Foto: RIA Nóvosti
Rússia e o Brasil nunca haviam se enfrentado na disputa da Copa Davis, o principal campeonato mundial de tênis por equipes. Finalmente, isso aconteceu em uma partida mata-mata. O Brasil havia vencido o torneio de zona e sonhava em entrar no Grupo Mundial da Copa Davis, constituído pelos 16 melhores times do mundo, enquanto a Rússia estava prestes a ser expulsa do grupo e precisava provar seu direito de ficar na liga superior do tênis mundial por equipes.
Como o tênis não é futebol, o Brasil não era necessariamente o favorito. Por sorteio, ficou decidido que o jogo deveria ser realizado na Rússia, que escolheu a cidade de Kazan, na região do Volga, para a realização da disputa. Kazan é uma cidade emblemática em termos de esportes: possui um pavilhão de esportes moderno e uma academia de tênis, devendo sediar em 2013 o torneio Universíadas.
Nesta temporada, os pupilos do selecionador russo Chamil Tarpischev, vencedores das edições de 2002 e 2006 da Copa Davis, perderam, na primeira rodada, um jogo fora de casa para a Suécia, ao jogar sem Nikolái Davidénko e Mikhail Iújni. A Rússia convocou para a partida contra o Brasil Mikhail Iújni, o melhor tenista russo e 15º colocado no ranking mundial de tênis, assim como Dmítri Tursunov (43º colocado), Ígor Kunítsin (62º colocado) e Ígor Andreev (78º colocado).
O Brasil obteve o direito de
disputar uma vaga no grupo mundial após ter conseguido uma expressiva vitória
sobre o Uruguai, por 5 a
0, sem perder um só set para os uruguaios. O Brasil colocou contra os russos o melhor
jogador do país e 35º colocado no ranking mundial, Thomaz Bellucci, bem como Ricardo
Melo (113º colocado), Bruno Soares (22º lugar no ranking de duplas) e Marcelo
Melo (31º colocado no ranking de duplas) e o capitão João Zwetsch.
De acordo com o sorteio, os primeiros a entrar na quadra deveriam ser Mikhail Iujni, líder da seleção russa, e Ricardo Melo, 113º colocado no ranking mundial. Em seguida, deveriam duelar Ígor Andreev (78º colocado no ranking da Associação de Tenistas Profissionais) e o melhor tenista brasileiro, Thomas Bellucci (35º lugar no ranking mundial). No sábado, deveria ser realizada uma partida de duplas. A Rússia convocou para a disputa de duplas Dmítri Tursunov e Ígor Kunítsin e o Brasil, Bruno Soares e Marcelo Melo.
A torcida russa ficou preocupada com a decisão de Tarpischev de colocar em segundo lugar Andreev e não Tursunov que é muito bom em quadras velozes ou Kunítsin que havia jogado bem no mais recente Aberto dos EUA.
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“A princípio, não há nenhuma diferença. Fizemos isso por razões táticas”, disse o capitão da equipe russa, entrevistado pela “Gazeta Russa”, não excluindo substituições no segundo e no terceiro dia da prova. “Idealmente, eu gostaria que todos os integrantes da equipe nacional tivessem a oportunidade de jogar”, acrescentou Tarpischev.
Perguntamos, brincando, ao capitão dos brasileiros: “Vocês têm quatro tenistas e nós temos cinco: quatro jogadores mais Marat Safin que ajuda a preparar a equipe. O que acha de chamar o famoso Gustavo Kuerten?”.
O capitão brasileiro achou boa essa idéia, dizendo, já sério, que Kuerten apoia a equipe e gostaria muito de ficar na Rússia com seus compatriotas, mas tem muitos compromissos no Brasil.
Os jogadores brasileiros disseram que gostam de Kazan, estão admirados com a receptividade dos habitantes locais. Os jogadores já conheceram as principais atrações turísticas da cidade e ficaram impressionados com a gastronomia local.
No primeiro dia da disputa, os líderes
das duas equipes fizeram seu trabalho: Mikhail Iújni venceu por três sets a
zero Ricardo Melo enquanto Thomaz Bellucci, devolveu o mesmo placar ao russo Ígor
Andreev.
Andreev não se queixou da quadra nem de outros impedimentos, mas parecia muito decepcionado por não ter podido ganhar um ponto para sua equipe. “Faz dois anos que não consigo vencer jogos da Copa Davis”, lamentou.
No sábado, a dupla russa Ígor Kunítsin e Dmítri Tursúnov foi batida em um duelo com os brasileiros Marcelo Melo e Bruno Soares, por três sets a zero (4:6; 5:7; 2:6).
O estádio da Academia de Tênis de Kazan, com capacidade para 3200 espetadores, teve pouco mais da metade dos lugares lotados. Os brasileiros compensaram a falta de seus compatriotas nas arquibancadas com um apoio ardente a seus jogadores: sempre que Marcelo e Bruno ganhavam um ponto eles se levantavam
gritando “Vamos!”.
Em uma entrevista coletiva após o jogo, os russos pareceram decepcionados, mas confiantes no futuro. Dmítri Tursúnov disse: “Não aproveitamos as oportunidades que tivemos”. “Eles conseguiram concretizar suas chances e nós não. A diferença no primeiro e segundo sets era de uma ou duas bolas, no máximo. A princípio, nós e não eles poderíamos ter vencido por dois a um, mas não conseguimos”, observou Ígor Kunítsin.
Depois da coletiva, pedimos a Shamil Tarpischev que comentasse o duelo das duplas. “Nossos jogadores perderam para os brasileiros em qualidade do jogo. Fomos piores na devolução da bola recebida. Dmítri não tem experiência suficiente”, disse o capitão da equipe russa. Interrogado sobre a equipe brasileira, Tarpischev disse: “Essa dupla é boa, eles venceram em Cincinnati os irmãos norte-americanos Bryan. Mas no último jogo, não tanto eles jogaram bem quanto nós jogamos mal”.
O terceiro e último dia começou com um duelo entre os melhores jogadores das duas equipes, Mikhail Iujni e Thomaz Bellucci . Belucci representa a chamada “onda nova” e está em ascensão, não sendo nada fácil vencê-lo. Dos russos, só Iujni pode, talvez, enfrentar em condições de igualdade o brasileiro.
O jogo se desenrolava com uma vantagem variável no placar.
E o que estavam fazendo nesse momento os outros jogadores russos? Dmítri Tursunov e Shalva Janáschia, da seleção juvenil, convocado para o time para exercer as funções de parceiro de sparring, arranjaram panelas e conchas e utilizaram esses utensílios de cozinha como tambores de torcida.
O duelo durou cerca de cinco horas. No quinto set, Mikhail Iujn ficou com uma vantagem no placar de 14 a 12 (2:6; 6:3; 5:7; 6:4; 14:12), empatando em 2 a2 o resultado geral. Às vesperas, os russos haviam perdido uma partida de duplas.
Como é tradição, o primeiro a ser chamado para uma coletiva foi o perdedor, Thomaz Belucci, que lamentou não ter conseguido aproveitar suas oportunidades devido ao cansaço. Observou também que os torcedores o trataram com respeito e que não podia dizer o mesmo sobre os árbitros. Segundo suas palavras, ele levara um dia inteiro pensando em como vencer, mas não conseguiu. Não quis sequer falar de seu esporte favorito, o futebol.
Segundo ele, o final da partida tinha pouco a ver com o tênis porque os dois jogadores estavam muito cansados, esperando simplesmente que o outro cometesse um erro.
Mikhail Iújni entrou na sala ovacionado pelos jornalistas. Um jornalista brasileiro perguntou a Iújni se estava cansado e como se sentia.
“Estou cansado, sim, mas me sinto melhor do que Thomaz” – respondeu Mikhail.
Enquanto Mikhail Iújni respondia às perguntas, o russo Dmítri Tursunov duelava com Marcelo Melo. Dmítri concluiu a obra iniciada por Iújni, vencendo Marcelo Melo por três sets a um (6:1, 7:6, 2:6, 6:3). As arquibancadas ficaram felizes, e um dos torcedores inexperientes perguntou surpreso sobre quando iriam trazer a famosa Saladeira conhecida como Copa Davis, não sabendo que as principais batalhas ainda estavam por vir.
O capitão do time brasileiro, João Zwetsch, felicitou os russos pela vitória e disse que a Rússia tinha uma equipe muito forte. Ele observou que os brasileiros fizeram tudo o que estava a seu alcance, mas não conseguiram vencer os russos. Ainda de acordo com o capitão, os brasileiros se encantaram com Kazan e ficaram felizes por ter visitado essa cidade. Ao comentar o jogo, o capitão brasileiro acrescentou que não ficou surpreso ao saber que Tarpischev pôs no campo Tursunov na disputa final, dizendo ainda que os brasileiros estavam preparados para qualquer substituição.
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