Foto: Reuters
Se a pasta de primeiro-ministro for ocupada por Dmítri Medvedev, a elite política da Rússia sofrerá graves perturbações, afirmam em uníssono cientistas políticos russos e estrangeiros.
O governo russo será o primeiro a enfrentar mudanças. Essa declaração foi feita por Dmítri Medvedev já em agosto último. “O governo deverá passar por uma transformação substancial”, disse o presidente, durante sua viagem a Sôtchi. No dia 24, ele reiterou sua tese e salientou que a “modernização deve estar a cargo de um governo substancialmente remodelado”.
Evidentemente, não vai se tratar de uma simples mudança do gabinete do presidente para a Casa do Governo e vice-versa. “Dmítri Medvedev disse que quer ver um governo substancialmente renovado. Isso quer dizer que deverão aparecer figuras verdadeiramente novas e não adianta esperar que as pastas sejam simplesmente redistribuídas entre as mesmas pessoas”, esclareceu o assessor de imprensa do governo russo, Dmítri Peskov. O responsável não pôde responder detalhadamente à pergunta sobre como será o novo gabinete de ministros em caso de vitória dos candidatos do Rússia Unida, uma vez que a “composição do novo governo ainda é desconhecida e que ele será formado da mesma maneira que em 2008, quando Vladímir Pútin e Dmítri Medvedev estavam elaborando juntos uma lista de ministros até a tomada de posse deste último”.
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As eleições parlamentares na Rússia acontecerão em dezembro próximo e as presidenciais, em março do próximo ano. Segundo a legislação russa, a partir de 2012, o mandato presidencial se estende de quatro para seis anos, podendo o presidente permanecer no poder por dois mandatos sucessivos, ou seja, 12 anos. Vladímir Pútin, 58 anos, exerceu dois mandatos sucessivos de presidente, de 2000 a 2008. Dmítri Medvedev, 46 anos, venceu as eleições presidenciais em 2008.
Uma coisa ja ficou clara: Aleksêi Kúdrin abandonou a pasta da Fazenda. Depois do anúncio feito por ele em uma reunião do Comitê Monetário e Financeiro Internacional, em Washington Dmítri Medvedev assinalou ontem que todos que não concordam com a sua política estão livres para renunciar e assinou a renúncia de Kúdrin.
Conforme especialistas, as divergências mencionadas por Aleksêi Kudrin em Washington decorrem do programa de desenvolvimento de armamentos aprovado por Dmítri Medvedev ao contrário da opinião do ministério da Fazenda.
Peritos não duvidam de que a conhecida decisão da dupla de governantes terá, de qualquer maneira, consequências econômicas, independentemente de haver ou não mudanças no governo. O retorno de Vladímir Pútin à presidência da República vai assustar os investidores, afirma o analista independente Aleksandr Trífonov. A “política de linha dura de Pútin não vai contribuir para a melhoria do clima de investimento”.
Por sua vez, o diretor da revista “Big Business”, Iliá Gorbunov, é de opinião de que grandes investidores internacionais se sentirão mais confortáveis em um ambiente de “estabilidade putinista”: “Grandes investidores internacionais já trabalharam com Vladímir Pútin quando ele era presidente e quando ele era primeiro-ministro. Acho que, agora, devemos aguardar o cumprimento das previsões do ministério do Desenvolvimento Econômico e do ministério da Fazenda e o retorno da taxa de câmbio ao nível habitual”.
Em caso de vitória, Vladímir Pútin terá de fazer uma escolha entre deixar ficar tudo como está ou realizar reformas em larga escala. Mudanças são necessárias e o atual primeiro-ministro poderia levá-las à prática, acredita o ex-ministro da Economia, Evguéni Iássin. Ao mesmo tempo, as mudanças programadas poderão “trazer riscos políticos e medidas impopulares, o que poderá conter Vladímir Pútin”, acrescentou.
Enquanto isso, peritos apontam outro problema em termos de modernização. Segundo o cientista político Gleb Pavlóvski, ao aceitar esse arranjo, Dmítri Medvedev prejudicou muito sua imagem política. “Medvedev tem dezenas de milhões de apoiadores no país. Desistindo de lutar pela presidência, ele vira as costas para esses apoiadores sem explicações. Isso faz lembrar o incidente de Prôkhorov e do Partido Causa de Direita em uma escala gigantesca”, disse Pavlóvski.
Com base em materiais do “Kommersant”, “Vedomosti” e da agência de notícias “RIA-Novosti”.
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