Os políticos jogam o anzol em águas pouco transparentes (da esquerda para a direita): o presidente da Rússia Dmítri Medvedev; Serguêi Mironov, líder do partido Rússia Justa; Vladímir Jirinóvski, líder do Partido Liberal-Democrata; Guennádi Ziuganov,
Uma característica do sistema político russo é a de
que os partidos políticos não correspondem a seus nomes, não têm ideologia
clara e só se conhecem por seus líderes. Por exemplo, o partido Rússia Unida,
encabeçado por Vladímir Pútin, que nem sequer é seu militante, se proclama como
agremiação centrista e é comumente considerado partido governante.
Na verdade, essa sigla não tem nenhum programa, o que lhe permite fazer
quaisquer declarações e decisões para reforçar suas posições sem obrigações
perante grupos políticos ou sociais. É sintomático que nas eleições anteriores
os partidos se tenham limitado a divulgar seus programas por meio de
assessorias de imprensa sem os defender em debates públicos.
Como resultado, tais programas não causam interesse nos eleitores e são pouco
lembrados. “O componente ideológico começou a desaparecer nos partidos já no
período Iéltsin. Isso não é culpa do atual governo, mas um traço marcante da
Rússia pós-soviética que, diferentemente das ex-repúblicas soviéticas, não
conseguiu construir seu núcleo ideológico”, afirma Nikolai Petrov, cientista
político do Centro Carnegie de Moscou.
Eleições controladas
Na última década, o número de protagonistas políticos tem diminuído
consideravelmente na Rússia. “Em primeiro lugar, isso aconteceu porque a
política real ficou concentrada nas mãos do Rússia Unida, que não tolera
competição, e, em segundo lugar, porque não havia demanda social de um partido
independente. A demanda era de líderes fortes e, ao mesmo tempo, passíveis de
controle”, afirma o diretor do Centro de Informação Política, Aleksêi Múkhin.
Enquanto isso, barreiras legais à criação de partidos políticos se tornaram
mais altas. As eleições se tornaram mais controladas, e foram anulados o índice
mínimo de comparecimento necessário para reconhecer as eleições válidas, a
opção “nulo” nas cédulas de voto e as eleições diretas para governador, senador
e prefeito de grandes cidades.
Formalmente, nas eleições de dezembro, as vagas de deputado serão disputadas por sete partidos registrados dos quais quatro, o Rússia Unida, o Partido Liberal (LDPR), o Partido Comunista (KPRF) e o Rússia Justa, são parlamentares. Concebido para atender aos anseios do eleitorado de esquerda, o Rússia Justa irá às próximas eleições também com slogans de direita, entre os quais a nacionalização de monopólios, a introdução de um imposto de renda progressivo e de um imposto sobre bens excessivos, o retorno das eleições em todos os níveis, a reinclusão da opção “nulo” nas cédulas de voto, o registro de partidos políticos e a anistia para os empresários vítimas de arbitrariedades burocráticas.
Os protagonistas do jogo político russo
Apostas maiores
Segundo as pesquisas de opinião pública mais recentes do Centro Levada,
apenas metade dos eleitores russos são a favor de mudanças na política russa.
Hoje, o Rússia Unida detém a maioria dos cargos administrativos em nível
federal e regional, e controla grandes fluxos financeiros, tanto públicos como
privados.
Agora, porém, as apostas são maiores. O mandato de deputado aumentou para cinco
anos e o de presidente, para cujo cargo as eleições serão realizadas em março
de 2012, para seis anos. Em outras palavras, Vladímir Pútin e sua equipe
poderão ficar no poder por mais 12 anos.
Portanto, a preocupação do Rússia Unida é fazer com que o índice de
comparecimento às urnas seja superior a 50%. Atualmente, o Rússia Unida tem
mais de 35% das intenções de voto. Essa é a melhor colocação nas pesquisas de
opinião pública, embora seu número de partidários tenha diminuído ultimamente.
Porém, existe a hipótese de o Rússia Unida usar a máquina administrativa para
se reeleger para o Parlamento, assim como aconteceu durante as eleições
regionais de 2010 na Tchetchênia e no Daguestão, no Cáucaso do Norte, onde a
taxa de comparecimento foi igual ou até, paradoxalmente, superior a 100% e o
Rússia Unida obteve cerca de 95% dos votos.
Quando foi anunciada a expressiva vitória do partido nas eleições regionais, as
três bancadas oposicionistas do parlamento russo abandonaram o plenário da Duma
(câmara dos deputados), em protesto contra a fraude eleitoral em favor do
Rússia Unida. Todavia, a Comissão Eleitoral Central e a Corte Suprema de
Justiça confirmaram a legitimidade das eleições.
Decepção eleitoral
A falsificação do processo político na Rússia foi tão óbvia que um
número cada vez maior de russos desconfia das instituições do poder
representativo. De acordo com os dados mais recentes do Centro Levada, 52% dos
eleitores russos pretendem ir às eleições de dezembro próximo, contra 53% em
2007.
Além disso, subiu em cinco pontos percentuais o número de eleitores indecisos.
Dos que não vão às urnas, 34% acredita que seu voto não muda nada. Além disso , a maioria esmagadora dos eleitores,
70%, acredita que os deputados não cumprem suas promessas eleitorais.
Atendendo a manifestações públicas, muitos partidos da Rússia deram uma guinada à esquerda. De acordo com Múkhin, a maior demanda hoje é por justiça social e ideias de caráter nacionalista. Gravado na bandeira do Rússia Justa, o slogan de justiça social foi também assumido pelo Rússia Unida. Outros partidos, como o LDPR, o KPRF e o Causa Direita, estão bajulando os nacionalistas extremistas: o LDPR promete defender legalmente os russos étnicos, o KPRF está lutando pelo socialismo russo, o Causa Direita se declara contrário à imigração de caucasianos e asiáticos.
Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: