O ministro expulso do governo

Aleksêi Kúdrin Foto: Kommersant

Aleksêi Kúdrin Foto: Kommersant

O vice-premiê e ministro das Finanças da Rússia, Aleksêi Kúdrin, renunciou após bater de frente com o presidente russo, Dmítri Medvedev.

Medvedev o colocou em uma posição delicada após dizer no fim de semana que vai ficar fora das próximas eleições presidenciais em favor do atual premiê, Vladímir Pútin, e irá assumir o cargo de primeiro-ministro em seu lugar.

Em um ato incomum de provocação, Kúdrin, que há 11 anos exercia o cargo, desafiou publicamente Medvedev se recusando a trabalhar em um governo liderado por ele. 

Kúdrin disse que antes de tomar qualquer decisão sobre sua renúncia, iria se consultar com Pútin, mas Medvedev ficou evidentemente ofendido com a atitude do ministro das Finanças.

“Você pode consultar qualquer um, inclusive o primeiro-ministro, mas eu ainda sou o presidente e essas decisões devem ser tomadas por mim. Você precisa se decidir rapidamente e me dar uma resposta hoje”, disse Medvedev a Kúdrin ontem.

Em geral, os especialistas concordaram sobre as consequências econômicas da saída de Kúdrin, assim como em relação ao alto nível de profissionalismo do vice-premiê.

Ao mesmo tempo, muitos concordaram que tal fato era inevitável. “Medvedev está caminhando para as eleições e não pode ser visto como uma força política enfraquecida não só por causa de prestígio, mas porque tem que formar o futuro governo”, disse o cientista político Aleksêi Makárkin às agências de notícia.

O presidente do Instituto de Estratégia Nacional, Mikhail Rémizov, acrescentou: “De um ponto de vista ético e político, Medvedev está certo, afinal, Kúdrin não apenas estava trabalhando como parte da equipe de Pútin, mas também como membro do governo de Medvedev, que é atualmente chefe do Estado.

Se ele não está preparado para trabalhar na equipe de Medvedev, sua renúncia faz todo sentido”. O especialista político Dmítri Orlov está convencido de que “a decisão atual deve ser vista como uma resolução conjunta dos membros do governo”. Segundo ele, está claro que isso foi “acordado entre Medvedev e Pútin”.

Gazeta Russa

Medvedev afirmou que os comentários de Kúdrin foram inconvenientes e não são justificáveis, pois Kúdrin havia assinado sem nenhuma objeção todos os documentos financeiros do governo durante seu mandato.

Essa é a segunda vez que a autoridade de Medvedev foi contestada por uma figura política sênior da Rússia. No ano passado, o ex-prefeito de Moscou, Iúri Lujkov, repreendeu publicamente o presidente e foi imediatamente afastado do cargo.   

O atual conflito deixa evidente que Medvedev, que sempre se esforçou para afirmar sua autoridade, embora obviamente viva à sombra de Pútin, está enfraquecido como presidente, pois poucos analistas duvidam que Pútin irá ser eleito na votação de março de 2012, agora que declarou abertamente que deseja o cargo de chefe de Estado. 

Ao renunciar à sua candidatura sem resistência, Medvedev reduziu sua já questionável autoridade política e, portanto, deve parecer severo se ainda quiser merecer algum respeito dos demais. 

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A saída de Kúdrin do governo vai provavelmente preocupar os investidores, já que é dele o crédito por isolar a Rússia do pior colapso financeiro de 2008, graças a seus esforços de construir reservas de mais US$ 600 bi de moeda forte em um fundo de estabilização e utilizar as inesperadas receitas de petróleo para pagar grande parte da dívida externa da Rússia. A reputação de Kúdrin não apenas garantiu a imagem da Rússia como uma economia estável, mas ele também foi de longe a mais poderosa voz liberal na política russa.    

A especulação a respeito de quem poderia substituí-lo já tinha começado, mas ainda não existem nomes que estejam à altura de sua figura política e que possam corresponder à sua astúcia no âmbito das finanças.   

Mikhail Zadornov, que foi ministro das Finanças da Rússia entre 1997 e 1999, disse à agência de notícias Ria Nóvosti que a renúncia de Kúdrin era muito "pesarosa" e “inoportuna”.

“Kúdrin era uma das pessoas mais profissionais do governo”, disse. “O país vai ficar sem seu ministro das Finanças numa época em que o mundo está enfrentando uma crise [econômica], e meio ano antes das eleições presidenciais. É difícil que isso agrade qualquer um.”

“O que nós mais precisamos agora é ser capazes de tomar decisões rápidas e não convencionais, já que o agravamento da situação [econômica] global e da Rússia é inevitável”, acrescentou. “A renúncia de Kúdrin compromete esse mecanismo de tomada de decisões rápidas.”

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