Bruno Senna Foto: Legion Media
Lágrimas e sangue frio
- Depois de uma qualificação bem-sucedida em Spa, sua estreia da Lotus-Renault, apareceram nas manchetes de jornais: "Senna retorna à Fórmula 1 com Bruno". Como você comenta tal declaração?
Eu entendo que o nome do meu tio sempre vai animar os fãs da Fórmula 1, mas eu quero que minha carreira seja de Bruno, e não uma carreira de Senna.
- Você se considera um romântico ou um lutador?
No que diz respeito aos sentimentos, eu provavelmente me consideraria uma pessoa de sangue frio.
Por isso, é pouco provável que eu seja chamado de romântico. Um homem sensível sim, mas com a
razão fria.
- Você se lembra quando chorou pela
última vez?
Eu me lembro. Isso foi em 2008
na Turquia, no Campeonato GP2, quando, durante a corrida, eu estava em primeiro
lugar e na frente do carro apareceu um cachorro vindo do nada. Da colisão veio
uma bola de fogo que matou o cão, e minha corrida terminou com isso, porque a
suspensão foi tão danificada que eu mal cheguei aos boxes. Foi quando eu
realmente tinha lágrimas de ressentimento.
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- Onde está a fronteira entre o medo e a cautela ao dirigir o carro?
No treinamento, você pode se permitir dirigir com coragem, e até mesmo com negligência. Mas, quando está na corrida, é necessário agir com mais atenção. O preço de um erro na volta de domingo é significativamente maior. Tomemos, por exemplo, meu primeiro Grand-Prix para a Lotus-Renault no Spa: um erro na largada, que causou o acidente, não me deixou acumular pontos para a equipe. E eu comecei na sétima posição, e a largada permitiu que o carro entrasse no top 10. Vitáli provou isso. Então, na próxima corrida vou ser mais cuidadoso no início, mas isso não significa que eu tenho medo.
Ayrton, a popularidade
- O novo filme recentemente lançado nos cinemas sobre Ayrton Senna provocou uma forte reação no mundo do automobilismo. Gostou desse filme?
Sim, muito. Posso dizer que o filme é muito verdadeiro. Ele foi muito bem recebido no Brasil, onde Ayrton realmente é uma lenda. O filme desempenhou um papel positivo no crescente interesse em corridas e nos esportes motorizados.
- Você não chamaria a vida de estrelas juvenis do automobilismo de fácil. Para você, como sobrinho do Ayrton Senna, isso é mais positivo ou negativo?
Eu vou dizer diretamente:
minha mãe sofre bastante por eu trabalhar com corridas. Ela sabe o quanto pode ser perigoso. Perder
um ente querido, o que para ela era o Ayrton,
é uma ferida profunda. Mas a atmosfera geral, a energia em nossa casa é muito
positiva. Basta dizer que após a qualificação em Spa meu avô me chamou, me deu
os parabéns e disse que estava bastante feliz por mim,
que ele me ama muito e assistiu à transmissão com satisfação.
- Muitos pilotos chegam à corrida na companhia de seus amigos, companheiras e até mesmo da mulher. Você ainda está sozinho no pit. Por quê?
Por enquanto eu ainda tenho que pensar na carreira, depois será possível pensar sobre família também.
- Você é bastante reconhecido no Brasil? Na rua, é frequente pedirem autógrafos?
No Brasil, não é muito frequente. Eu moro em Mônaco. A última vez que estive no Brasil foi em janeiro, quando houve a apresentação do filme sobre o Ayrton. Aqueles que se interessam pela Fórmula 1 me conhecem. Quando me pedem autógrafos, eu nunca recuso. É bom quando você é reconhecido. Agora eu espero que, na próxima vez em que eu for para casa, as pessoas me reconheçam ainda mais.
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Amigos, rivais
- Na Fórmula 1 você tem amigos? Quais pilotos você pode colocar nesse grupo?
Sim, tenho amigos aqui. Karun (Chandhok –
ex-companheiro de equipe de Bruno no GP2 na equipe Hispania, na temporada de
2010), Vitáli (Petrov, atualmente parceiro de Bruno na Lotus-Renault), eu
acredito que tenho uma boa relação de amizade com eles.
- Como você se sente sobre a frase "concorrência: o inimigo da amizade"?
Isso é verdade. Amizade é na vida; na pista, é guerra (risos). Lá não se tem amigos. Você não pode se comportar de uma maneira amigável na corrida, nem mesmo com o parceiro, porque você precisa mostrar que é mais rápido, melhor. Isso é uma competição.
- Você e Vitáli se conhecem há muito tempo. Alguma vez ele já contou para você histórias engraçadas sobre a Rússia?
Não, sobre a Rússia o Vitáli nunca me contou nada. Costumamos falar sobre carros, sobre corrida, sobre as características da pista de corrida.
- Eu nunca conheci brasileiros que não gostassem de futebol. Até já foi montado um time de futebol com os pilotos, mas você não está nele. Por quê?
Eu gosto de futebol, mas não sou um grande fã do esporte. E não jogo.
- E o seu clube de futebol favorito?
Pode-se dizer que seja o Corinthians.
- Ontem foi aniversário do Vitáli Petrov? O que você deu a ele?
(Risos) A touca de banho do meu quarto de hotel.
- Com autógrafo?
Não, por enquanto só falei parabéns, desejei felicidades.
- Vocês dois têm 27 anos. Você é um pouco mais velho que Vitáli. Como é o relacionamento de vocês: você o respeita mais porque ele tem mais experiência ou ele te respeita mais porque você é mais velho?
Nós tratamos um ao outro com respeito. Temos um trabalho em comum. A idade não importa. Se ele for mais rápido, vou estudar cuidadosamente todos os dados para tentar alcançá-lo.
- Vocês têm informações que escondem um do outro sobre ajustes?
Para quê? Nós somos uma equipe, trabalhamos com os engenheiros, e eles, por sua vez, comunicam os dados necessários.
- Com quem é mais fácil lidar do ponto de vista psicológico: Nick Heidfeld ou Vitáli Petrov?
Agora isso é difícil de julgar. Nick é um piloto muito experiente, faz tempo que está nas corridas. Com o Vitáli, nós chegamos à Fórmula 1 quase no mesmo período, no ano passado. Por isso, são relações diferentes.
- Mas de qualquer modo de quem você se acha mais próximo quanto aos costumes: do alemão ou do russo?
Provavelmente, neste caso é o russo, porque nós, eu e o Vitáli, corremos juntos na GP2.
- Você e o Vitáli vieram um pouco tarde para as grandes corridas, com quase 18 anos. Você se sente hoje com falta de experiência, devido à falta de aparições com a idade de 10 a 15 anos?
Para mim, uma coisa é falta de experiência, outra é começar uma carreira mais tarde. Na Fórmula 1, para mim ainda não basta a experiência de pilotar o carro neste ano, porque os testes são proibidos durante a temporada. E, de fato, pela primeira vez eu corri apenas nos passeios livres na sexta-feira no Grand Prix da Hungria. Embora, claro, se eu tivesse a sorte de ter treinado automobilismo com menos idade, hoje seria um pouco mais fácil.
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Do Brasil para
a Rússia
- Qual das corridas que restaram no calendário você mais gosta? De onde você ainda pode esperar um bom resultado?
Suzuki, Abu Dhabi e, provavelmente, o Brasil.
- É possível acreditar que o Bruno Senna na corrida em casa, com o apoio dos fãs brasileiros, mostrará resultados acima de suas capacidades?
Vou tentar fazer tudo o que está ao meu alcance. Até o dia de hoje, posso dizer que nosso carro é rápido o suficiente. E o meu trabalho é me acostumar com a máquina o mais rápido possível para mostrar a todos na minha terra natal o que eu posso fazer.
- No automobilismo, além de talento, em momentos específicos é importante um apoio financeiro também. Você acha que um menino de família pobre pode entrar para grandes corridas? E, de modo geral, ele poderia mostrar seu talento?
Se você começar com kart, é possível. Se ele tiver talento, então vão notá-lo, e todo o resto vem naturalmente. Não necessariamente é preciso ser de uma família rica para entrar na Fórmula 1. Mas, realmente, se houver algum tipo de apoio, mostrar seu talento será mais fácil.
- Quantos irmãos você tem?
Nós somos em três, eu sou o do meio, ainda tenho uma irmã mais nova e uma mais velha.
- Quem hoje fornece apoio financeiro? Os pais?
Eu comecei com o dinheiro dos meus pais. Mas, quando entrei na Fórmula 3, no segundo ano de participação nesse torneio eu já tinha patrocinadores.
- A decisão de praticar automobilismo tem sido associada com a glória de seu tio, Ayrton Senna?
Comecei a correr bem criança, quando eu tinha 5 anos de idade. Eu realmente gostei. Mas, quando aconteceu aquele choque terrível na nossa família, eu parei. Não porque eu mesmo não queria. A família me proibiu. Os meus pais não queriam que eu me tornasse piloto. Mas então, já com 18 anos, voltei para o automobilismo porque eu amo correr.
- Depois da morte de seu tio, quanto tempo você não pode se sentar ao volante? Durante quanto tempo não assistiu a uma corrida?
Para mim, o acidente foi um choque. Porque ele era um modelo para mim, era quem me inspirava... e de repente ele se foi. Mas eu ainda queria ser um piloto mesmo assim. Eu tive que parar porque... eu tive que parar. Toda a nossa família queria assim. Então, eu não sentei atrás do volante do carro de corrida depois daquele dia terrível. Mas eu continuei a assistir a corridas, elas continuaram a me interessar porque eu as amava. Mas tive que parar com a maioria das corridas porque eu não tinha possibilidade de agir de forma diferente.
- Deus para os brasileiros significa muito. Como é isso na sua vida?
Eu acredito em Deus, e ele também significa muito para mim.
- Na Rússia, muitas pessoas conhecem o Ayrton Senna. Mas já há aqueles que acompanham o sucesso de Bruno Senna. O que você gostaria de dizer para seus fãs?
É muito prazeroso saber que a Rússia, que até Vitáli Petrov não tinha pilotos da Fórmula 1, se interessa tanto sobre essas corridas. Espero que, se tudo der certo na minha carreira, eu possa correr no Grand-Prix da Rússia.
- Você já esteve na Rússia?
Nenhuma vez. Ainda não houve tal possibilidade.
- Por que você vive em Mônaco?
É um país fantástico, de clima ótimo. E muitos amigos moram em Mônaco.
- Escreva em português o que você gostaria de desejar aos leitores russos?
Força e Suporte! Torcida! Um abraço. Bruno Senna. 9/9/2011
Originalmente publicado no site http://www.sports.ru/
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