Rakhmanov: "O país não fez nada pelo mercado interno" Foto: ITAR-TASS
Quais setores da economia russa são, em sua opinião, os mais subestimados?
Entre os países do grupo BRIC, o mercado russo é o mais barato. Na Rússia, o índice preço-lucro (P/L) é de 6, no Brasil, 8,5, na China, 15 e na Índia, 14. As empresas mais subestimadas pertencem às indústrias tradicionais da Rússia: petróleo e gás, metalurgia e mineração. Porque o mercado russo é, neste momento, tão subestimado em relação aos outros, incluindo os países do grupo BRIC? Infelizmente, a Rússia não conseguiu, até agora, vencer seu “vício em petróleo”. Como resultado, são extremamente grandes seus riscos macroeconômicos.
O banco de investimentos Troika-Dialog foi fundado em 1996, quando surgiu na Rússia o mercado de gerenciamento de aplicações.
A empresa é gestora de sociedades de investimento de capital variável (Sicav), ativos de fundos de pensão privados, companhias de seguro, bancos, investidores de varejo, assim como recursos financeiros de diversas fundações e organizações com a participação do Estado. O Troika-Dialog é um os líderes em gestão de previdência privada no país.
Outra questão é a de que o atual preço do barril de petróleo não corresponde ao equilíbrio entre a oferta e a demanda. Pelo visto, os investidores não entendem qual preço é justo para o petróleo face à indefinição das posições dos bancos centrais dos Estados Unidos e dos principais países europeus em relação à emissão monetária.
No Ocidente e na Rússia, os títulos mais lucrativos e arriscados são os de terceira linha. Quão ativos são os investidores estrangeiros na busca desse instrumento do mercado russo?
São extremamente inativos, em consequência, talvez, da diminuição de seu
apetite pelo risco. De fato, as ações de segunda e terceira linhas tem muito
menos liquidez, portanto, os riscos são maiores. A dinâmica dos respectivos
índices é prova direta disso: o índice da bolsa de valores russa, a RTS,
sofreu, desde o início deste ano, uma baixa de 6% enquanto a RTS-2, índice de
ações de segunda linha, teve uma queda de 13%.
Assistimos hoje a uma situação paradoxal. Por um lado, o Federal Reserve
norte-americano [Fed, o Banco Central dos EUA] realiza uma avultada emissão de
dinheiro, mostrando assim o interesse dos EUA em desvalorizar sua moeda
nacional para, em primeiro lugar, reduzir sua dívida externa e, em segundo
lugar, elevar a competitividade de seus setores exportadores. Por outro lado,
há uma corrida maciça dos investidores ao dólar por meio, inclusive, da compra
de Obrigações do Tesouro dos EUA.
O fato é que, nestas circunstâncias, não há alternativa ao dólar. Os principais
bancos centrais, quer o dólar lhes agrade quer não, continuarão mantendo a
maior parte de seus recursos investidos em tais instrumentos porque precisam de
liquidez. Portanto, os títulos russos de terceira linha, sendo um instrumento
financeiro não líquido, permanecerão subestimados até a mudança do apetite pelo
risco dos investidores internos e externos.
Como, de modo geral, os investidores
estrangeiros avaliam a economia russa? Como um fenômeno único, um mercado
emergente como Brasil, China e Índia, ou como um mercado desenvolvido?
Infelizmente, a Rússia é encarada como país com uma economia pouco
eficaz e dependente das vendas de matérias-primas e que encerra riscos
operacionais e de investimento. Se os investidores encarassem a economia russa
como fenômeno sem precedentes, ela seria negociada com um prêmio e não com um
desconto em relação aos outros mercados emergentes.
Acontece que, neste momento, a Rússia não tem pressupostos macroeconômicos para
a chegada ao país de grandes investimentos a longo prazo. A Rússia foi e continua
a ser refém da conjuntura global. Com o aumento da instabilidade nos mercados
internacionais, os riscos russos crescem em progressão geométrica.
O problema é que o país não fez praticamente nada para a constituição e
desenvolvimento sustentável de seu mercado e demanda internos, isto é, não fez
aquilo que foi feito pela China e está sendo feito pelo Brasil. Além disso, a
Rússia ainda não aprendeu a controlar seus gastos públicos internos: os gastos
crescem, mas a situação socioeconômica do país continua deplorável.
Praticamente todos os setores sociais, educação, saúde pública e outros carecem de investimentos. O setor de administração pública cresceu cerca de três vezes nos últimos três anos e continua crescendo. Como resultado, o governo já assenta suas projeções no Orçamento do Estado em um preço do barril de petróleo de 115 dólares.
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