Ilustração: Niyaz Karim
O sistema global de classificação de risco já não funciona mais. Durante anos, os rankings dissuadiram os países da excessiva tomada de empréstimos, os levaram a reduzir programas sociais e gastos públicos e encorajaram os Estados a aumentar os impostos.
O recente rebaixamento das notas de risco dos Estados Unidos pela agência Standard & Poor’s, entretanto, não surtiu o efeito esperado. Desde o anúncio do rebaixamento, em vez de diminuir, a demanda por títulos norte-americanos aumentou, enquanto a taxa de juros caiu.
O maior beneficiário dessa última mudança nas regras do jogo foram os próprios Estados Unidos. Está claro agora que o Departamento do Tesouro dos EUA pode continuar pedindo quantos empréstimos quiser e imprimindo dinheiro, já que nem a classificação de risco, nem a legislação ou qualquer receio de prejuízos dos credores impedirão que os players dos mercados globais continuem comprando dólares e títulos americanos.
Em primeiro lugar, eles dependem do dólar para estimar valores e pagamentos. Além disso, os títulos do Tesouro norte-americano representam dinheiro para as instituições financeiras e para os principais protagonistas do mercado – são líquidos, denominados em dólares e proporcionam juros.
Concordo com a simples teoria do investidor e industrialista Warren Buffet de que a classificação dos EUA ainda é “AAA” e não há motivo algum para alterá-la, já que os títulos do Tesouro dos Estado Unidos devem ser pagos em dólares americanos, e estes, por sua vez, podem ser impressos em qualquer quantidade pelo Federal Reserve, o banco central do país.
Existe uma incerteza quanto ao custo desses dólares, mas podemos prever o que está por vir uma vez que o valor da moeda está mudando rapidamente. O processo iniciado pelos EUA levará China, Europa, Rússia e outros Estados a uma corrida de desvalorização monetária, caso eles queiram manter a competitividade de suas economias.
Essa notícia é, ao mesmo tempo, boa e ruim. Boa porque o atual modelo financeiro e econômico pode sobreviver por um longo período sem grandes reviravoltas. Ruim porque você e eu teremos que pagar por essa estagnação. Ao desvalorizar sua moeda, os Estados gradualmente diminuem os rendimentos reais (obtidos após desconto da inflação), prejudicando todos – principalmente os mais pobres.
Pode ser válida qualquer ideia para mudar a infraestrutura do mundo das finanças – tal como a criação de um “banco central dos bancos centrais” ou a substituição do dólar como moeda universal pelo ouro ou por um conjunto de cinco moedas principais. Mas todas essas propostas são utópicas, não só devido à resistência da elite norte-americana, mas também pelas posições desiguais de outros países importantes.
Recentemente, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que tempos difíceis da economia mundial estão por vir. “O mundo está passando por uma mudança do sistema financeiro internacional, com países como a China vindo à tona”, afirmou.
Embora a China não tenha tanta importância isoladamente, ela e os Estados Unidos são dois lados da mesma moeda: ou ambos afundarão ou sairão juntos da crise. E a China ainda tem uma margem de segurança: está, finalmente, levantando restrições à titularidade de suas dívidas para investidores estrangeiros por meio de Hong Kong e parece afrouxar a ligação entre o yuan e o dólar americano. Isso pode oferecer aos players mundiais uma medida de valor alternativa e um instrumento de poupança antes do fim deste ano.
Mas o mais importante é que os economistas e conselheiros de todos os países olhem para as causas da turbulência econômica no mundo todo.
O conceito moderno de desenvolvimento econômico e de progresso científico e tecnológico se esgotou. Não há mais necessidade de criar nada novo, e quanto mais se consome determinado produto, menos importante ele se torna e mais barato fica.
Enquanto não formos capazes de desenvolver um novo modelo de desenvolvimento, não haverá crescimento legítimo. O surgimento de novas ideias e a criação de uma nova economia são possíveis em algumas áreas, como a medicina, a ecologia e a exploração espacial. Entretanto, é preciso fazer com que elas se tornem interessantes e, assim, estimulem o envolvimento das pessoas.
O economista Mikhail Kházin diz que a situação atual “condena as pessoas mais ativas e impetuosas a um cenário bastante desolador. Cada vez mais, a mente das pessoas é infiltrada pela ideia de que não existe espaço para elas nessa realidade”.
Para o mundo continuar se desenvolvendo economicamente, é necessário mudar a sociedade, criando novos valores e motivações que, por si só, forneçam a base para o crescimento econômico.
Stanislav Machágin é vice-diretor geral da consultoria de investimentos Ursa-Capital.
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