Aleksêi Kúdrin (à esq.) Dmítri Medvedev (à dir.) Foto: Reuters
Durante a Comissão Presidencial de Organização em Dmitrovgrad, na Rússia Central, Dmítri Medvedev assinalou que todos que não concordam com a sua política estão livres para renunciar. Então, Medvedev voltou sua atenção para Kúdrin pessoalmente: "Se você acha que suas visões sobre a agenda econômica da Rússia diferenciam-se das minhas como presidente, você pode renunciar. Mas você deve responder isso agora mesmo. Você irá pedir demissão?", questionou o presidente.
Aleksêi Kúdrin disse que precisaria discutir a situação com o primeiro-ministro Pútin antes. "Minhas opiniões são diferentes das suas, mas eu só tomarei uma decisão como essa depois de conversar com o primeiro-ministro", declarou.
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Medvedev exigiu que o assunto fosse resolvido até o fim do dia. "Você pode conversar com quem quiser, inclusive com o primeiro-ministro, mas, enquanto eu for o presidente, eu faço essas decisões. Você terá de decidir prontamente e me dar uma resposta ainda hoje. Ou você reconsidera as diferenças das quais está falando ou, se essas diferenças realmente existirem, eu não vejo outra alternativa além de você renunciar. Mesmo que isso seja um desfecho desagradável."
Em um discurso sobre os trabalhos do governo, Medvedev considerou como inapropriadas as declarações de Kúdrin, devido à violação da hierarquia de comando.
"Ninguém aboliu a disciplina e a subordinação no governo", Medevedev disse. O fato de que as afirmações do ministro das Finanças foram proferidas enquanto ele estava nos Estados Unidos foi particularmente ofensivo, ele acrescentou.
Aleksêi Kúdrin, 50, iniciou sua carreira política nos anos 1990 quando começou a trabalhar em São Petersburgo com o então prefeito da cidade Anatóli Sobchak.
Em 1996, ele começou a trabalhar na administração presidencial do primeiro presidente da Rússia Boris Iéltsin. Em 28 de maio de 2000, foi indicado como ministro das Finanças sob o comando do então presidente Pútin. Ele também esteve no posto de vice-primeiro-ministro entre 2000 e 2004 e depois desde 2007.
A declaração controversa de Kúdrin veio após as notícias dos planos por uma reestruturação da liderança da Rússia. No sábado, Vladímir Pútin anunciou sua intenção de concorrer para presidência nas próximas eleições. Dmítri Medvedev irá liderar a lista eleitoral do partido dirigente nas eleições parlamentares de dezembro. Ele também afirmou que se contentaria em trabalhar no gabinete sob a presidência de Pútin.
"Eu não me vejo no novo governo", Kúdrin contou a jornalistas em Washington.
"O negócio não é somente que ninguém me ofereceu um cargo, mas também acredito que as diferenças que eu tenho não permitirão que eu me una a esse governo."
No mesmo dia, Kúdrin afirmou ao Russia Today que ele não tinha certeza quanto ao seu futuro e disse haver vários jeitos de continuar trabalhando para o bem da Rússia.
"Eu gostaria de dizer que meu futuro ainda não é conhecido. Eu disse que estava preparado para trabalhar em qualquer poder desde que ajudasse a promover reformas - essas podem ser bem diferentes, e não apenas no governo. A respeito das reformas, elas são, em primeiro lugar e acima de tudo, sobre reestruturar, aumentar o alcance do sistema de aposentadoria, privatizar, expandir a competição em nossa economia, regular as tarifas e liberar certo número de indústrias onde o estado ainda prevalece no preço de regulação", ele disse.
Irina Iassina, economista
Economistas sabiam muito bem das divergências que existiam entre Akeksêi Kudrin e o presidente, Dmítri Medvedev, e que
elas estavam relacionadas com os gastos militares. Aleksêi Kúdrin cuidava da
integridade orçamentária de nosso país. Podemos criticar suas atividades em outras
áreas, mas não naquelas responsáveis pela estabilidade financeira do país. Aqui,
podemos dar-lhe uma nota de “muito bom”, é o que todos estão fazendo agora. Aliás,
o primeiro-ministro, Vladímir Pútin, compreende o que Kúdrin é e, em minha
opinião, em matéria de economia e finanças, é Pútin que escuta Kúdrin e não
vice-versa.
Mikhail Kassiánov, ex-primeiro-ministro da Rússia
Aleksêi Kúdrin é a única pessoa no governo que serve de ligação entre as noções
ocidentais sobre a sensatez da política e aquilo que se passa dentro do país.
Por isso, ele é muito importante para Pútin, que não vai deixá-lo ir embora. Estou
seguro de que esse conflito acabará abafado e que Kúdrin deverá pedir desculpas
a Medvedev. O pedido de desculpas será feito de forma indireta, mas o sentido
será esse.
Konstantin von Eggert, colunista político
Aleksêi Kúdrin é daqueles que têm reconhecimento no governo como profissional sem quaisquer reservas. Acho que ele arranjaria um emprego, ou melhor dizendo arranjariam para ele um emprego, em qualquer circunstância. Gostaria de assinalar o seguinte: Aleksêi Kúdrin se posicionou como integrante da equipe de Vladímir Pútin. De fato, ele diz ao primeiro-ministro: “Vladímir Vladímirovich, diga, por favor, que me deixem quieto”. Aqui surge um grande problema para Pútin. Acho que ele não gosta de situações como essas, quando controvérsias são levadas a público. Normalmente, aqueles que fazem isso acabam sendo expulsos da equipe.
Alfred Koch, ex-vice-premier da Rússia
Acho que a reação negativa à demissão de Aleksêi Kúdrin não vai durar muito tempo. Em uma perspectiva de longo prazo, sua demissão não terá nenhum impacto sobre o clima de investimento na Rússia. Desde já, a tendência geral em si é negativa e só vai piorar com o tempo. O mercado vai digerir rapidamente a notícia da demissão de Kúdrin e, à luz da conjuntura geral adversa, isso será mais um episódio que vai pressionar o mercado mas não vai causar uma mudança importante de trajetória.
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