Na terra onde o freezer é quente

Luis Eduardo, da Metalfrio, que amplia operações em Kaliningrado, enclave russo entre Polônia e Lituânia. Foto: Ruben Schaves

Luis Eduardo, da Metalfrio, que amplia operações em Kaliningrado, enclave russo entre Polônia e Lituânia. Foto: Ruben Schaves

Com crescimento de 2,9% na receita líquida no segundo trimestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010 nas operações relativas à Rússia e Turquia, a marca de freezers Metalfrio se prepara para crescer. Em busca de expansão de dois dígitos, presidente não teme as instabilidades dos mercados emergentes.

Qual a história da Metalfrio na Rússia?

Estamos no país desde 2006 com a fabricação de freezers para a indústria de sorvete e temos uma posição de liderança no mercado russo.

Em 2006, começamos com uma operação muito singela de montagem em Kaliningrado, que é como uma Zona Franca de Manaus, e evoluímos de tal forma com uma planta integrada que neste ano estamos duplicando o tamanho da fábrica e investindo mais 10 milhoes de euros para expandir nossa linha de produtos. Agora vamos introduzir geladeiras de cerveja e refrigerante.

783,5

milhões de reais foi a receita líquida da companhia em 2010, um aumento de 21,8% em relação ao ano anterior.

Como serão as operações agora?

Temos quatro fábricas (na Turquia, no México, no Brasil e na Rússia). Então nosso relacionamento com esses clientes é muito próximo a partir do Brasil, e daí para os outros lugares do mundo. Temos uma produção muito sazonal, já que trabalhamos com produtos de verão, então no pico chegamos a ter 400 funcionários na fábrica de Kaliningrado, enquanto na média temos entre 180 e 200. Com a expansão, vamos dobrar essa média, com mais de 500 funcionários. Todos são russos, à exceção de dois brasileiros: um controller e um em finanças. Também temos um escritório de venda em Moscou, onde trabalham um turco e duas russas.

Como é a abordagem com os russos?

Nós aprendemos que nosso modelo de negócios não é para se expatriar para outras regiões. A gente acredita muito nesse tipo de operação de ter os negócios locais tocados por gente local. Nesse aspecto, somos uma multinacional diferente.

1,3 mil

de geladeiras e freezers é a produção anual da Metalfrio. O número deve aumentar quando a nova fábrica de 1,2 mil m ² entrar em funcionamento.

Como ocorreu a entrada da Metalfrio no mercado russo?

Foi por meio da aquisição que fizemos de uma empresa dinamarquesa chamada Caravel, que tinha operações na Rússia. Um dos nossos sócios faz parte do projeto desde o tempo da Caravel, que é um fundo multilateral dinamarquês criado para investir em países em desenvolvimento, e hoje não abrange mais a Rússia. Esse sócio tem 10% do negócio e nos ajudou muito a entender como funciona o mercado russo, porque ele tem diversos investimentos e conexões na Rússia e conhece bem o país.

Quem são seus clientes?

São fundamentalmente companhias multinacionais como Coca-Cola, Pepsi Co., Unilever sorvete, Nestlé sorvete, as cervejarias AB-InBev, SAB Miller... A maioria tem negócios no Brasil, no México, na Dinamarca, na Turquia etc. Então é isso que abre muita porta para a gente fazer negócio no mundo inteiro. É uma indústria que se consolida cada vez mais e esses grandes players se tornam cada vez mais poderosos.

Em algum momento houve receio de investir por causa de rumores sobre o empresariado e o governo russo?

Somos uma indústria que procura o crescimento de dois dígitos e isso não existe em mercados maduros. É preciso enfrentar riscos em mercados mais complexos para isso, e é justamente esse nosso posicionamento, a começar pelo próprio Brasil, México, Turquia e Rússia. Temos estudos de ir agora para a Ásia. Para a Índia, por exemplo, onde ainda existem estas oportunidades de crescimento.

Vocês não têm nenhum parceiro atuando na gestão?

Não, é 100% a gente mesmo. A empresa tem uma rede de assistência técnica no mundo inteiro, no Cazaquistão, no Uzbequistão, na Ucrânia, na Rússia, enfim, temos parceiros locais na prestação de serviços. Mas na gestão do negócio propriamente dito não temos parceiros.

Como são feitas as vendas, qual o modelo?

O modelo é muito parecido como em outros lugares do mundo. Como a gente tem um negócio muito sazonal, as vendas são feitas com o crédito que a gente mesmo dá, na média de 100 dias, no máximo 120. Negócios com prazos maiores envolvem bancos, mas não é o padrão.

Com seguradora internacional?

No começo sim, mas hoje a gente só faz seguro com clientes de pequeno e médio porte do mercado russo. O negócio de sorvetes, por exemplo, tem muito mais marcas do que no Brasil.

Ninguém ri quando você conta que fabrica freezers na Rússia?

Tem gente que fala que nós fazemos freezer para esquimó. Mas é engraçado, porque os freezers de lá e as geladeiras de refrigerantes que ficam na rua, do lado de fora dos quiosques, têm aquecimento. Faz tanto frio que se eles não for aquecido o produto congela mais do que deveria, então no inverno a geladeira, no lugar de resfriar, esquenta.

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