando nisso. Todas as pesquisas de opinião pública sobre o colapso da União Soviética apresentam o mesmo quadro: a culpa é de Mikhail Gorbachev e de propagandistas estrangeiros. O analista político Serguêi Kurguinián afirma que, para Gorbachev, o prêmio Nobel da Paz era mais importante do que a paz em seu país. De acordo com a teoria de Kurguinián - compartilhada por muitos russos -, Mikhail Gorbachev queria se tornar um político de nível mundial e atingiu seu objetivo ao destruir uma grande potência. Foi auxiliado nisso por agentes de fundações estrangeiras de toda a espécie (leia-se serviços secretos) que não precisavam de um concorrente forte no cenário internacional.
O principal resultado dessa transformação foi uma acentuada desigualdade social, inaceitável em um país democrático. Não é de se admirar, portanto, a porcentagem dos votos atribuídos aos comunistas que prometem fazer ressurgir a União Soviética e não adianta esperar que o vazio ideológico deixado após o fim do totalitarismo soviético seja rapidamente preenchido com postulados democráticos.
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